Ainda há um “difícil caminho” a percorrer no endividamento das empresas

Comissão Europeia alerta que o problema da dívida e da falta de alternativas de financiamento continua por resolver.

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Bruxelas destaca que houve sectores em que o endividamento subiu, como aconteceu na indústria transformadora Miguel Manso

O excessivo endividamento das empresas privadas e a ausência de alternativas ao financiamento bancário continuam a preocupar a Comissão Europeia. Apesar dos sucessivos alertas feitos no passado, Portugal ainda tem um “difícil caminho” a percorrer nesta área, diz Bruxelas no relatório divulgado nesta sexta-feira.

“O elevado endividamento do sector privado continua a constituir uma vulnerabilidade importante da economia portuguesa”, começa por afirmar, acrescentando que esta realidade “compromete o desempenho e o investimento” das empresas, enquanto o elevado volume de crédito vencido “coloca em risco a estabilidade financeira”.

A Comissão Europeia considera que “a resposta política (…) tem sido adequada, mas a materialização dos resultados faz-se tardar”. São destacadas as reformas na lei das insolvências e a criação de alternativas às falências judiciais (Processo Especial de Revitalização e Sistema Extrajudicial de Recuperação de Empresas), bem como as alterações fiscais ao nível do financiamento da dívida e novos incentivos à capitalização. No entanto, Bruxelas coloca sobre a mesa um conjunto de dados que mostram que estas medidas ainda não chegaram para solucionar o problema.

“O endividamento do sector privado (186% do PIB) é ainda dos mais elevados na UE, o que coloca sérios riscos para a recuperação económica”, escreve, acrescentando mais à frente que, nas empresas, a percentagem atingia 146% em Outubro de 2015. “Cerca de 20 pontos percentuais abaixo do pico de 167,4% atingido em 2012, mas ainda mais de 20 pontos percentuais acima da média da área do euro”, descreve.

Bruxelas especifica ainda que, apesar da redução de 2% na dívida total das empresas não financeiras privadas no terceiro trimestre do ano passado, houve sectores em que a tendência foi de subida, como aconteceu na indústria transformadora (mais 2,3%). Além disso, há actividades já fortemente endividadas, onde o recuo foi ténue. No imobiliário e na construção, a queda foi de apenas 2,4%.

A Comissão Europeia diz mesmo que a maioria das empresas portuguesas “padece de uma insuficiência crónica de capital”, explicando que, no final de 2014, “uma em cada três empresas apresentava um capital social negativo” e 42% “registavam lucros negativos”, ou seja, prejuízos.

Uma das maiores críticas feitas no relatório centra-se na ausência de fontes alternativas de capital, já que “as PME continuam a estar, em grande medida, dependentes do financiamento bancário”. Bruxelas diz que, apesar dos esforços já feitos, ainda não há suficientes “fundos de capitais de investimento, capital de risco, financiamento colectivo e business angels”. Alternativas que “continuam a ser escassas e muito pouco desenvolvidas”.

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