Pai acusado de matar filho com facada “teve um blackout” naquela tarde

Arguido remeteu-se ao silêncio no primeiro dia de julgamento, no Tribunal de Cascais.

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O arguido encontra-se detido PAULO RICCA/Arquivo

O homem acusado de ter morto o filho bebé na sua casa em Linda-a-Velha em 2015, enterrando-lhe uma faca no peito, “perdeu a consciência, teve um blackout”. As palavras são do seu advogado: no primeiro dia do julgamento o arguido remeteu-se ao silêncio.

Uma coisa ninguém nega: João Barata tinha há muito problemas relacionados com o álcool, que misturava com estupefacientes e comprimidos. Nos últimos 12 anos ficou internado três vezes no Hospital psiquiátrico Sobral Cid, no distrito de Coimbra, e cada estadia durou um mês. O seu advogado, Aníbal Pinto, aposta numa possível declaração de imputabilidade reduzida pelo Tribunal de Cascais ou mesmo na inimputabilidade. Mas não descura outras hipóteses: terá sido mesmo o próprio pai a assassinar a criança de seis meses? Ou terá outra pessoa acedido ao apartamento onde morava com a companheira, o bebé de ambos e uma enteada?

"No dia do crime tomava medicamentos que não podiam ser administrados com álcool. Ingeriu vinho do Porto, Martini e cerveja. Ligou à mãe do bebé a pedir ajuda para levá-lo ao hospital e que a partir das 13h perdeu a consciência, teve um blackout", relatou Aníbal Pinto, para quem "a tragédia que sucedeu a João Barata podia ter acontecido a qualquer um".

Desempregado, naquele dia de Abril João Barata estava outra vez em casa, mas queria à força que a mãe da criança interrompesse o serviço de limpezas que andava a fazer para ir com ele ao hospital. Quando esta se apercebeu de que o companheiro tinha estado outra vez a beber, mandou-o arrumar a trouxa, conta o Ministério Público: já não queria encontrá-lo lá quando regressasse a casa. A expulsão desencadeou no operário da construção civil uma reacção violenta: depois de partir um vidro de casa com um murro, João Barata enviou à mulher por telemóvel um vídeo no qual encostava a faca ao corpo do menor, prossegue a acusação. Quando a PSP chegou à residência, deparou com o bebé deitado em cima em cima da cama do casal. Tinha um boneco numa mão, um sorriso na cara e a faca já cravada no peito. “Fui eu”, diria mais tarde o arguido aos polícias.

O advogado insiste: o seu cliente “não é um monstro”. Se é ou não culpado deste crime, serão os juízes a decidir – coadjuvados por um professor de Inglês, um optometrista, uma estudante e um licenciado em Gestão, que são os jurados seleccionados para julgar o caso após um pedido do arguido para ter um tribunal de júri.

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