“Queremos que 5% da facturação venha de projectos inovadores”

António Rios Amorim, presidente do conselho de administração do Grupo Amorim, diz que o objectivo é criar aplicações novas com a cortiça a cada quatro anos.

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António Rios Amorim, presidente do conselho de administração do Grupo Amorim Nelson Garrido

A linha de financiamento assinada com o BEI permite um investimento de 70 milhões. Em que áreas de negócio do grupo é que esse investimento será mais visível? Os valores de investimento da Corticeira Amorim já significam 20 milhões de euros por ano. É óbvio que há investimentos em manutenção, em capacitar o nosso parque industrial, e que não tem a ver com inovação. Essa linha de financiamento destina-se a esse segmento específico, e servirá todas as áreas de negócio. Claro que a área das rolhas de cortiça é muito importante e a fiabilidade da qualidade do produtos e introdução de novas tecnologias que nos permitam responder a esse desiderato nunca é descurada. Também a eficiência operacional nesta área, com a aquisição de robotização e esquemas de automatização dos processos industriais que temos hoje são importantes.

Na área dos pavimentos há também o lançamento de novos produtos, soluções ligadas à impressão digital sobre cortiça. Nas matérias-primas temos a questão da eficiência operacional, como a movimentação logística, a escolha da cortiça, a movimentação da cortiça dentro das áreas de negócio, etc. Mas a área onde faremos um investimento importante é em tudo o que são novas aplicações da cortiça, a área dos compósitos. É a área mais diversa e a de que eu menos posso falar, porque a propriedade intelectual limita-nos um pouco.

Como se chegou a este valor para a linha de financiamento?
É um investimento muito compreensivo, foi desenvolvido pelas equipas operacionais, foi auditado durante uma semana por equipas técnicas especialistas do BEI e que foram investimento a investimento ver a relevância do ponto de vista da inovação para a fileira da cortiça. Pela nossa parte, acabamos por sustentar grande parte do nosso plano de negócios num modelo de inovação que é sobretudo liderado pela procura de mercado.

Qual é o vosso ponto de partida?
Neste momento estamos com uma missão relativamente modesta. Se considerarmos produtos e negócios que não existiam antes de 2012, encontramos uma facturação de cerca de 16 ou 17 milhões de euros de aplicações novas. Numa empresa com um volume de negócios de 560 milhões de euros por ano parece muito pouco. Temos a ambição de aumentar este número, até chegar aos 5% [isto é, até aos 28 milhões de euros anuais].

Quando pretende atingir essa meta?
Acho que mais um ou dois anos vamos lá estar. Mas a partir dai essas aplicações já vão deixar de ser nova. O nosso objectivo é criar aplicações novas a cada quatro anos. Ou seja Isso obriga-nos a descobrir produtos e soluções que resultem no mercado. E a cada quatro anos fazemos reset, esse produto deixa de ser “novo”, por isso temos de descobrir, e de comercializar, algo a que possamos chamar de “inovador”.

De onde espera que surjam mais ideias inovadoras?
Falei numa lógica de procura de mercado, mas não temos de ver isto só do ponto de vista do consumidor. Não precisam de ser produtos de moda, desporto, artigos para a casa. Pode ser na área de aplicações industriais, por exemplo. Porque é que não podemos desenvolver aqui materiais para aeronáutica, para o space shuttle, ou para o tratamento de retirar metais pesados da água, para absorver os derrames de petróleo, como o CorkSorb? Estou a falar, sobretudo, de projectos que tem de ter carácter disruptivo. E esses podem surgir em todas as áreas. É fantástico ver as ideias a fervilhar. Há uma aposta grande na aplicação. Mas há uma aposta muito grande nas pessoas. Na nossa incubadora pensamos sempre que é melhor investir num mau projecto mas com gente boa, do que investir no bom projecto com gente sem a garra suficiente. A gente boa com um mau projecto pode sempre ser encarreirada para um projecto bom.

 

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