Bonitas mentiras transcendentes

John Banville, irlandês que procurou na arte refúgio para o trauma de uma educação católica, continua a perseguir a perfeição na literatura, sabendo estar condenado à falha. Acaba de publicar por cá A Guitarra Azul, um exercício de linguagem poética com humor negro.

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John Banville (Wexford, 1945) é autor de 16 romances, 13 enquanto Banville e três como Benjamin Black, nome com assina romances de acção

O escritor confessa que um dia roubou um livro, mas a culpa já está a ser expiada. John Banville, um dos mais prestigiados autores mundiais, irlandês que procurou na arte refúgio para o trauma de uma educação católica, vencedor do Man Booker Prize em 2005, com O Mar, continua a perseguir a perfeição na literatura, sabendo estar condenado à falha. Acaba de publicar por cá A Guitarra Azul, um exercício de linguagem poética com humor negro.  

Um poema do norte-americano Wallace Stevens deu-lhe o título para um livro acerca do modo como a arte transfigura a percepção que temos do mundo, narrado por um pintor falhado que também falhou na vida. “As coisas como elas são / são mudadas na guitarra azul”, lê-se na epígrafe de A Guitarra Azul (Porto Editora), romance sobre o processo de criação como inevitavelmente condenado à falha, que tem como protagonista Oliver Otway Orme, pintor, ladrão, um “apanhador de imponderáveis ninharias” que se compara a um deus pagão que expia culpas, sendo a do furto a que menos lhe pesa.

O desafio que se põe ao leitor deste livro é o de conseguir suportar o solilóquio egoísta e autocentrado de Oliver, verdadeiro núcleo de uma narrativa com enredo simples: um homem, Oliver, sente-se atraído pela mulher do melhor amigo, inicia um romance clandestino com ela, traindo a mulher, Gloria, que parece ter-se fechado aos sentimentos depois de ter perdido a filha de três anos do casal. Entre memórias, Oliver, que rouba objectos, que rouba paisagens para os seus quadros, rouba também pessoas às suas vidas enquanto foge da dor para o lugar de infância, tentando reflectir aí acerca da razão pela qual deixou de conseguir pintar. “Estou liquidado, sou um monte de pesar, remorso e culpa”, ouvimos-lhe o pensamento sem quase nunca sentir qualquer tipo de simpatia pela sua falha. Oliver é um verdadeiro anti-herói, trabalhado para assim ser por John Banville (Wexford, 1945). Autor de 16 romances, 13 enquanto Banville e três como Benjamin Black, nome com assina romances de acção, fez deste livro um meticuloso exercício de linguagem. Isso, e a reflexão sobre o tal mistério que está no início do acto criativo, é o grande mérito de A Guitarra Azul. Nenhuma das quatro personagens à volta das quais o escasso enredo vive tem uma qualidade excepcional, e é essa aparente banalidade que serve ao autor para sublinhar a falha. Nada aqui se sobrepõe a esse discurso sobre ela e é essa percepção – a de que estamos sempre perante um exercício de linguagem, mesmo que a alto nível – a maior falha deste livro com que John Banville, numa conversa em Lisboa, diz ter fechado um ciclo. A partir daqui fala sobre arte e quase tudo, com um copo de vinho branco gelado.

Nos seus livros cada palavra é calculada, cada frase estudada para ter ritmo, melodia, ser perfeita no inglês. Como lida depois com a ideia de tradução?
Não penso nisso. No meu livro Os Infinitos (Asa, 2011), o narrador é um deus, há um momento em que ele está a falar de como se sente compelido, por parte dos humanos, a fazer certas coisas. E ele diz: "Fine gods, we are, that we must muster to a mortal must". Lembro de estar de volta dessa frase e de pensar o que um tradutor faria com ela. Uma vez, em Espanha, contei isso a um dos meus tradutores e tive como resposta: "Oh, não reparei nessa frase”. Pensei: meu Deus..." [na edição portuguesa, de Tânia Ganho, a frase ficou: “Lindos deuses que somos, se temos de nos vergar ao imperativo humano."] Lembra-se de quando estávamos a aprender a ler, muito trabalho e esforço a tentar apanhar o sentido e a saltar palavras? Acho que muitos tradutores fazem isso. Olham para a frase no conjunto, apanhando o sentido, e às vezes saltam.

