De decreto a decreto, a Guiné vai tremendo

Baciro Dja é o homem que se segue no governo. Neste momento há mais desgoverno do que governo

Por decreto demitiu Domingos Simões Pereira e por decreto nomeou Baciro Dja. O Presidente da Guiné-Bissau colocou-se a si próprio numa situação politicamente insustentável a prazo e colocou o país numa posição de grande instabilidade e que só ainda não descambou para uma situação de descontrolo nas ruas porque os militares mantêm uma posição neutral perante a crise política.

Depois de ter demitido um governo com apoio maioritário no Parlamento, e que recentemente viu ser aprovada uma moção de confiança por unanimidade, José Mário Vaz resolveu agora convidar o terceiro vice-presidente do PAIGC para ocupar a cadeira de primeiro-ministro. Baciro Dja já foi ministro da Defesa de Carlos Gomes Júnior e era ministro da Presidência do Conselho de Ministros e dos Assuntos Parlamentares antes de se incompatibilizar com Simões Pereira.

José Mário Vaz justificou a escolha de Baciro Dja com o facto de ele ter sido director de campanha nas legislativas de 2014 e, como tal, “é um conhecedor profundo” do programa eleitoral do PAIGC. Mas os guineenses não votaram em 2014 apenas num programa. Votaram em pessoas que o iriam executar. Não basta ao primeiro-ministro nomeado por decreto ter o programa do partido, é preciso ter o próprio partido. E sem o apoio dos deputados do PAIGC não há programa de governo de Baciro Dja que passe no Parlamento. E, se à segunda não for aprovado, cai o Governo e teremos novamente (e pela enésima vez) eleições antecipadas.

A julgar pelas reacções que nos vão chegando da Guiné, nomeadamente de organizações da sociedade civil que estão a apelar à desobediência civil e à destituição de José Mário Vaz, é provável que num cenário de novas eleições Domingos Simões Pereira volte a vencer. E nesse cenário José Mário Vaz ficará numa posição insustentável e terá de tirar as devidas ilações.

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