Edgar Silva "abraça" luta laboral em fábrica de automóveis do interior

O antigo padre lamentou que, "por via da precariedade e dos vínculos muito frágeis, qualquer trabalhador sabe que pode ser penalizado pela sua liberdade de opinião, posicionamento político e iniciativas reivindicativas".

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No quinto dia de campanha oficial, Edgar Silva esteve em Mangualde Adriano Miranda

O candidato presidencial Edgar Silva, apoiado pelo PCP, abraçou nesta quinta-feira literalmente a luta pelos direitos laborais de um autarca PSD/CDS, à porta de uma fábrica de automóveis de um grupo francês, em Mangualde, Viseu.

Na mudança de um turno em que foram montadas mais 115 viaturas de modelos de duas marcas gaulesas, o membro do Comité Central comunista não resistiu a pedir um forte abraço ao dirigente da comissão de trabalhadores local, Jorge Abreu, 39 anos e também presidente da União de Freguesias de Santar e Moreira, Nelas, pela lista da coligação PSD/CDS-PP, depois de aquele trabalhador louvar o facto de ser o primeiro e único concorrente ao Palácio de Belém a dignar-se a uma visita.

"É muito bom vermos à porta desta empresa um candidato presidencial. Todos são candidatos, mas ninguém vem aqui. Os trabalhadores sofrem com o elevado ritmo de trabalho e exploração da mão-de-obra, há desgaste e custo no corpo e na mente, com as excessivas horas e o conceito familiar é posto de lado. Exigem-nos que sejamos iguais aos franceses e espanhóis e recebemos metade dos espanhóis e um terço dos franceses e temos uma capacidade de produto final muito, muito, bom. Querem que nós, seres humanos, sejamos máquinas", queixou-se.

Jorge Abreu apelou a que os responsáveis políticos "tomem medidas" e que "a Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT) seja actuante", em virtude das exigências feitas pelas multinacionais, que "são quem manda neste país" e ainda "recebem do Estado português e fundos europeus e continuam a degradação das condições de trabalho".

"Respeito todos os candidatos presidenciais, a minha função não é estar aqui a defender este ou aquele. As pessoas são livres de votar. Agora, temos consciência do que têm sido estes últimos dez anos e qual a linha que têm defendido os candidatos que se apresentam e também sabemos a quem temos batido à porta no momento das aflições. Há pessoas que nos recebem para resolver problemas, há outras que recebem para fotografias e para aparecer nos órgãos de comunicação social. Desse de que falou [Rebelo de Sousa], de comunicação social e de visibilidade já ele tem há muito tempo. Não é por popularidade que devemos eleger os candidatos", continuou.

O representante dos trabalhadores daquela unidade fabril de Mangualde explicou que, no mês de Janeiro, por exemplo, os funcionários vão ter de trabalhar três sábados, além da hora suplementar diária todas as semanas para compensar a redução de 1350 efectivos para os atuais 750, sendo que a empresa quer produzir mais 10 carros por dia, ou seja, para um total de 240, no conjunto dos dois turnos.

“O trabalhador não é escravo”
Antes de se deslocar à quinta fábrica em dois dias, neste quinto dia de campanha oficial, desta feita em Ovar, Aveiro, Edgar Silva congratulou-se com os elogios por parte de Jorge Abreu, classificando-os como um "privilégio", pois "é o reconhecimento de que esta candidatura tem um compromisso consequente na defesa dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras".

"O trabalhador não é escravo, não estamos no tempo das praças de jorna. O trabalhador tem direitos, dignidade e direito a uma vida própria", disse o deputado regional madeirense e antigo padre, aproveitando para assinalar os 100 dias do Governo PS, viabilizado pela posição conjunta entre socialistas e comunistas e outros partidos, e as medidas já acordadas como o aumento do salário mínimo, o regresso às 35 horas de trabalho semanal.

Edgar Silva lamentou ainda que, "por via da precariedade e dos vínculos muito frágeis, qualquer trabalhador sabe que pode ser penalizado pela sua liberdade de opinião, posicionamento político e iniciativas reivindicativas".

"A desregulamentação de toda a organização laboral tem consequências directas na vida das pessoas. São situações muito desfavoráveis na conciliação da vida com o trabalho. As pessoas não são só trabalhadores, têm família, têm filhos, têm deveres sociais, além da necessidade do ganha-pão, há também o pão da cultura, fundamental para uma vida digna - tudo quanto é a fruição de direitos políticos, sociais e culturais", destacou.

Acabado de chegar de França, Casimiro Oliveira, 46 anos, motorista de pesados, e feliz por ter entregado no destino certo a quantidade correta de radiadores e caixas de velocidade, também fez questão de cumprimentar o candidato apoiado pelo PCP, mas o seu sentido de voto será outro, "se cá estiver e não em viagem"

"Talvez o professor Marcelo porque, segundo dizem - que eu oiço muita rádio - é o melhor colocado, o mais ciente das coisas e que sabe melhor falar ao povo, põe as coisas de forma simples e todos entendem", opinou.