Alfama quer debater formas que evitem que deixe de ser Alfama

O fluxo turístico tem aumentado nos bairros da capital e provocado a diminuição de residentes. A Associação do Património e População de Alfama organiza um debate para pensar a situação.

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Enric Vives-Rubio

“Um dia destes, os turistas só se vêem a eles próprios.” As palavras são de Maria de Lurdes Pinheiro, presidente da APPA – Associação do Património e População de Alfama. O boom turístico tem levado ao abandono dos moradores do bairro, que se tem vindo a descaracterizar, um assunto que vai estar em debate neste sábado. Alfama: Turismo, tradição e futuro vai ter lugar no Museu do Fado, a partir das 15h30. 

“Há gente no bairro que não tem sido bem tratada”, afirma Maria de Lurdes Pinheiro. Com a lei das rendas e o contrato de cinco anos a terminar, há muita gente que tem sido “despejada e é tudo para o turismo”. Ao PÚBLICO, a presidente da APPA fala de um “dinheiro mais fácil” para os senhorios com os alojamentos turísticos. “As rendas em Alfama estão cada vez maiores”, diz, referindo que os preços dos alojamentos em Lisboa estão acima dos 700, 800 e até 1000 euros.

Em tempos presidente da Junta de Freguesia de Santo Estêvão e habituada a ouvir os residentes, revela que os moradores se queixam que “já não se fala em português” no bairro histórico. “Ainda outro dia, uma velhota me dizia: ‘No prédio, só vivo eu e a minha filha, o resto são estrangeiros’.”

Contudo, a presidente da APPA realça que não é contra o turismo no bairro, até porque “o que vai safando a economia é o turismo”. Há um meio-termo que tem de ser criado entre os moradores e os interesses turísticos. “Até porque quem visita o bairro gosta de ver as suas gentes”, destaca. É por isso que neste sábado a associação organiza um debate que pretende ser um “chamamento à população” e uma discussão com “pessoas que escrevem e se preocupam com a temática”.

Com José Luís Casanova, sociólogo, Adília Rivotti e Laura Almodovar, antropólogas, e Clementino Amaro, arqueólogo, o objectivo é fazer um alerta, reunir sugestões e transmitir ao poder político as conclusões, em nome da “preservação da população e do bairro histórico”.

Maria Lurdes Pinheiro salienta que o problema não é exclusivo de Alfama. O fenómeno tem acontecido noutras cidades, mas, em nome do bairro, a associação tem de “levantar a voz”, remata a presidente da APPA. 

Texto editado por Ana Fernandes

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