Director-geral da Saúde come alheira de Mirandela depois dos casos de botulismo

O risco de comer alheiras de Trás-os-Montes é "completamente zero", assegura Francisco George

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Francisco George destacou a importância da mudança para analisar as causas da mortalidade Foto: Pedro Cunha

Para demonstrar apoio e reconquistar a confiança dos consumidores depois de alguns casos de botulismo alimentar terem afectado as vendas de alheiras transmontanas, o director-geral da Saúde, Francisco George, vai quinta-feira degustar o conhecido enchido de Mirandela, nesta cidade transmontana.  Não é a primeira vez que uma autoridade pública protagoniza uma iniciativa deste género: na década de 90, quando se vivia a crise da chamada doença das vacas loucas, o então ministro da Agricultura, Gomes da Silva, decidiu comer mioleira de vaca para garantir que o seu consumo era seguro.

Mas Francisco George não gosta desta comparação. "Considero essa comparação infeliz. A acção protagonizada pelo [ex]-ministro da Agricultura não era de risco zero. Agora, o risco [com as alheiras] é completamente zero", acentuou. "Vou a Mirandela participar numa sessão pública promovida pela Câmara Municipal de Mirandela a convite do  respectivo presidente. O problema já está controlado. Não há casos novos. Tenho todo o gosto em explicar as medidas tomadas para contero problema do botulismo, dar conta do que tem sido feito e participar numa acção pública", explicou, lamentando o facto de a marca dos alimentos em causa poder causar confusão.

A deslocação do director-geral da Saúde acontece depois de os agentes locais terem pedido a intervenção do Governo e das autoridades competentes para esclarecimento dos consumidores, na sequência da polémica com cinco casos de botulismo alimentar associados a alheiras de uma marca comercial denominada "Origem Transmontana" e que estão a afectar a produção e as vendas dos enchidos regionais.

Sobre o impacto que a polémica provocou, e numa altura em que há produotres que se queixam de ter visto as suas vendas cair para metade, Francisco George acredita que vai haver uma recuperação, uma vez que o problema está debelado. "Dos cinco casos confirmados, todos evoluiram no bom sentido", garantiu.

Foi o município de Mirandela que tornou pública a ida do director-geral da Saúde a Mirandela, onde se vai reunir quinta-feira com os presidentes de Câmara do distrito de Bragança  "para demonstrar o seu apoio à alheira de Mirandela e fumeiro da região" e, à hora do almoço, "degustar" uma alheira. A iniciativa está marcada para as 12h30, no Palácio dos Távoras, em Mirandela.

Os problemas começaram em 26 de Setembro, após a divulgação de um comunicado conjunto da Direcção-Geral da Saúde (DGS), da Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária, da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica e do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge. As autoridades davam conta da confirmação de casos de botulismo alimentar associados à marca "Origem Transmontana" e da decisão de retirar de imediato do mercado alheiras e queijos da referida marca. 

De imediato sucederam-se os cancelamentos de encomendas aos produtores de alheira de Mirandela, um dos enchidos mais característico de Trás-os-Montes. As entidades gestoras de todo o fumeiro certificado do Nordeste Transmontano reagiram, demarcando-se da empresa alvo de investigação, assegurando que os enchidos certificados da região obedecem a um rigoroso processo de controlo e garantia de qualidade. 

As organizações e outras entidades, como a Comunidade Intermunicipal Terras de Trás-os-Montes, puseram ainda em causa o facto de ser possível registar marcas comerciais com nomes associados a uma região ou a produtos locais.

Uma comitiva de Mirandela foi recebida em Lisboa, no dia 13, pelo secretário de Estado adjunto e da Economia, Leonardo Mathias. Recebeu então a garantia do compromisso do Governo em apoiar os produtores de alheira e ajudar a dissociar o fumeiro regional certificado da marca ligada aos casos de botulismo.

De acordo com a última actualização efectuada pela DGS, estão confirmados cinco casos de botulismo alimentar, três notificados na região Norte, um na região Centro e outro na Suiça, o de um cidadão que consumiu alimentos suspeitos em Portugal. Destes, quatro já tinham tido alta, e um doente continuava internado, mas em situação clínica estável e com prognóstico favorável.

Estes casos de toxinfecção estão "associados à ingestão de carnes fumadas daquela marca", afirmo  Isabel Marinho Falcão, da Unidade de Apoio às Emergências de Saúde Pública da  DGS, que nota que, quando o problema foi detectado, "os produtos em causa foram retirados do mercado e as pessoas foram aconselhadas a deitar fora os produtos desta marca que tinham em casa".

O responsável pela "Origem Transmontana" alegou na altura que os produtos tinham sido adquiridos noutros locais. Isabel Marinho Falcão afirma que o facto de terem sido reembalados corresponde a uma forma de "manipulação" . A contaminação poderá ter ocorrido em várias fases do circuito, na produção, na manipulação ou no transporte, explica.

O botulismo é a designação dada às intoxicações provocadas pela bactéria Clostridium botulinum e é provocado pela ingestão de alimentos contaminados com a toxina produzida por esporos desta bactéria (“toxina botulínica”).

Com características clínicas graves, esta doença pode ser prevenida através de uma correcta preparação dos produtos alimentares. Os sintomas que as pessoas afectadas apresentam podem ser digestivos ou neurológicos, incluindo fraqueza, visão dupla e dificuldade em falar e em engolir. Se não for diagnosticada e tratada, pode originar uma paralisia gradual, levando à morte por paragem cardiorrespiratória. com Lusa

 

 

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