"Pintar é como roubar", diz Oliver Orme. E escrever?
Também é. Os artistas retiram ao mundo. Absorvemos o mundo, somos ladrões e também canibais. Somos pessoas rudes, mas damos muito em troca. Roubamos as coisas e transformamo-las. Oliver disse de si mesmo que o ladrão dá nova vida a coisas já moribundas. É também o que o artista faz, apropria-se de coisas que parecem vulgares e diz, “olha que estranho que isto é!” A vulgaridade ou a banalidade não existem. Quando se falava de gente vulgar James Joyce costumava dizer que nunca tinha conhecido um homem vulgar em toda a sua vida. Eu também não. Cada ser humano é infinitamente estranho e infinitamente complexo e surpreende-me sempre. E a vida humana é surpreendente. É só porque estamos habituados às coisas que deixamos de ver como é bizarro o mundo. O artista repara e devolve-nos as coisas que estão nos lugares comuns e pede-nos que lhes prestemos atenção.

O protagonista é um homem falhado e um artista falhado. Ele está consciente dessa falha e toda a narrativa é construída com base nesse sentimento. Oliver foi o princípio deste romance ou, como costuma dizer, foi a frase?
Quem me dera saber responder, mas nunca sei como começa um livro. Parece sempre estar a caminho. Quando olho para um manuscrito, vejo o dia em que comecei, a primeira frase, mas o livro começou noutro lugar qualquer. Pode ter sido em sonhos, num delírio, num estado de embriaguez. É aí que um livro começa. 

Oliver é feito à medida desta narrativa sobre a derrota pessoal, ao procurar a linguagem para fazer uma auto-análise.
Sim, Oliver é o livro. Mas tudo isso é lúdico. Nenhum pintor escreveria aquele tipo de prosa. É irreal. Mas tudo isto é sempre meio irreal. Estou sempre a dizer que quanto mais velho estou mais tudo isto me parece uma espécie de sonho controlado.

Quando escreve-se sente-se próximo do sonho?
É um nível mais profundo. Sento-me e abandono-me a um ponto em que deixo de existir. É mais do que esquecer-me de mim; é deixar de existir. A televisão irlandesa fez uma vez um documentário sobre mim e começa com o entrevistador a perguntar "Quem é John Banville? Respondi que o John Banville não existe. O John Banville só existe à minha secretária; quando me levanto a pessoa que escreveu o livro deixa de existir. Não sei quem ele é. Sei que não sou eu. 

Então podemos pôr ao mesmo nível, lado a lado, John Banville e Benjamin Black?
Sim. John Banville não é mais real do que Benjamin Black. Quando se está concentrado àquele nível, o tempo muda. Um dia eu estava a escrever e a minha mulher disse-me que ia às compras. Depois ela voltou e disse outra coisa. Perguntei-lhe se não ia às compras e ela respondeu que já tinha ido. Não me apercebi do tempo. É um sítio muito estranho para se estar, é um lugar inexistente e eu só existo nesse lugar.

Mas o seu trabalho com a linguagem é o de alguém muito desperto, muito consciente.
É verdade, mas a pessoa não sou eu. Uma vez alguém me mostrou um papel de exame com um pedaço de prosa e perguntou o que eu achava. Respondi que me era familiar, já o tinha lido algures. Eu, afinal, tinha-o escrito.

Há sempre essa estranheza quando olha para o que escreve?
Sim. Não reconheço. Não é bem verdade. Reconheço mas não reconheço como meu. Há uma história maravilhosa com a Marilyn Monroe a caminhar pela Quinta Avenida com um amigo. Ela vestia uma roupa normal e estavam a falar de fama, de ser uma celebridade. Então perguntou-lhe se queria que ela fosse uma das mulheres que estavam a passar. A frase dela foi: “Queres que eu seja ela?” Tirou o lenço que levava ao pescoço e em dez segundos confundiu-se com as pessoas. Não é linda a frase: “queres que eu seja ela?” Pode-se escrever um romance inteiro a partir dessa frase. Como o Nietzsche disse, um homem entre a multidão deve ser um actor capaz de se personificar, ou interpretar.

