Carlos Vasconcelos Cruz nomeado vice-presidente da Galilei

A possibilidade de recorrer a um Plano Especial de Recuperação é um dos dossiers que a nova gestão da Galilei, que agora integra o ex-presidente no grupo PT nos anos 2000, tem pela frente.

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Mira Amaral só se compromete, para já, a ficar com 750 funcionários do BPN público/arquivo

Carlos Vasconcelos Cruz é o novo vice-presidente do conselho de administração da Galilei, para o triénio de 2015-2017, e foi indicado nesta segunda-feira pelos accionistas no contexto das mudanças de governação da sociedade até aqui liderada por Fernando Lima. Falta ainda conhecer o rosto do novo presidente da holding que agrupa os interesses da Sociedade Lusa de Negócios SLN, ex-dona do BPN.

A Galilei, que herdou as dívidas da SLN ao BPN, nomeou Vasconcelos Cruz, ex-presidente executivo no grupo PT, vice-presidente executivo para o triénio 2015-2017. De acordo com o comunicado oficial votaram favoravelmente a nomeação 93,41% dos accionistas na assembleia-geral e que representavam 50,32% do capital social da holding

Para além de Vasconcelos Cruz, que vai substituir Fernando Cabecinha como número dois da Galilei, a SLN Valor (que concentra mais de 30% do capital da holding) informou que se prepara para revelar também o nome do futuro presidente (cargo que tem sido ocupado por Fernando Lima). Irá fazê-lo “em breve”, mas só depois “da sua desvinculação de funções que desempenha actualmente”. Tudo indica que se trata de um gestor recrutado no sector bancário. A reunião magna desta segunda-feira, foi iniciada a 27 de Maio e interrompida por duas vezes. 

Para além de presidente executivo no grupo PT entre 1999 e 2006 (PT Comunicações, PT Investimentos Internacionais e Telesp Celular – Brasil) e da Dun & Bradstreet em Portugal e Espanha, Vasconcelos Cruz chegou a desempenhar, em 2009, as funções de CEO da Privado Holding, a entidade que dominou o banco fundado por João Rendeiro até à falência em 2008. Esta será, assim, a segunda vez que Vasconcelos Cruz integra órgãos sociais de holdings ligadas a bancos que colapsaram.

Na nota emitida pela SLN Valor, os accionistas indicam que mandataram a nova administração [Vasconcelos Cruz e os vogais Almiro Silva, Jorge Petiz e Álvaro Cordeiro] “para negociar a melhor solução” para resolver os problemas do grupo - o reforço ou diminuição do capital da sociedade- “incluindo a possibilidade do recurso a um Plano Especial de Recuperação".  O Conselho Superior da Galilei vai continuar a ser liderado por Alberto Figueiredo, o rosto da SLN Valor, que já veio informar “que será proposta a nomeação de um representante dos obrigacionistas da sociedade, aquando da primeira reunião daquele órgão”. Alberto Figueiredo, Almiro Silva, Jorge Petiz e Álvaro Cordeiro são accionistas da SLN Valor.

Um dos temas que a nova gestão da Galilei terá de levar em linha de conta é a relação da empresa com o Estado português. A Parvalorem, o veículo público que gere os activos tóxicos do ex-BPN, já se constituiu como credor privilegiado e reclama da holding (e dos accionistas) dívidas de 1100 milhões de euros. Mas deste “bolo” apenas 475 milhões são reconhecidos e dispõem de garantias certificadas afectas a herdades, a projectos imobiliário, empresas, como o Grupo Português de Saúde, ou unidades fabris.

Dos 1100 milhões de euros, cerca de 600 milhões são créditos associados a sociedades off-shores que a Parvalorem admite serem da esfera Galilei, mas que esta não assume. Dado que as suas competências a impedem de gerir ou vender activos, o plano de recuperação negociado entre a Parvalorem e a Galilei prevê um período de 15 anos para que o património possa ser rentabilizado e as responsabilidades liquidadas

A dimensão das dívidas reclamadas pelo Estado justificaram movimentações da Parvalorem para evitar que se instalasse um “vazio de poder” governativo na Galilei, que foi palco de um braço-de-ferro entre gestores e accionistas. Isto, por temer o impacto no desenvolvimento dos projectos empresariais que estão a garantir os créditos reclamados pelo Estado.

Mas o diferendo não impediu a assembleia-geral de dar um voto de louvor à anterior administração e em especial ao ex-presidente Fernando Lima (Grão Mestre do Grande Oriente Lusitano no exercício das suas funções), um apoio validado por 93,51% dos presentes na reunião e sem votos contra.

 Numa nota dirigida ao PÚBLICO, o ex-presidente Fernando Lima já veio recusar a tese de que “houve uma guerra fratricida” dentro da Galilei que separou accionistas (que são cerca de mil) da sua equipa: “Ao aproximar-se o final do segundo mandato é que os senhores accionistas, no exercício de um seu direito inalienável” solicitaram “que tivesse em conta um conjunto de recomendações quanto aos membros do conselho de administração”, facto que o levou [a Fernando Lima], “naquele que é um seu direito, o da livre escolha da sua responsabilidade”, a discordar. E “o processo negocial que decorreu dessas posições não chegou a um resultado satisfatório. Sem nenhum drama, nem guerra.”

 

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