Três candidatos para a segunda volta

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Keiko Fujimori, Pedro Pablo Kuczynski e Verónika Mendoza Reuters

Keiko Fujimori luta contra o passado

A líder da Força Popular, antiga congressista e candidata derrotada nas últimas presidenciais, viu-se obrigada a fazer alguma ginástica durante a campanha para se demarcar do legado autoritário do pai, Alberto Fujimori. Mas apesar de adoptar um tom mais moderado, permaneceu fiel à sua cartilha de direita, e um dos seus lemas é  uma cópia das antigas promessas do pai nos tempos de luta contra a guerrilha maoista: “Segurança para os cidadãos”.

Durante a Administração do pai, Keiko assumiu o papel de Primeira Dama em substituição da mãe, Susana Higuchi, que foi afastada depois de criticar os abusos dos direitos humanos do regime. Keiko nunca o fez abertamente; aliás, a candidata não só não rompeu com a doutrina como não “limpou” da campanha os principais rostos do Fujimorismo. E não é só a colagem à herança do pai que Keiko tem que contrariar, é também a imagem de impreparação para o cargo. Aos 40 anos, Fujimori não tem carisma, mas tem experiência em campanhas eleitorais: no entanto, o seu registo político, como congressista, é marcado pelo absentismo.

Pedro Pablo Kuczynski, o candidato de Wall Street

O economista de 77 anos, é um veterano nas campanhas políticas e joga tudo no sentimento de familiaridade do eleitorado do país, a quem pede que não se deixe seduzir nem pelo (Keiko) nem pelo desconhecido (Verónika). Na contenda, posicionou-se como a escolha sensata e responsável, um homem moderado e competente, de créditos firmados pelos múltiplos cargos governativos e pelo trabalho no Banco Mundial. No entanto, PPK, como é conhecido, tem alguns esqueletos no armário, que o prejudicaram na corrida, como a sua associação a empresas de lobby e grandes grupos internacionais - é claramente o favorito dos investidores e de Wall Street -, e mesmo em cima da eleição, pelas referências ao seu nome nos Panama Papers.

A sua candidatura tem ainda outra fragilidade, no actual contexto de polarização política: a sua plataforma de centro-direita não oferece um grande contraste com a de Keiko Fujimori, a quem deu o seu apoio nas anteriores presidenciais.

Verónika Mendoza é a cara da “mudança radical”

A militante do Partido Nacionalista Peruano, Verónika Mendoza, surgiu na campanha como a verdadeira novidade da política do país, ao vencer as eleições primárias para se apresentar como candidata da Frente Ampla, e ao ultrapassar décadas de desconfiança popular com a esquerda mais radical e cavalgar dos 4% para quase 20% nas sondagens. Com questões de fraude e corrupção a marcar a campanha, Mendoza apareceu como uma candidata sem mácula e capaz de canalizar o sentimento de insatisfação e descontentamento com os lentos progressos do país em termos de inclusão e mobilidade social. Também é Verónika quem mais tem chamado a atenção para as questões prioritárias para as comunidades andinas, da protecção ambiental à protecção das culturas indígenas.

Psicóloga de 35 anos e dupla nacionalidade peruana e francesa, “La Vero”, como é tratada, representa mais do que Keiko Fujimori a renovação geracional, à qual acrescenta um trunfo: é ela que preconiza uma nova forma de fazer política, ao contrário dos seus principais adversários que se apresentam como “mais do mesmo”.

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