Morro da Sé termina em alta mas com os dois projectos-âncora por definir

Conferência assinalou o final do programa de acção que estava na origem de uma candidatura a fundos comunitários

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Regina Coelho

Até 2009, o número de transacções de imóveis no Morro da Sé, no Porto quase não existia, mas desde esse ano até Maio de 2015, 46 espaços mudaram de mãos, num investimento global de cerca de 4,4 milhões de euros. Os números deixam satisfeitos os responsáveis da Porto Vivo – Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU), no momento de encerrar o programa de uma das zonas mais emblemáticas da cidade. Um encerramento apenas relativo à candidatura a fundos comunitários, uma vez que há ainda muito por fazer naquela área, incluindo os dois projectos-âncora previstos desde o início e que continuam por definir.

Em Novembro do ano passado, o presidente da SRU, Álvaro Santos explicava que a unidade hoteleira e a residência universitária previstas no programa do Morro da Sé – e cujo processo tinha sido travado, depois de ter sido revogado o contrato de parceria com o consórcio liderado pela Novopca – seriam alvo de concursos públicos, para se encontrarem novos parceiros, interessados em construir e gerir os dois espaços. Na altura, o responsável da Porto Vivo tinha a expectativa de lançar os dois concursos ainda nos primeiros meses de 2015, mas nenhum dos processos avançou.

Durante a conferência final do programa de acção do Morro da Sé, que decorreu na tarde desta sexta-feira, no Paço Episcopal, Paulo Valença, da SRU avançou que os dois projectos estão ainda em fase de reavaliação e que, neste momento, uma das hipóteses em cima da mesa é que o espaço maior, que engloba 22 edifícios (mais de 7 mil m2), e estava destinado à residência universitária venha a ser, afinal, destinado à unidade hoteleira, ficando os seis edifícios (3500 m2) inicialmente previstos para o hotel para a residência que, afinal, já não deverá ser apenas de estudantes.

Álvaro Santos explicou melhor o processo, à margem da conferência: “Tivemos de rever o conceito que estava previsto, o que fez demorar o processo um bocadinho mais. Na óptica do mercado e de vários interessados com quem já contactamos, percebemos que caiu um bocadinho em desuso o conceito de residência universitária, devendo este projecto ser adaptado a algo mais atractivo”. O líder da SRU diz, assim, que dificilmente a residência universitária será exclusivamente para estudantes, apesar de estar previsto que se mantenha um espaço ligado à universidade. “Poderá ser um local que receba estudantes, mas tenha também uma parte de guesthouse, ou então que acolha também professores ou investigadores”, disse.

O conceito não está fechado e o mesmo se passa com o tipo de hotel que irá nascer no Morro da Sé, garante Álvaro Santos, que arrisca, ainda assim, afirmar que os concursos públicos para os dois projectos poderão ser lançados “antes de Agosto”. Depois, e a concretizar-se este prazo, ainda será necessário aguardar “uns três anos” para ver a obra pronta.

Para já, ninguém garante que nesse prazo o centro histórico do Porto, onde está o Morro da Sé, continue a cativar interessados e ao mesmo ritmo dos últimos anos, mas, para já, os dados apresentados pelo Observatório da Reabilitação da Baixa do Porto são muito animadores.

Lançado em Novembro do ano passado, o Observatório resulta de uma parceria da SRU com a Confidencial Imobiliário e os primeiros resultados, apresentados na conferência desta sexta-feira, apontam para uma valorização acumulada do mercado imobiliário no centro histórico na ordem dos 43%. Na verdade, segundo explicou Ricardo Guimarães, do Confidencial Imobiliário, houve quem não se importasse de pagar 2875 euros pelo metro quadrado de uma fracção reabilitada nesta zona da cidade.
Ricardo Guimarães explicou ainda que o preço médio destas fracções foi de 2370/m2, enquanto o preço médio dos prédios não reabilitados foi de 490/m2. “São dados que mostram que o potencial de criação de valor em reabilitação é muito diversificado e acomoda diferentes ambições”, disse.

O Observatório estabeleceu também que 91% das obras lançadas no município do Porto em 2014 foram de reabilitação e que, nesse mesmo ano, o número de transacções de imóveis na Zona de Intervenção Prioritária (que abrange todo o centro histórico) foi de 272, num valor total de 87,5 milhões de euros. Números que são cerca do dobro do que acontecera no ano anterior e que, em 2015, parecem ter estabilizado.

Nitidamente satisfeito, Álvaro Santos admitiu ainda assim que há muito por fazer e pediu “toda a atenção e energia” para a reabilitação, em concreto, do Morro da Sé.

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