Benjamin Millepied deixa o Ballet da Ópera de Paris

A bailarina Aurélie Dupont será a sua sucessora, quando em Agosto Millepied abandonar aquela que é hoje uma das maiores e mais tradicionais companhias de dança do mundo.

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O director da Ópera de Paris, Stephane Lissner, ao lado de Benjamin Millepied e Aurélie Dupon AFP

Pouco mais de um ano depois de assumir o cargo de director numa das maiores e mais tradicionais companhias de dança do mundo, Benjamin Millepied anunciou a sua demissão, alegando motivos profissionais. O bailarino e coreógrafo, marido da actriz norte-americana Natalie Portman, vai ser substituído no Ballet da Ópera de Paris pela francesa Aurélie Dupont, a bailarina principal da companhia que se despediu dos palcos em Maio do ano passado.

Quando em 2013 se ficou a saber que Benjamin Millepied seria o novo director do Ballet da Ópera de Paris, para substituir a então directora Brigitte Lefèvre que em 2014 se reformaria, não tardaram as críticas de tão surpreendente que a escolha parecia. Millepied era um outsider e vinha cortar com a tradição de ter aos comandos da companhia parisiense um dos bailarinos mais velhos da casa.

Benjamin Millepied, de 38 anos, assumiu funções em Novembro de 2014 e não se viu livre das críticas. O francês, que ganhou reconhecimento universal com o filme Cisne Negro, que em 2011 deu o Óscar de Melhor Actriz a Portman, foi criticado pelos seus métodos de trabalho e mais recentemente viu-se envolvido numa polémica que não só alimentou os jornais franceses na altura do Natal, como abalou também a sua posição dentro do Ballet da Ópera de Paris.

Num documentário para o Canal +, assinado por Thierry Demaizière, Millepied lamentou a ausência de bailarinos negros na companhia, defendendo que o trabalho que ali faziam não poderia ser um exemplo se assim continuasse. Formado no Conservatório de Lyon, mas também na School of American Ballet, o coreógrafo foi duro nas palavras. Falou de uma companhia tradicionalista, demasiado hierárquica e presa a uma competição interna sem medidas. Mais: não era assim tão excelente como se afirmava ser e os seus espectáculos pareciam por vezes “papel de parede”, “aborrecidos de morte”.

Millepied procurou levar alguma contemporaneidade ao ballet, mas encontrou ali alguma resistência. No documentário em questão, o director aparece numa das partes a dirigir-se aos bailarinos pedindo-lhes que se deixassem levar.

Desde então, a sua posição ficou fragilizada. Já em 2014, quando anunciou a sua primeira temporada, Millepied disse à AFP que o Ballet da Ópera de Paris estava preso ao passado. “Já não estamos em 1830, ainda há coisas dessa altura, como a hierarquia, a rígida competição internacional pela promoção.”

No entanto, esta quinta-feira, na sua despedida, que a imprensa francesa considerou “inesperada”, Millepied não fez qualquer comentário sobre estes episódios e afirmou em comunicado que deixa de ser o director por motivos pessoais. Mais à frente, o criador de mais de duas dezenas de peças, e que em 2011 lançou a sua própria companhia, a LA Dance Project, em Los Angeles, explica sentir falta de criar.

“As minhas funções de director [do Ballet da Ópera de Paris] ocupam hoje um espaço tal que reduzem consideravelmente aquelas, essenciais aos meus olhos, da criação e da expressão artística”, lê-se no comunicado publicado por Benjamin Millepied no Twitter. O coreógrafo acrescenta ter saudades de se poder dedicar a 100% à criação artística e faz um balanço positivo desta sua passagem pela Ópera de Paris. “Sinto-me muito honrado [por ter sido o director do Ballet da Ópera de Paris], mas o que é importante para mim é criar, é ser inspirado pelos bailarinos, e hoje esse trabalho, da forma que existe, não é feito para mim”, disse já na conferência de imprensa convocada para esta quinta-feira no Palais Garnier. Millepied devia revelar na próxima semana a programação para esta temporada.

A saída de Millepied não vai ser imediata. O coreógrafo fica até ao Verão, e depois, a 1 de Agosto, a bailarina Aurélie Dupont, de 43 anos, assume o cargo. Na conferência de imprensa, Dupont, que desde Maio se dedicava à formação e acompanhamento dos bailarinos na companhia, assumiu que o Ballet de Paris a seu cargo será mais tradicional que aquele de Millepied.

“A Ópera de Paris continua a ser uma companhia de dança clássica aberta à dança contemporânea e não ao contrário”, disse a francesa na mesma conferência de imprensa. Sobre Benjamim Millepied, disse pouca coisa: “Ele trouxe muitos coreógrafos contemporâneos e novas experiências coreográficas”. “Vou fazer o meu melhor, prometo. Adoro os bailarinos, profundamente. Quero dar aos bailarinos os meios com que eles possam brilhar.”

Aurélie Dupont está na companhia há 27 anos. Saiu directamente da escola de dança da Ópera de Paris para integrar o seu corpo de bailarinos. Em 1988, aos 25 anos, tornou-se na estrela da companhia numa produção de Dom Quixote, de Rudolf Nureyev.

Na conferência de imprensa estava também Stephane Lissner, director da Ópera de Paris, que agradeceu todo o trabalho de Millepied. “Ele trouxe muito para o ballet. Ser o director do ballet e um coreógrafo muito procurado estava a causar-lhe problemas… Aurélie trará muitas outras coisas.”

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