Quase um terço das crianças da região Norte têm falta de iodo

Estudo com crianças entre os seis e os 12 anos avalia a presença de iodo e o impacto da substância no seu desenvolvimento cognitivo.

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A primeira fase do estudo envolveu 825 crianças de escolas da região Norte Nuno Ferreira Santos (arquivo)

Em média, 31% da população (825 crianças) avaliada num estudo sobre este micronutriente apresentou falta de iodo, enquanto 24% tinham níveis acima dos recomendados ou mesmo excessivos. Apenas 45% das crianças apresentam níveis adequados de iodo. Estes são alguns dos dados preliminares do estudo IoGeneration, que foi realizado por uma equipa de investigação da Universidade do Porto (UP) junto de crianças da região Norte e que serão apresentados nesta quarta-feira no âmbito do seminário Iodo e Saúde, a decorrer na reitoria da UP.

Numa investigação que analisou escolas do Norte de Portugal, os dados provisórios sobre a presença do iodo nas primeiras 825 crianças (de uma amostra final que será superior a duas mil) revelaram-se “preocupantes” e “reforçam a necessidade” de uma política de saúde atenta a este problema, defendeu Conceição Calhau, investigadora principal do estudo. Intervir e monitorizar são as palavras-chave, destaca.

Dividindo os resultados da amostra pelo primeiro e segundo ciclo, os resultados mostram que são as crianças mais velhas que apresentam maiores níveis de carência de iodo: 48% no segundo ciclo contra 24% no primeiro ciclo, uma diferença de 24 pontos percentuais, situação para a qual Conceição Calhau não encontra explicação. “Será que os padrões alimentares dos seis para os 12 anos sofrem alterações que o justificam? Não sei. Mas é possível!”, especula a investigadora.

A nível demográfico, Marco de Canaveses e Amarante foram os concelhos mais problemáticos, com 44,31% e 37,01% de insuficiência de iodo, respectivamente. Em sentido oposto, e com valores de iodo acima do recomendado ou até excessivo, encontram-se os concelhos de Mondim de Basto (34,78%), Felgueiras (30,56%) e Ribeira de Pena (25,38%).

Além da presença do iodo, foi também estudado o impacto desta substância no desempenho cognitivo das crianças. Os resultados aos testes de qui-quadrado de Pearson, através do qual se estabelece a relação entre os níveis de iodo e a capacidade intelectual nas crianças, não se relevaram significativos. Perante estes resultados, Conceição Calhau salienta uma das limitações do trabalho: o registo dos níveis de iodo e o teste cognitivo foram efectuados no mesmo momento, quando o ideal seria determinar o iodo na mãe ainda grávida e, posteriormente, avaliar o desempenho intelectual da criança.

Os autores do relatório recordam que o iodo é um “oligoelemento (micronutriente) necessário ao funcionamento do organismo, ao seu metabolismo, em múltiplas funções”. Por isso, a ausência da substância no organismo e necessidade de a incluir na dieta alimentar são “assuntos pertinentes”, pois a sua falta envolve graves problemas de saúde, como por exemplo na tiróide, e que se podem traduzir em problemas cognitivos e de crescimento. Nos casos mais graves, pode até originar doenças como o bócio.

Uma criança precisa, em média diária, de cerca de 90 a 150 microgramas, dependendo da sua idade. Há vários países que desenvolveram programas alimentares que visam suplementar o iodo. Em Portugal os dados relativos ao iodo são “escassos e dispersos”, concluem os investigadores.

Financiada pelo Programa de Iniciativas de Saúde Pública da EEAGrants (que conta com a contribuição financeira da Islândia, Liechenstein e Noruega), a sessão desta quarta-feira (das 9h às 16h30) é de entrada gratuita mas requer inscrição prévia.

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