Israel matou pelo menos 44 palestinianos em abrigos da ONU

Locais “invioláveis” foram atingidos, enquanto o estado-maior israelita era notificado da localização exacta dos deslocados. A guerra do Verão passado matou 2200 palestinianos em Gaza.

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Em Gaza, muitas escolas e casas permanecem por reconstruir Mahmud Hams/AFP

Uma escola de meninas foi atingida por 88 projécteis. Outra por fogo directo com projécteis antitanque. Numa terceira, caiu um míssil; noutra, disparos de um tanque. A 30 de Julho, a escola primária de Jabalia, apinhada de refugiados de guerra que dormiam, foi acordada “com os disparos de projécteis explosivos de 115mm” sem “qualquer aviso prévio do Governo de Israel”, transformando “uma sala de aulas num cenário de escombros, roupas e lençóis ensanguentados”, escreve a Associated Press. Nesta escola, contaram-se 17 ou 18 mortos, incluindo um funcionário da ONU e dois dos seus filhos.

Pelo menos 44 palestinianos foram mortos e 227 feridos em sete abrigos da ONU, locais que a organização descreve como “invioláveis”. Estamos na guerra do Verão passado, a mais devastadora de todas as que a Faixa de Gaza, enclave de 1,8 milhões, já enfrentou. Durou 50 dias e morreram 2200 palestinianos, a maioria civis, incluindo centenas de crianças, de acordo com a ONU. Do lado israelita morreram 73 pessoas, incluindo 66 soldados. Os bombardeamentos de Israel destruíram 100 mil casas.

“O inquérito concluiu que, apesar das inúmeras notificações dadas ao Exército com as coordenadas GPS sobre as escolas e os locais onde se encontravam deslocados, em todos os sete casos investigados com escolas a serem atingidas, directamente ou na vizinhança imediata, os ataques são imputáveis às Forças de Defesa Israelitas”, diz o porta-voz da Agência da ONU para os Refugiados Palestinianos, Chris Gunness. “Em nenhuma das escolas atingidas foram encontradas armas, nem nenhuma foi usada por grupos armados”, acrescentou no sumário de um relatório de 207 páginas que vai permanecer privado.

“É deplorável que pelo menos 44 palestinianos tenham sido mortos em resultado de acções israelitas contra instalações da ONU que estavam a ser usadas como abrigos de emergência”, afirmou o secretário-geral das Nações Unidas numa carta ao Conselho de Segurança. Ban Ki-moon considerou ainda “inaceitável” que grupos palestinianos tenham colocado a organização e os civis em risco ao usarem três escolas para “esconder armas”. As três estavam vazias.

A guerra, a última, foi no Verão passado. Este relatório é apenas um; outro, do Conselho de Direitos Humanos da ONU, será divulgado em Junho. A guerra entre Israel e o Hamas começou depois de um grupo de israelitas ter assassinado um adolescente palestiniano em retaliação pelo assassínio por parte de palestinianos de três adolescentes israelitas, inicialmente raptados.

A divulgação deste inquérito coincide com novo aumento da tensão: a violência tem sido intermitente desde o fim do mortífero conflito, negociado pelo Egipto. Sábado, militares israelitas mataram dois jovens palestinianos em dois incidentes. As autoridades acusam ambos de estarem armados com facas – um, de 20 anos, terá esfaqueado um polícia; outro, de 17, atacado a polícia de patrulha com uma faca num checkpoint em Jerusalém Oriental.

A família deste adolescente, Ali Abu Ghannan, rejeita a versão israelita, garantindo que o rapaz não podia estar armado e que regressava da festa de um amigo quando foi morto. A família começou por recusar receber o corpo, porque as autoridades israelitas queriam impor um número de pessoas no funeral, algo que Israel faz com frequência em Jerusalém. O corpo acabou por ser entregue depois do prazo estipulado pelos próprios israelitas e o enterro juntou 200 pessoas e terminou sem incidentes.

Mais tarde, manifestantes palestinianos lançaram pedras contra a polícia antimotim israelita no Leste de Jerusalém. Na véspera, tanques israelitas tinham disparado contra Gaza em resposta ao que dizem ter sido um rocket lançado a partir do território durante os festejos do Dia da Independência israelita.

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