Nietzsche é uma grande referência...
Nietzsche é o grande filósofo poeta.

Tem dito que a escrita dele é como poesia…
Sim, mesmo quando traduzida para inglês. Ele é o autor de uma das minhas frases preferidas: You will never get the crowd to cry hosanna until you ride into town on na ass [Não se leva a multidão a gritar hosana antes de se entrar numa cidade montado num asno]. Eu antes sabia a frase em alemão, já não sei. Mas tem o mesmo ritmo.

Fala em ritmo e na música das frases. Costuma ler alto o que escreve para testar?
Sim, e é como se houvesse uma voz a declamar, uma espécie de Yeats. Não sei se alguma vez o Yeats leu a sua poesia alto, mas imagino [imita um murmúrio com cadência firme]. Faço isso. Mas, como na escrita, é como se a voz não me pertencesse e houvesse ali alguém. É muito misterioso.

Oliver pensa que perdeu isso, que deixou de haver mistério.
Sim. Não tinha pensado nisso, mas é absolutamente verdade. O Oliver está sempre muito consciente de si, nunca é o outro, o artista. É por isso que ele fala tanto.

E ele fala na primeira pessoa. E essa é quase sempre a sua opção enquanto autor, diz que lhe é difícil escrever na terceira pessoa. Porquê?
Porque não sei como olhar para o mundo dessa forma. Só sei o que vê a criatura que está aqui, com estes olhos. Não consigo ver o mundo a partir da sua perspectiva nem da de outra pessoa e então parece-me que a única forma autêntica de escrever é fazê-lo na primeira pessoa. Por outro lado, estou a escrever a parte dois de Retrato de Uma senhora, de Henry James, que é na terceira pessoa. O estranho é que há uma nova pessoa a escrever este livro. Não sou eu, nem o John Banville que escreve, não é também o Henry James, é outra pessoa. Uso palavras e construo frases como se fosse outra pessoa. Sei que tudo isto soa estranho. Não sou místico, não sou religioso, falo de uma perspectiva cerebral, de consciência, da mente… 

O que o levou a escrever a ‘parte dois’ de Retrato de Uma Senhora?
Senti que A Guitarra Azul era o fim de um ciclo e precisei de uma transição. Sempre achei que Retrato de Uma Senhora era só metade de um livro a que faltava a outra metade. James pensou fazê-lo, mas desistiu. Está a dar muito trabalho mas estou a divertir-me. Muitas vezes penso que seja lá quem for que está a escrever por mim me dá espaço para que eu possa ir beber um café e quando voltar lhe possa perguntar “como vai isso?”, e então espreito o parágrafo.

Vai assinar como John Banville?
Vou. Mas se calhar não deveria. Talvez faça como Fernando Pessoa, crie um heterónimo.

Costuma dizer que enquanto John Banville não sente grande prazer na escrita e que esse prazer vem quando escreve como Benjamin Black.
Sim. Como Benjamin Black há um modo diferente de escrita. Não tenho de me concentrar ao nível profundo que faço nos outros livros. E é mais rápido. É espontâneo. Muitas vezes, quando estou a escrever uma frase de Benjamin Black, o Banville espreita por detrás do ombro a dizer, “Oh, essa frase é interessante”, e o Black manda-o imediatamente sair. Black escreve depressa, não se demora a cada frase. O Banville escreve metade de uma frase e está logo a pensar nas implicações de tudo aquilo. O incrível da língua inglesa é ser tão ambígua e tão impura. Há tralha por todo o lado, sempre a entrar. Conhece a palavra Tory, o diminutivo que designa o partido Conservador em Inglaterra? É uma palavra irlandesa. Em irlandês escreve-se toraigh, que é “abandonado”. Em inglês tornou-se o nome de um grupo político conservador. Adoro essa impureza e ambiguidade.

