Sucessor de Kirchner em risco para segunda volta das presidenciais na Argentina

Daniel Scioli venceu por pouco e tem agora que enfrentar o candidato de centro-direita e quase 65% da oposição política a Kirchner.

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Daniel Scioli pediu o apoio dos indecisos e eleitores independentes para a segunda volta Martin Acosta/Reuters

O favorito para as presidenciais na Argentina e o sucessor político da actual Presidente venceu por pouco as eleições deste domingo e terá de enfrentar agora uma difícil segunda volta, em Novembro.

Daniel Scioli não ultrapassou os 36,7% dos votos – já com mais de 97% dos boletins contados, na manhã desta segunda-feira. É imediatamente seguido do candidato do centro-direita e líder da plataforma Mudemos, Mauricio Macri, com 34,4%.

É um duro golpe para a Presidente argentina, Cristina Fernández de Kirchner, e um resultado que pode augurar o fim do domínio da família no país, 13 anos depois de o seu marido, Néstor Kirchner, que morreu em 2010, ter vencido a presidência do país. 

É a primeira vez que a decisão sobre o novo Presidente da Argentina será atirada para uma segunda volta. A oposição a Scioli, figura divisiva no movimento peronista, visto como muito ligado a Kirchner, representa agora quase 65% do eleitorado, que se poderá aliar em torno do candidato de centro-direita.

É isso que Scioli quer evitar. "Peço aos indecisos e aos eleitores independentes que se juntem a esta causa", afirmou o candidato de Kirchner na sua sede de campanha. 

“O que aconteceu hoje alterará as políticas neste país”, afirmou, por sua vez, Mauricio Macri, em Buenos Aires, cuja Câmara é governada por ele e onde a sua plataforma Mudemos venceu o candidato regional de Kirchner, Aníbal Fernández, o chefe de gabinete da Presidente. Macri pediu os votos de todos os candidatos opositores a Scioli para a "Argentina da mudança". 

Falava aos eleitores que votaram em Sergio Massa, o dissidente peronista que enfrentou Scioli e conseguia 21,3% dos votos dos resultados provisórios. Segundo escreve o El País, Mauricio Macri, que elogiou as políticas laborais do peronismo ao longo da campanha, conseguiu vencer uma parte importante do voto das classes média e baixa. Massa, por sua vez, sublinhou o potencial transformador destas eleições.

“Para além do resultado, para além das questões políticas, oxalá que comece uma nova etapa na Argentina a partir da decisão do povo”, disse Sergio Massa, que se afastou assim da candidatura de Scioli e deixou um apoio velado a Macri.  

Daniel Scioli foi escolhido a dedo por Cristina Kirchner, impedida de se candidatar a um terceiro mandato como Presidente da Argentina. Apesar de estar situado mais ao centro, Scioli surgiu quase sempre acompanhado da Presidente durante a campanha. O seu candidato a vice-presidente, escreve o El País, é um fiel do kirchernismo, Carlos Zannini.

Para vencer, Scioli precisava de 45% dos votos, ou, em alternativa, 40% e dez pontos de vantagem para o segundo classificado. As sondagens davam-no como favorito, mas antecipavam já uma segunda volta, embora com uma vantagem superior para o sucessor da Presidente. 

O candidato de Kirchner apelou na campanha a uma política de "mudança gradual", ao mesmo tempo prometendo manter os programas sociais dos últimos governos peronistas. Macri, por sua vez, promete a abertura da economia argentina, actualmente num grave período de inflação. Promessa que enfrenta o cepticismo de um país que, em confronto aberto com fundos especulativos que detêm parte da sua dívida externa, responsabiliza as políticas neoliberais da década de 90 pela crise económica do virar do século. 

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