Buçaco quer investir nove milhões para ser património da humanidade

Mealhada e Fundação Mata do Buçaco concorrem a fundos comunitários mas candidatura à UNESCO só pode avançar a partir de 2017

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A Mata ultrapassou pela primeira vez a barreira dos 200 mil visitantes no ano 2015 Paulo Pimenta

A Câmara Municipal da Mealhada (CMM) e a Fundação Mata do Buçaco (FMB) anunciaram terça-feira o concurso a fundos europeus que permitirão preparar a Mata para uma candidatura à classificação como património da humanidade por parte da UNESCO.

No quadro de apoio Portugal 2020, o município da Mealhada (distrito de Aveiro), onde está localizada a Mata do Buçaco, pretende utilizar o financiamento comunitário para recuperar o edificado mas também para a preservação de fauna e flora. Num projecto com valores a rondar os nove milhões de euros, comparticipado em 85% no âmbito do Programa Operacional do Centro, será a autarquia a assumir os restantes 15% do investimento.

À margem da conferência de imprensa, o presidente da FMB, António Gravato, explicou ao PÚBLICO que estão identificados 14 projectos que serão candidatos ao financiamento. Entre eles está a recuperação do património edificado, como o Convento de Santa Cruz que está muito degradado e o conjunto monumental da Via Sacra, “a única réplica no mundo semelhante a Jerusalém”. O primeiro tem um custo de 2,2 milhões de euros e o segundo 1,7. No entanto o presidente não acredita que seja disponibilizada a totalidade da verba, mas calcula que, se for aprovado o financiamento para estes dois projectos, “já é um passo importante”.

O director da fundação classifica ainda como prioritário o Plano de Gestão Florestal, “absolutamente estratégico se se quiserapresentar candidaturas a qualquer fundo comunitário em condições de elegibilidade”. Com previsão de conclusão para o final de Junho, o plano será incluído na candidatura aos fundos para que seja financiado retroactivamente.

O presidente da CMM, Rui Marqueiro refere que este é um “esforço” para tentar elevar a Mata a património da humanidade. O autarca realça a dificuldade de uma classificação por parte da UNESCO e afirma que este é o “passo seguinte” depois deste espaço já estar inscrito, desde 2004, na lista nominativa da instituição.

Gravato explica a importância da candidatura aos fundos para a fundação, uma vez que esta é dotada de “parcos recursos e vive através das receitas que obtém com a sua actividade”. O presidente realça ainda que a Mata é propriedade do Estado, sendo responsabilidade da FMB gerir o espaço, pelo que considera que os 15% no financiamento deviam ser assumidos pela administração central. No entanto, esclarece que esta “não é uma crítica a nenhum governo porque tem sido transversal a todos”.

Uma eventual candidatura a património da UNESCO só poderá ser formalizada a partir de 2017, ano em que Portugal deixa de fazer parte do comité internacional da instituição, uma vez que “não estão autorizadas submissões para avaliação em causa própria”, explica António Gravato.

Na passada sexta-feira, a Assembleia da República aprovou por unanimidade dois projectos de resolução que visam a requalificação da Mata do Buçaco, com vista a uma futura candidatura da Património Mundial da UNESCO. O projecto do PSD e CDS/PP recomendava ao governo que o imóvel, que está classificado como de interesse público, passasse a ser monumento nacional.

Já o projecto do Bloco de Esquerda, também aprovado, apontava para a necessidade de o governo proceder à “recuperação dos trilhos e edifícios danificados pelo ciclone Gong (que se abateu na Mata no início de 2013) e proceda à manutenção dos restantes espaços”.

Em Março, um estudo da Universidade de Aveiro apontava para o estado de degradação do conjunto monumental da Via Sacra da Mata do Buçaco e recomendava a realização de obras urgentes no conjunto de 32 edifícios.

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