Parlamento chamado a envolver-se na defesa do Ateneu de Lisboa

Em processo de insolvência, o Ateneu Comercial de Lisboa pode ter de sair do palácio para que ali se desenvolva um projecto imobiliário. Para o salvar, corre uma petição pública que já foi entregue na Assembleia da República.

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A Cervejaria Solmar é um dos espaços instalados no Palácio do Ateneu Rui Gaudêncio

Sobre o antigo Palácio dos Condes de Povolide, nas Portas de Santo Antão, em Lisboa, pesa um projecto imobiliário cujos contornos não são conhecidos. Aquela que é ainda a sede do Ateneu Comercial de Lisboa está refém de um processo de insolvência que ameaça a permanência da instituição no local, assim como o bar que ali também existe. Para evitar que tal aconteça, foi lançada uma petição que chegou esta semana às mãos dos deputados da Assembleia da República.

A iniciativa é das proprietárias do Primeiro Andar, um bar-restaurante inquilino do edifício do Ateneu. No ano passado, deram início à petição “Vamos Salvar o Ateneu”, que defende que a associação “mantenha e recupere todas as actividades culturais, recreativas e desportivas que dedicou à comunidade onde se insere e aos mais desfavorecidos, recuperando os fins a que foi destinado pelos seus fundadores”. Assinada por mais de 7000 pessoas, o abaixo-assinado já foi também remetido à Assembleia Municipal de Lisboa.

O Ateneu Comercial de Lisboa é uma associação sem fins lucrativos fundada a 10 de Junho de 1880 – ano em que se celebrava o tricentenário da morte de Luís de Camões – por profissionais de comércio. Foi reconhecida, em 1926, como instituição de utilidade pública, tendo como objectivos proporcionar a prática de actividades de natureza cultural, recreativa e desportiva.

Com 135 anos de história, com altos e baixos, o Ateneu começa a afundar-se no início desta década. Em 2012, Teresa Ferreira e Liliana Escalhão tornam-se arrendatárias e abriram o Primeiro Andar. Mas, pouco depois, a associação torna-se insolvente e, em Julho deste ano, o contrato de arrendamento termina. “Eles não o querem renovar e não dão respostas”, afirma Teresa Ferreira ao PÚBLICO.

Até haver uma decisão do tribunal sobre o processo de insolvência, pouco se sabe sobre o futuro do espaço. É recorrente a suspeita de que ali nascerá mais um hotel, mas em nenhum dos processos consultados pelo PÚBLICO é clara essa informação. No processo, Joaquim Pereira Faustino, o administrador de insolvência, esclarece que a continuidade da Associação do Ateneu Comercial de Lisboa só é possível se o investidor, Adriano Roberto Lourenço, assumir o pagamento das dívidas do mesmo, podendo o próprio conceber naquela área um projecto imobiliário e passando o Ateneu para outro local. Algo que terá de passar pela aprovação da cervejaria Solmar, dona de 30% do logradouro.

De um espaço que dinamizou inúmeras iniciativas culturais, recreativas e desportivas, pouco ou nada resta. Ali ocorrem apenas actividades esporádicas, principalmente desde o encerramento da piscina em 2011, nomeadamente aulas de dança, concertos no Tanque (a antiga piscina), como durante o festival Vodafone Mexefest. Até Abril, a Cooperativa Fruta Feia, um projecto que já evitou que 237 toneladas de fruta fossem para o lixo, continuará a fazer semanalmente a venda dos seus produtos no bar Primeiro Andar. 

Texto editado por Ana Fernandes 

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