O que querem os quatro líderes

Num Congresso de contas quase impossíveis, as estratégias são várias e podem mudar a meio. Para os dirigentes dos partidos tradicionais espanhóis também está em jogo a sua própria sobrevivência.

Rivera e Sánchez à conversa na primeira sessão do Congresso
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Rivera e Sánchez à conversa na primeira sessão do Congresso Pierre-Philippe Marcou/AFP
As lágrimas de Iglesias quando o seu grupo parlamentar foi recebido por apoiantes à saída do Congresso
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As lágrimas de Iglesias quando o seu grupo parlamentar foi recebido por apoiantes à saída do Congresso Andrea Comas/Reuters
Rajoy, à saída da sessão inaugural do Congresso
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Rajoy, à saída da sessão inaugural do Congresso Andrea Comas/Reuters

O líder da direita espanhola garante que vai conseguir que o PP forme um governo estável, mas sabe que isso muito provavelmente lhe custaria o cargo. O secretário-geral do PSOE, Pedro Sánchez, admite duas opções para formar governo, enquanto tenta gerir um partido dividido.

Mariano Rajoy

O Partido Popular conseguiu manter-se como força mais votada, mas perdeu 3,5 milhões. Os críticos de Rajoy questionam abertamente a sua liderança: é o caso do ex-primeiro-ministro José María Aznar, da presidente do PP de Madrid, Esperanza Aguirre, e de um sector de jovens conservadores que pede um congresso aberto e um novo candidato com urgência.

Rajoy iniciou este sábado um périplo que pretende continuar até que haja governo. Nesta primeira etapa, à viagem no comboio de alta velocidade até Zamora somou um encontro com os dirigentes da província. Oficialmente, não são actos pré-eleitorais mas uma forma de repetir pelo país a necessidade de formar um “governo forte e estável”.

Na prática, com ou sem eleições antecipadas, é Rajoy, aos 60 anos, a tentar consolidar a sua liderança e em campanha pela reeleição no partido. Poucos no PP acreditam que o PSOE se abstenha para permitir um governo de direita sem que isso signifique a saída de cena de Rajoy – o Cidadãos diz que será oposição mas oferece a sua abstenção em nome da estabilidade.

Outras alianças são altamente improváveis: a Convergência catalã (que concorreu com a sigla DiL) seria em tempos um aliado natural, mas o embate entre Barcelona e Madrid por causa do independentismo afastou-os de forma definitiva.

Pedro Sánchez

Eleito para mudar a imagem do partido em Julho de 2014, um mês depois da irrupção do Podemos nas eleições europeias, Pedro Sánchez não tem conseguido os resultados que pretendia. Em luta directa com o Podemos pelo eleitorado da esquerda, conduziu o PSOE ao pior resultado de sempre nas legislativas de 20 de Dezembro.

Aos 43 anos, Sánchez vai fazer tudo para conseguir formar um governo “progressista, à portuguesa”. O seu Plano A passa por se entender com Pablo Iglesias para formar um executivo de minoria, esperando conseguir a abstenção do Cidadãos.

Entretanto, cedeu dois senadores à DiL e à Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) no Senado, permitindo-lhes alcançar os dez obrigatórios para formarem um grupo parlamentar independente. A DiL tem oito deputados no Congresso, a ERC nove, e a decisão gerou especulações sobre se o líder socialista terá pedido em troca a abstenção destes partidos numa votação para a sua investidura.

Se o acordo com Iglesias falhar, começa a ser admitido um cenário em que Sánchez negoceie o apoio do Cidadãos (que votou favoravelmente a eleição do socialista Patxi López para a presidência do Congresso), deixando o Podemos encurralado – ou se absteria e deixaria este governo entrar em funções, ou votaria contra, ao lado do PP. “Só são precisos mais votos a favor do que contra”, nota um colaborador de Sánchez citado pelo jornal El Periódico.

O empréstimo aos nacionalistas no Senado deixou alguns barões do partido à beira de um ataque de nervos, mas um acordo com o Cidadãos teria o importante apoio da líder socialista da Andaluzia, Susana Díaz, que negociou com o mesmo partido para formar o seu governo.

Pablo Iglesias

Na noite das eleições, Pablo Iglesias afirmou que teria precisado de “mais uma semana e mais um debate” para sair vencedor. Na quarta-feira, à saída da primeira sessão da nova legislatura, o líder do Podemos chorou emocionado ao ser recebido por apoiantes que gritavam “Sí, se puede”.

Agora, o seu principal desafio passa por gerir as expectativas criadas pela opção de não apresentar listas em nome próprio nalgumas regiões. Dos 69 deputados do Podemos, 12 foram eleitos sob a sigla En Comú Podem; outros nove pela coligação Compromís, de Valência; seis com a candidatura En Marea, da Galiza.

Cada uma destas forças inclui membros do próprio Podemos mas todas esperavam ter um grupo parlamentar autónomo, uma reivindicação que PSOE e PP recusam. Iglesias garante que isso não será um problema e que se encontrará uma solução com a qual todos estejam confortáveis.

O Podemos, que conseguiu tornar-se na terceira força do Congresso, quer a realização de um referendo na Catalunha, mas não apoia a independência. “Nós defendemos a unidade da Espanha”, afirmou Iglesias em Lisboa. Questionado sobre se essa é a “linha vermelha” para um acordo de governo com o PSOE, diz que o seu partido não “estabelece linhas vermelhas, só quer que as forças democráticas se possam sentar a debater” o futuro do país.

Iglesias sente que o seu partido, criado em Janeiro de 2014, está a crescer e não tem medo de ir a votos, apesar de repetir que tudo fará para evitar uma repetição das eleições.

Albert Rivera

O líder partidário mais jovem (tem 36 anos, um menos do que Iglesias) ficou longe do resultado que as sondagens lhe antecipavam. Ainda assim, Albert Rivera conseguiu eleger 40 deputados na primeira vez que a sua formação se apresentou em legislativas.

O advogado tornado político em nome de “uma nova transição” – a diferença com o Podemos, afirma, é que ele quer uma mudança tranquila, “não uma revolução” – garante que estará na oposição mas admite abster-se para permitir a formação de um governo estável. Se o fizer para dar o poder ao PP isso será visto como natural pelo seu eleitorado, desde que consiga impor as leis de transparência e anticorrupção com que diz querer mudar a forma de fazer política.

Apesar de ser o partido com menos a perder em possíveis acordos, e o que mais quer evitar eleições, os analistas não vêem como possível uma abstenção a um governo de minoria PSOE-Podemos. Dar poder a um executivo de minoria e liderado por um partido que não ganhou as eleições seria demasiado arriscado.

O partido que nasceu na Catalunha em 2006 para se opor à independência da região estreou-se no Congresso decidido a manter esta como a sua prioridade: a primeira iniciativa registada pelo Cidadãos para ser votada exige aos deputados que “travem qualquer acção que pretenda subverter a ordem constitucional”. Se houvesse dúvidas sobre o alvo, Riveras explicou: “Queremos deixar claro ao senhor [Carles] Puigdemont [novo presidente do executivo catalão] que mesmo sem um governo em funções, o Parlamento já funciona”.

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