A alforreca é tudo

A alforreca é uma colónia que não é um molusco. Mas a metáfora de Einstein em 1920 era um molusco.

As metáforas não são fascinantes. Só as metáforas mais originais, imaginosas e sugestivas conseguem fascinar. As metáforas são fáceis de fazer. Lendo o que por aí se escreve pensar-se-ia que são difíceis e louváveis. Não.

Como toda a gente que não percebe nada de ciência ando fascinado por Carlo Rovelli. É inteligente, honesto, generoso, entusiástico e interessante. É um cientista que lê e conhece a filosofia, denunciando a malta científica de hoje em dia que só leu Popper e Kuhn.

Segundo Michael Brooks no último New Statesman a tradução para inglês de Sette brevi lezioni di fisica (da editora italiana Adelphi para a Penguin que fez um website parco mas eficaz) contou com a ajuda evidentemente benéfica de dois poetas.

O livro, que não chega a ter 100 páginas, é maravilhoso. Rovelli não é popularizador. É um físico teórico que acredita que aquilo que estuda e investiga é transmissível a quem não percebe nada de física ou de ciência.

Na edição italiana que estou a ler sem sobressaltos até chegar a tradução inglesa na segunda-feira diz-se que o universo, segundo uma metáfora de Einstein, é um molusco.

Na versão inglesa, cujo primeiro capítulo li no livro General Relativity: The Most Beautiful of Theories, não é de um molusco que se fala. É de uma alforreca ("jellyfish").

A alforreca é uma colónia que não é um molusco. Mas a metáfora de Einstein em 1920 era um molusco. Os tradutores ingleses desobedeceram. Mas acho que tiveram razão.

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