Outra palavra, autenticidade. É muito referida no livro a propósito de arte. O que é para si ser autêntico em literatura?
Uma verdadeira obra de arte é autêntica. Terá de ser, ou não é nada. Não se pode ser desonesto. Se se for desonesto a obra de arte falha. É preciso sermos verdadeiros com nós mesmos; mais do que isso: ser verdadeiro com o trabalho. Pouco antes de eu publicar este livro, um amigo pediu-me para o ler. Eu disse-lhe que ele não ia gostar. E ele respondeu: “quer dizer que vai ser mais um daqueles onde toda a gente é infeliz”. Disse-lhe que sim porque era assim que tinha de ser. Um dia estava a almoçar com o meu editor e a falar-lhe de um livro que estava a escrever, o livro seguinte. E vi o rosto dele fechar-se antes de dizer: “Pois, John, vamos então ter mais um livro muito popular (crowd-pleaser)”. Isto é real, a vida tem de correr como é, tingida de autenticidade, ensopada em autenticidade, a obra de arte tem de ter isso ou não é arte. O desporto também. No desporto perde-se e ganha-se, é uma extraordinária batalha obre a existência, sobre o risco a correr. O artista faz o mesmo, corre o risco em cada minuto do seu dia, lidando com a falha, tentando encontrar a perfeição e a obra de arte é sempre uma falha porque a perfeição é impossível.

Quando termina um livro sabe que falhou.
Sei. Paul Valéry disse que uma obra de arte nunca está terminada. Eu sinto que ponho um ponto final e desisto.

Oliver fala em procurar a autenticidade mas é um artista da dissimulação, um ladrão…
Pois, mas toda a gente sabe que ele rouba.

Mas ele é autêntico sendo dissimulado, ladrão.
Sim, claro. A verdade é valorizada, mas a mentira faz parte da textura da realidade também, como a dúvida. É isso que faz o mundo interessante. E a ficção é dizer mentiras transcendentes, bonitas mentiras transcendentes, mas são mentiras. Cada frase é uma mentira porque não tem uma verdade factual. Mas a verdade não é necessariamente baseada em factos. A verdade na arte outra coisa. A arte é completamente amoral, mas a obra de arte é um objecto moral face ao mundo. Não é intenção do artista que assim seja, ou pelo menos não é a minha intenção, mas é por vir do esforço de ser absolutamente verdadeiro e autêntico. Conhece o poema do Rilke, em que ele descreve o torso sem braços, sem pernas? [“Não fosse assim, seria essa estátua uma mera / pedra, um desfigurado mármore, e nem já / resplandecera mais com pele de fora // Seus limites não transporia desmedida / como uma estrela; pois ali ponto não há / que não te mire. Força é mudares de vida.” Todas as obras de arte nos mudam a vida, pode ser de uma maneira minúscula. Não nos tornamos melhores ou piores pessoas, mas muda-nos porque nos apercebemos de alguma coisa nova em relação ao mundo. É esse o esplendor da arte, tornar-nos mais cientes do que é estar vivo e de ser uma criatura humana. Mais uma vez, nas suas elegias, Rilke pergunta, para quê continuar a sermos humanos, para quê o esforço. E responde: porque estar aqui é muito.

Para sim, a arte surge inseparável do belo. O que é a beleza?
Não sei. Platão fez essa pergunta e respondeu que só sabia quando a via. Não é apenas em arte. Muita gente vê beleza no desporto. Ouço essas conversas nos pubs. Talvez seja harmonia. É um momento. Ainda bem que não sabemos o que é. No fim do livro Retrato do Artista Enquanto Jovem, Stephen Dedalus diz que vai falsificar a consciência da sua raça. O Woody Allen brinca, dizendo que assim se pode tornar um produto de massas e ser vendida barata em plástico. Se soubéssemos o que é a beleza também a poderíamos fazer em plástico.

