Caos na Líbia acelera imigração para Itália

Agravamento da situação no vizinho do outro lado do Mediterrâneo, leva o Governo de Roma a temer êxodo maciço.

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Muitos dos que fogem queixam-se de terem sido aterrorizados por milícias armadas AFP

Só no domingo foram salvos 2164, muitos mais do que os 400 imigrantes que em média, nos últimos meses, todos os dias são socorridos no Mediterrâneo, quando procuram chegar a Itália, a bordo de embarcações improvisadas.

O crescente afluxo de imigrantes, acelerado pelo agravamento do caos na Líbia, levou, esta segunda-feira, o ministro italiano dos Negócios Estrangeiros, Paolo Gentiloni, a pedir um reforço da solidariedade da União Europeia. O apelo ocorre depois de, na  semana passada, cerca de 330 pessoas terem desaparecido ou morrido de frio no Mediterrâneo, no meio de uma tempestade.

Em Janeiro, chegaram às costas italianas 3528 imigrantes, mais 40% do que no mesmo mês do ano anterior. O agravamento da situação na Líbia, onde se confrontam grupos armados, e jihadistas decapitaram  21 homens identificados como cristãos egípcios, leva a Itália a temer um êxodo maciço.  

Os imigrantes socorridos no domingo viajavam em 12 embarcações e foram recolhidos por navios italianos numa vasta operação ao largo da ilha de Lampedusa, a algumas dezenas de milhas marítimas da costa Líbia.

O site TGCom24 noticiou que 520 migrantes foram levados para o navio Orione, da Marinha italiana. Mais de 900, segundo a AFP, foram recuperados por vedetas de guarda-costeira e da polícia fiscal. Navios diversos recolheram os restantes.

São, como habitualmente, homens, mulheres, crianças, que muitas vezes viajam sós, oriundas da Líbia mas também da Eritreia e de países da África Central e Ocidental. Muitos queixam-se de terem sido aterrorizados por milícias armadas.

O ministério dos Transportes denunciou, num comunicado citado pela AFP, um incidente “alarmante” ocorrido no domingo perto da costa líbia: uma lancha rápida aproximou-se de uma vedeta da guarda-costeira envolvida na operação de socorro e quatro homens armados de metralhadoras Kalachnikov obrigaram os socorristas a abandonarem a embarcação vazia de onde tinham sido recolhidos os ocupantes.

Numa carta à chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, e aos membros da Comissão Europeia que têm marcada para 4 de Março uma reunião para discutir as questões da imigração, o ministro Gentiloni fala do “sentimento de consternação e frustração” provocado pela repetição de dramas no Mediterrâneo e sublinha a “complexidade de um fenómeno que parece não diminuir de intensidade”.

“É mais necessário do que nunca que a UE responda de maneira adequada, aumentando a solidariedade e partilhando a responsabilidade ao nível europeu”, diz, na carta citada pela AFP.

A operação Tritão, lançada a 1 de Novembro pela agência europeia Frontex, a pedido das autoridades italianas, depois de o Governo de Roma ter oficialmente posto fim à sua operação Mare Nostrum, abandonada por falta de apoio europeu, é considerada pelo ministro “um primeiro passo na direcção certa”.

O caos na Líbia tem deixado as mãos livres à actuação de redes de imigração ilegal para Itália. Segundo as autoridades de Roma, em 2014, ano recorde de imigração, chegaram a Itália 170 mil pessoas.

 

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