Falta de tempo pressiona mais de metade dos trabalhadores portugueses

Inquérito do INE conclui que 55,5% da população empregada sente pressão "grande ou moderada" para terminar tarefas num tempo que considera insuficiente.

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Trabalhadores do sector financeiro e mulheres sentem mais pressão. Rita França

Mais de metade da população empregada em Portugal trabalha sob pressão, sem tempo para tomar decisões ou terminar as tarefas que lhe estão atribuídas dentro do horário estabelecido, uma percepção mais acentuada nas mulheres e nos trabalhadores com o ensino superior. A conclusão resulta de um inquérito conduzido pelo Instituto Nacional e Estatística (INE) sobre a “Organização do trabalho e do tempo de trabalho” durante o segundo trimestre de 2015 e que tem como base 4,581 milhões empregados.

O INE dá conta de 55,5% pessoas que afirmavam sentir-se pressionadas de forma “grande ou moderada” para tomar decisões ou realizar uma tarefa num prazo que consideravam ser insuficiente.

Embora as diferenças associadas ao género sejam pouco acentuadas, este sentimento manifesta-se mais nas mulheres (56%) do que nos homens (55,1%). É também mais frequente entre os trabalhadores que terminaram o ensino superior (75,9%) do que entre os que completaram o ensino básico (42,9%), “muito possivelmente devido às funções profissionais exercidas por cada grupo”, explica o INE.

“Com efeito, observa-se também uma associação positiva entre a frequência com que é indicada a existência de pressão grande ou moderada e o grau de responsabilidade e/ou exigência da profissão”, acrescenta o instituto, dando como exemplo os especialistas das actividades intelectuais e científicas, dos técnicos e profissionais de nível intermédio ou dos representantes do poder legislativo, dirigentes e directores.

Olhando para os sectores onde a pressão do tempo é sentida com maior intensidade, o INE destaca as actividades financeiras e de seguros (84,4%), de consultoria, científicas, técnicas e similares (78%) e de informação e de comunicação (76,2%).

Como contraponto, 33,8% das pessoas garantem sentir “pouco ou nenhuma pressão” no trabalho.

Ainda na parte relativa à organização do trabalho, 63,1% da população empregada garante ter autonomia para escolher o tipo e a ordem das tarefas que desempenha, mas a liberdade não vai muito além disso.

 

Pouca autonomia para definir horário

O INE conclui ainda que, de um modo geral, há pouca autonomia por parte da população empregada portuguesa na organização do seu tempo de trabalho. Dois terços (66,8%) garantem não ter qualquer influência no modo como o seu horário diário é definido, afirmando que ele é determinado sobretudo pela empresa, pelos clientes ou por disposições legais.

Olhando com mais pormenor, os trabalhadores jovens, por conta de outrem ou com contrato a termo são os que dispõe de menor margem de manobra para organizarem o seu dia-a-dia na empresa. No pólo oposto estão os políticos, dirigentes e gestores que gozam de mais liberdade (com ou sem restrições) na decisão sobre os tempos de trabalho.

Apesar disso, é relativamente fácil aos trabalhadores ausentarem-se do seu local de trabalho por curtos períodos, com 62,9% dos empregados a dizerem que é “fácil ou muito fácil” saírem por uma ou duas horas. Esta proporção desce para 39,9% quando se trata da possibilidade de tirar um ou dois dias de férias planeados com pouca antecedência. Tanto num caso como no outro, essa flexibilidade é percebida de forma mais expressiva pelos homens do que pelas mulheres.

A maioria dos trabalhadores (68,7%) garante que não precisa de alterar o seu horário diário com frequência, fá-lo apenas pontualmente (menos de uma vez por mês) devido a exigências do trabalho, dos clientes ou da hierarquia.

Mas em 14,7% dos casos o horário é alterado todas as semanas e em 6,4% muda todos os meses. O INE diz que há uma relação directa entre o nível de escolaridade e a alteração frequente do horário.

O inquérito revela ainda que mais de metade da população empregada (56,6%) refere não ter tido contactos profissionais fora do horário habitual durante os últimos dois meses. Esta situação é reportada mais frequentemente por mulheres (62,6%) do que por homens (50,8%).

Apesar de mais de metade dos trabalhadores registar as suas horas de trabalho (sobretudo de forma electrónica), quase um terço (31%) não faz qualquer registo.

Finalmente, metade dos trabalhadores (51,3%) demoram em média 15 minutos a chegar ao trabalho, embora os tempos de deslocação sejam maiores na região de Lisboa e na Madeira. Dois terços da população empregada afirmam nunca trabalhar em locais diferentes dos habituais e 15,3% mudam pelo menos uma vez por semana. A estabilidade do local de trabalho é menor entre os empregados com o ensino superior.

Este estudo é a terceira edição de um inquérito ao nível europeu (embora este ano apenas alguns países tenham decidido realizá-lo) sobre o tempo de trabalho. O último foi feito em 2004, mas os dados não são comparáveis, porque o âmbito foi diferente.

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