Sentiu muito novo a vontade de ser artista. Quis ser pintor.
No início foi uma espécie de escape. Cresci numa cidade pequena na Irlanda, num tempo muito pobre, financeiramente e espiritualmente. A arte era uma fuga. Mas também o mundo sempre me inquietou. Não o entendo, não consigo aceitar a estranheza de estar aqui. Quando era criança lembro-me de levar o meu cão a passear no campo e foi como se o poeta da natureza que há em cada irlandês viesse a mim: “oh, as folhas, oh, as árvores, devo estar a apaixonar-me…” O que é esta ânsia, por que é que anseio? Acho que esse é o anseio do artista que continuo a sentir; continuo a ansiar a obra de arte perfeita, sabendo que nunca vou conseguir. Mas continuo a tentar, como se sentisse que me estou a aproximar dessa infinidade e houvesse um cálculo para lá chegar, mas a infinidade é a infinidade. O cálculo no entanto funciona porque me permite continuar. Foi assim que comecei, tentando responder ao mundo à minha volta. O que é estar aqui? Tudo se resume a essa pergunta simples, o estranho que é ser uma criatura viva.

A fuga também foi à educação católica.
Oh, sim.

Mas a culpa, uma culpa muito católica, está presente, sobretudo neste livro. Oliver vive com a culpa.
A culpa é uma grande invenção do catolicismo. Lembro-me da primeira vez que fui à Austrália, apaixonei-me pelo país, mas sentia-me muito estranho até perceber que ali não havia religião – não estou a falar do espiritual. É um país secular. Achei que não conseguiria viver ali, não conseguiria viver sem culpa. É demasiado agradável.

Não consegue escrever sem culpa?
Não. Aqui conseguiria, a culpa existe como na Irlanda.

Lembra-se da primeira vez que sentiu culpa?
Não sei… Tinha eu uns quatro anos. A minha mãe e eu éramos muito próximos, e um dia ela vinha dar-me um beijo e eu disse-lhe que não queria mais beijos. Lembro-me de pouco depois, na forma mais ou menos incoerente de pensar de uma criança de quatro anos, de perceber que lhe tinha feito alguma coisa de terrível. Acho que foi a minha primeira culpa. Substituí a religião com a arte. É o que os artistas fazem, encontram substitutos. Como diz um amigo meu, o filósofo John Gray, a religião é uma versão poética da realidade, é uma espécie de poesia do povo e não quero tirar isso às pessoas e, em muitas coisas, é bonita. Mas a minha religião seria o paganismo. O monoteísmo foi o nosso grande desastre, a invenção de um deus único.

Levou a mitologia para os seus livros.
Sim, nos pagãos há um deus para tudo. E nós temos este deus único que nos diz que se não o amarmos suficientemente nos envia para o castigo eterno. Ou é o deus judaico que está constantemente a interferir na vida das pessoas. É poesia, mas é poesia selvagem. Os deuses dos pagãos são como nós, só que com um pouco mais de poder. Desonestos, como nós, viciosos como nós.

E com a ironia dos humanos, pelo menos nos seus livros.
Sim. São humanos mas são deuses, aquilo a que aspiramos ser nos melhores momentos. Não existe humor na Bíblia, não há gargalhadas. Isso foi inventado por São Paulo. Vou outra vez falar de Nietzsche que disse que havia apenas um cristão e esse morreu na cruz. S. Paulo, o homossexual no armário, aquele que odiava as mulheres, veio e inventou isto e desde então estamos a sofrer.

Começa o livro com o nome de um desses deuses, Autólico, o ladrão. “Chamem-me Autólico.” Uma primeira frase que remete para Moby Dick, de Melville.
Quis fazer uma piada, dizendo que este livro não ia ser tão monumental.

Wallace Stevens deu-lhe o título, Dylan Thomas deu-lhe o quê?
Ahh… Todos os adolescentes liam Dylan Thomas. Ele mostrou-me como a linguagem podia ser musical. Eu lia Joyce que reclamava ser musical, mas não é. O estilo de Joyce é o dos clássicos. Thomas era um cantor natural. A única coisa que roubei na vida foi um volume da poesia de Dylan Thomas. Roubei-o da Biblioteca Pública na cidade onde cresci. Escondi-o atrás de outros livros. Eu ia lá duas ou três vezes por semana e ia sempre ver se ainda lá estava. Passaram-se seis semanas, achei que não precisavam dele e levei-o. Mas já o doei à biblioteca no meu testamento, para expiar a minha culpa.

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