Trinta anos de adesão pelos olhos dos eurodeputados de hoje

Aspectos positivos são os mais destacados da integração europeia de Portugal. É "uma história de sucesso", para Martin Schulz. As críticas vêm da esquerda e visam o euro

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Portugal é hoje um país muito mais desenvolvido, democrático e estável do que em 1986, apesar das dificuldades económicas dos últimos anos. Foi esta a mensagem que sobressaiu dos encontros promovidos pelo Parlamento Europeu esta semana, em Estrasburgo, por ocasião do trigésimo aniversário da assinatura dos tratados de adesão.

"Hoje temos razões para celebrar a nossa adesão", declarou o eurodeputado socialista Carlos Zorrinho no evento. "Temos uma sociedade muito mais moderna, mais integrada na sociedade global, temos uma democracia consolidada", disse o eurodeputado socialista.

Também Paulo Rangel, do PSD, afirmou que as vantagens da integração europeia são inegáveis: "Não há qualquer comparação entre o país de 1985 e o país de 2015, com todas as dificuldades de que se possam falar. O salto é absolutamente brutal". Realçou ainda que o processo de integração europeia teve o mérito de contribuir para a "consolidação da democracia".

Para António Marinho e Pinto, o balanço é mais mitigado: "A adesão teve alguns aspectos positivos, alguns deles muito positivos, mas há também aspectos negativos, que resultam da própria integração europeia."

Mais crítico foi o eurodeputado do PCP João Ferreira que lamentou "o impacto muito negativo sobre sectores nacionais que já eram frágeis", citando o desaparecimento de explorações agrícolas, redução da frota pesqueira e a diminuição do peso da indústria na economia nacional.

Numa altura em que a moeda única europeia tem a sua credibilidade posta em causa pelas dificuldades económicas nos países periféricos e pelos riscos resultantes da crise na Grécia, cujo desfecho é ainda incerto, a adesão de Portugal à união monetária foi naturalmente referida, com amplas críticas da esquerda.

A eurodeputada do Bloco de Esquerda, Marisa Matias, considerou assim que o tratado de Maastricht e a adesão ao euro fazem a diferença entre "o que começou por ser uma  integração positiva" e que "passou a transformar-se numa integração negativa." 

"Há um facto incontornável nos últimos 15 anos”, segundo João Ferreira: "os valores acumulados de uma década e meia de euro apontam para uma longa estagnação, com recessão nos últimos anos".

Mas também entre os representantes dos outros partidos há consciência que nem tudo correu bem depois da adesão de Portugal ao euro: "Entrámos na zona euro com uma economia não totalmente preparada para ser competitiva nesse contexto", reconheceu Zorrinho.

E Paulo Rangel, que não tem dúvidas que Portugal tomou a opção acertada ao aderir ao euro, referiu que "se a adesão devia ter sido feita em 1999 ou em 2001, ou mais tarde, ou se ela devia ter sido feita a esta cotação ou a uma cotação inferior, são questões que os economistas continuam a ter."

"Promessas não cumpridas"
O presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, também assinalou o trigésimo aniversário da adesão de Espanha e Portugal, afirmando nesta terça-feira que o país "se desenvolveu muito" nos últimos 30 anos, apesar de admitir que "nos últimos cinco anos houve uma sombra nesta história de sucesso".

"Trinta anos depois, nem todas as promessas foram cumpridas, nem todos os desejos foram alcançados", disse Schulz. "Os cidadãos comuns, e particularmente os jovens desempregados, pagaram pela crise que outras pessoas irresponsáveis causaram."

Destacando os sacrifícios que foram impostos aos cidadãos de Espanha e de Portugal, Schulz afirmou que importa agora "cumprir a promessa de um fortalecimento económico do bem-estar para muita gente e empregos para os jovens."

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