Psicose dos ataques em Israel provoca linchamento de refugiado

Começou a ser levantado muro que foi imediatamente comparado à barreira erguida durante a segunda Intifada. Autoridades dizem que é temporário e que se destina a impedir o lançamento de pedras e engenhos incendiários.

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Polícia ferido a ser retirado do local do ataque DUDU GRINSHPAN/AFP
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Imagem do muro que começou a ser erguido no domingo THOMAS COEX/AFP

Mila Abtum, ou Habtom Zarhum, como também foi identificado, refugiado eritreu, 26 ou 29 anos, as versões variam, é uma das últimas vítimas da vaga de violência que nas últimas semanas se abateu sobre Israel e os territórios palestinianos. O que lhe aconteceu é um sinal da psicose que parece estar a tomar conta do país. Erradamente considerado participante no ataque em que um árabe-israelita matou um soldado e feriu outras 11 pessoas, na noite de domingo, foi atingido a tiro e pontapeado, acabando por morrer dos ferimentos.

Descrito como calmo e modesto, Mila Abtum trabalhava na agricultura, tinha ido a Beersheba para renovar o visto de permanência e regressava a casa, segundo a Reuters. O jornal Haaretz escreveu que era um requerente de asilo à espera de resposta ao seu pedido.

Apanhado no meio do ataque à estação rodoviária da cidade do Sul de Israel, um agente da segurança achou que era um segundo homem do ataque e disparou sobre ele. Já no chão, foi pontapeado por um grupo de pessoas, incluindo um soldado. Viria a morrer dos ferimentos sofridos.

Imagens divulgadas na Internet mostram um agente a disparar sobre um homem, provavelmente o cidadão eritreu. Noutro vídeo vêem-se pessoas à volta de feridos e homens a darem pontapés no homem, incluindo na cabeça. Algumas pessoas tentam interpor-se. “O país está num caos. Os civis estão confusos, as pessoas estão a fazer justiça pelas próprias mãos”, disse, citado pela Reuters, Sagi Malachi, o patrão de Mila Abtum, como lhe chamou a agência, ou Habtom Zarhum, como o designou o Haaretz.

O autor do ataque de Beersheba foi um jovem identificado pela polícia israelita como Muhanad Khaleel Uqbi, 21 anos, beduíno árabe de nacionalidade israelita, que entrou na estação com uma pistola e uma faca e matou a tiro um sargento, Omri Levy, de 19 anos. Depois, apoderou-se da arma do militar e continuou a disparar até ser abatido. Entre os 11 feridos, quatro são polícias. Foi depois disso que o cidadão eritreu foi alvejado.

O ataque foi mais um – e um dos mais violentos – dos que se têm sucedido quase diariamente desde o início de Outubro e provocaram já a morte de oito israelitas e mais de 40 palestinianos, muitos deles abatidos nos ataques. A sucessão de casos envolve frequentemente facas e está a deixar os israelitas em sobressalto. “O terrorismo das facadas não vencerá”, disse há dias o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu.

No domingo, Israel começou a erguer um muro que poderá ter uma extensão de 300 metros, o qual foi imediatamente comparado à barreira de separação erguida durante a segunda Intifada. A montagem da estrutura amovível – que as autoridades dizem ser temporária – foi justificada, segunda a AFP, com a necessidade de impedir o lançamento de pedras e engenhos incendiários.

As sempre latentes tensões entre palestinianos e israelitas ganharam nova expressão depois da morte de dois colonos na Cisjordânia, a 1 de Outubro, atribuída pelo Governo de Israel ao movimento palestiniano Hamas. O caso marcou o início de uma nova espiral de violência, principalmente em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia, com confrontos entre jovens palestinianos que atiram pedras e forças israelitas que têm respondido com dureza, e uma sucessão de ataques com facas.

Uma razão apontada para a intensificação da violência são as denúncias palestinianas de que lhes está a ser limitado o acesso à Mesquita de Al-Aqsa, no Pátio das Mesquitas, lugar também venerado pelos judeus, ao mesmo tempo que aumentam as entradas de judeus.

O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, que poderá encontrar-se esta semana com Netanyahu e com o presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, apelou à “contenção” e pronunciou-se contra o envio de “observadores” para o Pátio das Mesquitas.

 

 

 

 

 

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