Como construir um cânone literário comum para o mundo de língua portuguesa?

Vítor Aguiar e Silva abre esta quarta-feira em Coimbra um congresso internacional dedicado à língua portuguesa, que marcará o final das comemorações dos 725 anos da Universidade de Coimbra.

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A ideia é olhar para o futuro da língua portuguesa Daniel Rocha

As comemorações dos 725 anos da Universidade de Coimbra (UC) encerram esta semana com o congresso internacional Língua Portuguesa: Uma Língua de Futuro, que se inicia esta quarta-feira, no renovado Convento de S. Francisco, com uma conferência inaugural pelo teórico da literatura e camonista Vítor Aguiar e Silva, que irá discutir a formação de um cânone literário que possa ser usado nas escolas de todos os países de língua portuguesa.

“A ideia geral é olhar para o futuro da língua portuguesa, e não para o seu passado, disse ao PÚBLICO o professor de Literatura e especialista em estudos queirosianos Carlos Reis, coordenador da comissão científica deste congresso, lembrando que a UC recebe “um contingente muito importante” de estudantes africanos de língua oficial portuguesa e “é a maior universidade brasileira fora do Brasil, com dois mil alunos brasileiros num total de pouco mais de vinte mil alunos”.

Com oradores vindos do Brasil, de Angola, de Moçambique, de Timor ou de Cabo Verde, este congresso, diz Carlos Reis, “será uma oportunidade para muita gente reflectir sobre o que vai ser este idioma no nosso futuro”. Uma reflexão que abordará a língua de diversas perspectivas, do ensino à literatura, e do português como língua de conhecimento, designadamente científico, ao futuro do idioma na era digital.

Ao mesmo tempo que encerra as comemorações da UC, o congresso constituirá a pré-estreia do novo Centro de Convenções instalado no Convento de São Francisco, que foi recuperado pelo arquitecto Carrilho da Graça e deverá abrir oficialmente as portas no segundo trimestre de 2016.

O encontro inicia-se esta quarta-feira à tarde, pelas 15h, com a conferência inaugural Em busca de um cânone literário para a língua portuguesa, de Vítor Aguiar e Silva. “Vou falar da importância de se construir um cânone literário escolar para todos os países que têm como língua materna o português”, adiantou ao PÚBLICO o professor catedrático aposentado da Universidade do Minho, que foi um dos fundadores do Instituto Camões e coordenou a Comissão Nacional de Língua Portuguesa (CNALP).

Esta proposta de um cânone literário a ser partilhado pelos sistemas de ensino dos vários países de língua portuguesa” pode contribuir poderosamente para que a língua portuguesa, nesta sua dimensão transnacional e transcultural tenha alguma estabilidade”, argumenta Aguiar e Silva, que propõe um “acordo, um consenso”, para que nesse cânone a construir estejam representadas as várias literaturas em língua portuguesa.

“A minha proposta é que seja cada país que tem como língua oficial o português a propor os autores e obras que integrarão esse cânone literário escolar”, diz o investigador, sugerindo que esses autores “devem ser sobretudo dos séculos XX e XXI” e as obras devem privilegiar “textos de natureza narrativa e descritiva, de mais fácil compreensão por parte dos destinatários ideais, que são os alunos dos vários graus de ensino”. Uma recomendação que não o impede de admitir excepções, quer para “autores do século XIX como Machado de Assis e Eça de Queirós, que tanto contribuíram para construir a língua portuguesa moderna”, quer para Camões e António Vieira, “dois nomes maiores da origem e desenvolvimento da língua literária portuguesa em Portugal e no Brasil”.

O dia de trabalhos prossegue esta quarta-feira com várias comunicações sobre o português na era digital e as “dinâmicas de evolução” da língua, e com uma mesa plenária que discutirá O ensino da língua portuguesa: desafios da diversidade.

À noite, os participantes serão convidados a assistir a um concerto de Mário Lúcio, músico e ministro da Cultura de Cabo Verde. O programa cultural inclui ainda, amanhã à noite, o espectáculo Mar Me Quer, baseado num texto de Mia Couto, que será apresentado pelo Teatro Meridional. 

Os linguistas moçambicanos Perpétua Gonçalves e Gregório Firmino, o escritor cabo-verdiano Germano Almeida, o autor timorense Luís Cardoso ou a romancista portuguesa Lídia Jorge são alguns dos oradores que intervirão ao longo dos três dias deste congresso, que encerra na sexta-feira.

 

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