Os protagonistas do debate

Os presentes

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António Costa

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Por força do regulamento, tem de responder a todos os tiros da oposição depois de fazer as declarações. Mas Costa foi Costa a atirar para todos os lados, com críticas fortes à direita, e com juras à esquerda. O primeiro-ministro tem usado os debates para enviar umas farpas sempre que pode, no seu estilo habitual. Lembrou uma “canção portuguesa” para dizer ao líder do PSD que “o tempo não volta para trás” e ainda acusou os sociais-democratas de “mesquinhez partidária”. A Passos Coelho lembrou ainda que a comunicação da Comissão Europeia até significa que Portugal está “a virar a página”, por haver a previsão de sair do procedimento por défice excessivo este ano. À esquerda prometeu que vai cumprir tudo “sem plano B”, nem “medidas adicionais”. <_u13a_p>

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Daniel Rocha

Passos Coelho<_u13a_p>

Desta vez foi o líder do partido a fazer as intervenções do partido. Passos falou por duas vezes, mas só na segunda arrancou aplausos da sua própria bancada. Na primeira intervenção começou por, sem ironia ou com ironia disfarçada, dizer que Costa se tem mantido “coerente” e que espera que a maioria “seja duradoura”. Elogios ao Governo? Não. Passos levava no bolso números – e o PSD acabaria por fazer chegar aos jornalistas folhas com dados que comprovavam a tese de degradação da economia - para chegar à conclusão que nada do que considera bom está a ser feito. Conclusão: o país está “a andar para trás”. Quando falou pela segunda vez já tinha ouvido uma resposta de Costa, não tinha gostado e aí falou da ameaça de sanções a Portugal, defendeu o esforço do seu Governo, dizendo que o défice de 2015 foi, descontando as operações no sistema financeiro, de 2,8%. Mas também foi surpreendente que tenha dito que não faz sentido que eventuais sanções sejam aplicadas sobre este ano.   <_u13a_p>

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Daniel Rocha

Os ausentes presentes

Maria Luís Albuquerque

Estava sentada na última fila, não falou, mas isso não significa que não tenha sido protagonista no debate. Por mais do que uma vez ouviu-se o nome da ex-ministra das Finanças pela maioria de esquerda do Parlamento, sobretudo quando lembraram a possibilidade de sanções ao país, e ela abanava a cabeça com sorriso irónico. Não falou ontem, mas falou no fim-de-semana, quando disse que se fosse ministra, não haveria sanções. Foram palavras que souberam a mel para as críticas do próprio primeiro-ministro que se dirigiu a Passos Coelho dizendo que foi Maria Luís Albuquerque “quem quebrou o consenso” anti-sanções. O discurso estava alinhado com o partido. O líder parlamentar do PS, Carlos César fez uma das intervenções mais duras e irónicas da tarde. "Após ouvir há pouco o senhor deputado Pedro Passos Coelho e há dias o já famoso exercício de ilimitada modéstia de Maria Luís Albuquerque, não me levem a mal mas recomendo-lhes amigavelmente a sabedoria de um provérbio indiano: Quando falarem, cuidem para que as vossas palavras sejam melhores do que o silêncio. Que é como quem diz, mais valia que estivessem calados", disse.

Comissão Europeia

É difícil tirar o protagonismo a quem, por coincidência ou não, o alcançou. À hora marcada para o debate que encerra o ano parlamentar, a Comissão Europeia fez saber que tinha decidido avisar Portugal do não cumprimento do défice do ano passado, deixando a decisão de sanções para o Ecofin. Estava criado o cocktail para que não houvesse outro assunto no debate. Não é que não tenha havido, mas mesmo quando um interveniente, como foi o caso de Assunção Cristas, disse que não iria falar de sanções… acabou por falar. A validação das contas do país, os planos da troika, a discussão em torno das sanções acabaram por fazer da Comissão Europeia o fantasma a pairar sobre o debate. 

Esquerda unida, mas com avisos

Catarina Martins

Não se pode dizer que o estado da nação à esquerda esteja em desordem. Pelo menos para já, os partidos alinham numa sintonia que só não é perfeita porque a visão sobre a Europa não está a ajudar. “Está a correr tudo bem? Claro que não. A estratégia do BE seria diferente do Governo”, voltou a dizer Catarina Martins a tentar marcar a diferença para os socialistas. E deixou mais um recado quando falou da previsível “difícil negociação” do Orçamento para 2017. E para já, com a ameaça de sanções à espreita, a bloquista voltou a defender que caso sejam aplicadas, deve haver um referendo. Mas, mais do que isso, instou Costa a garantir que não se tinha comprometido com medidas de austeridade para fazer face às sanções.  Costa disse que não, mas Catarina já tinha defendido caminho mais radical, com reestruturação da dívida pública porque “ceder à pressão europeia é falhar o mandato desta maioria”. Catarina enche o palco à esquerda, deixa avisos e críticas, respostas e desafios, mas no conteúdo geral, acabou por defender a posição do Governo até porque à direita, o alvo é definido: “Parece que neste campeonato, a direita está a torcer pela Alemanha”.<_u13a_p>

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Daniel Rocha

Jerónimo de Sousa<_u13a_p>

Foi o alvo preferido de Aguiar-Branco, mas não lhe podia responder. Jerónimo de Sousa foi ao debate sobretudo para defender que o país tem de se soltar “das amarras” europeias. Não é a primeira vez que os comunistas o propõem, e o palco do Parlamento voltou ontem a servir para que Jerónimo defendesse que deve realizar-se rapidamente uma cimeira para rever os tratados europeus com a suspensão imediata do Tratado Orçamental. Falou no seu estilo habitual contra “os donos da União Europeia” , mas não criou dificuldades ao primeiro-ministro, que lhe respondeu que o Governo tem de manter o seu papel de se bater pela integração europeia.

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Daniel Rocha

Direita com contas<_u13a_p>

Assunção Cristas <_u13a_p>

A líder do CDS repetiu um número que já tinha usado em debates quinzenais: depois de folhas, levou para o debate uns cartazes com alguns dados da economia para defender que o Governo está a enganar nas contas da execução orçamental. "Cheira a mascarar as contas", disse sobre os atrasos nos reembolsos de IVA e IRS. O formato do debate não é favorável a que brilhe, com intervenções definidas e possibilidade de fazer uma pergunta e intervir, mas não mais do que isso. Assunção Cristas falou apenas uma vez e se começou por dizer que não falava de sanções, acabou por falar indirectamente, mas só para acusar Costa de não ter “mexido uma palha” para que o défice do ano passado ficasse abaixo de 3%.

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Daniel Rocha

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Aguiar-Branco <_u13a_p>

“Ser comunista é estar sempre atento a todas as grandes desigualdades, injustiças e discriminações sociais e lutar e organizar a luta para que sejam corrigidas e para lhes por termo”. A frase é de Álvaro Cunhal. Quem a leu foi José Pedro Aguiar-Branco. O ex-ministro subiu à tribuna para fazer um dos ataques mais cerrados à esquerda parlamentar, usando um dos seus. Concentrou-se sobretudo no PCP e acabou por ser lembrado neste debate por causa das suas palavras. Quase no fim, deixou a sua visão de futuro, falando do “previsível novo afundamento do país”, isto depois de Passos Coelho ter dito que não confia que o Governo cumpra as metas a que se propôs.

Telmo Correia<_u13a_p>

Tal como Aguiar-Branco, Telmo Correia subiu à tribuna para apontar baterias à esquerda. “A geringonça oblige”, disse. Porquê? Tudo porque, lembrou o deputado, agora os dois partidos da esquerda fecham os olhos a algumas coisas, como a Caixa Geral de Depósitos. E por falar em CGD, António Costa acabou por não responder ao deputado do BE, Moisés Ferreira, sobre os valores em causa. Mesmo que a geringonça a isso obrigue. 

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