O ano de todos os regressos

De Rossellini à Guerra das Estrelas, das Cinquenta Sombras de Grey a Robert Bresson, de Lucrecia Martel e Edward Snowden a Mad Max e Schwarzenegger, 2015 promete ser um ano rápido. Jorge Mourinha

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A partir de finais de Março, dez filmes de Rossellini ocuparão em rotação o Nimas, em Lisboa, e o Teatro do Campo Alegre, no Porto
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Uma das favoritas ao Óscarde melhor actriz – Julianne Moore por "O Meu Nome É Alice"
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Um Ano Muito Violento: Oscar Isaac e Jessica Chastain numa Scorsesiana história de crime assinada por J. C. Chandor
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Olhos Grandes: Tim Burton reencontra os argumentistas de Ed Wood para contar a história verídica da pintora Margaret Keane, com Amy Adams e Christoph Waltz nos papéis principais
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A adaptação por Sam Taylor-Johnson do best-seller As Cinquenta Sombras de Grey é o primeiro dos “filmes-evento” que alimentam os grandes estúdios.
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Terminator: Genisys
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Mad Max: Estrada da Fúria

É obra: quando o número de espectadores que vão ao cinema em Portugal continua em queda, a dezena de distribuidoras activas no nosso país tem neste momento em carteira nada menos de duas centenas (!) de filmes para os próximos doze meses. Razão mais do que suficiente para tentar marcar já na agenda um roteiro possível do que vai acontecer.

E vale a pena reservar já data para o ciclo do mestre neo-realista Roberto Rossellini com que a Leopardo Filmes sucede a reposições de Ozu e Satyajit Ray. A partir de finais de Março, dez filmes ocuparão em rotação o Nimas, em Lisboa, e o Teatro do Campo Alegre, no Porto: Roma Cidade Aberta (1945), Libertação (1946), Alemanha Ano Zero (1948), L’Amore (1948), Stromboli (1950), La Machina Amazzacattivi (1952), O Medo (1954), Viagem em Itália (1954) e India (1959), e os 35 minutos de La Forza e la Raggione, uma entrevista ao chileno Salvador Allende realizada em 1971.
É a mais “visível” das “operações especiais” que se anunciam para 2015, às quais se devem juntar, já em Fevereiro, a integral do mestre francês Robert Bresson na Cinemateca. Mais para a frente, anunciam-se igualmente os restauros de Verdes Anos e Mudar de Vida de Paulo Rocha (acompanhados pela estreia do seu “testamento” cinematográfico, Se Eu Fosse Ladrão Roubava). Rocha é, com Miguel Gomes e João Salaviza, o “ponta de lança” do cinema português para 2015, que contará também com Yvone Kane, de Margarida Cardoso, e o novo documentário de Catarina Mourão, A Toca do Lobo.


Até lá, 2015 arranca – como sempre – sob o signo dos Óscares, com os últimos títulos “em falta” para a cerimónia deste ano (a ter lugar a 22 de Fevereiro) a chegarem às salas durante as próximas semanas. Entre eles estão duas das favoritas ao galardão de melhor actriz – Julianne Moore por O Meu Nome É Alice (5 de Fevereiro) e Reese Witherspoon por Livre (26) – e o filme de Laura Poitras sobre Edward Snowden, Citizenfour, nomeado para o Óscar de documentário (a 12).
E 2015 arranca também com os filmes que “falharam” as nomeações: a 5 Um Ano Muito Violento, com Oscar “Llewyn Davis” Isaac e Jessica Chastain numa Scorsesiana história de crime assinada por J. C. Chandor (Quando Tudo Está Perdido); a 26, Olhos Grandes, onde Tim Burton reencontra os argumentistas de Ed Wood para contar a história verídica da pintora Margaret Keane, com Amy Adams e Christoph Waltz nos papéis principais; a 19 Vício Intrínseco, a adaptação de Thomas Pynchon por Paul Thomas Anderson, com Joaquin Phoenix e Josh Brolin.


A 12, entretanto, já terá chegado a adaptação por Sam Taylor-Johnson do best-seller As Cinquenta Sombras de Grey, o primeiro dos “filmes-evento” que alimentam os grandes estúdios. Terá de se esperar por Dezembro para o maior deles todos – o retomar da saga da Guerra das Estrelas, agora entregue nas mãos de J. J. Abrams, com O Despertar da Força. Até lá, regressam 007 (Spectre, em Outubro, de novo com Daniel Craig e o realizador Sam Mendes), Schwarzenegger como Exterminador (Terminator: Genisys, em Julho), e Parque Jurássico com uma quarta aventura, Mundo Jurássico (Junho). Mais intrigante é a “ressurreição” de Mad Max pelo criador original, George Miller, sob os traços do britânico Tom Hardy (Mad Max: Estrada da Fúria, em Maio).


Do lado do cinema de autor, com projectos em vários estados de avanço, anunciam-se para 2015 os regressos de cineastas demasiado raros como Paul Verhoeven (a rodar em França Elle, com Isabelle Huppert), Lucrecia Martel (Zama), Jerzy Skolimowski (11 Minutes), Andrzej Zulawski (Cosmos, produzido por Paulo Branco) ou Hou Hsiao-Hsien (The Assassin). Também com novos filmes este ano: Apichatpong Weerasethakul (Love in Khon Kaen), Abdellatif Kechiche (La Blessure, com Gérard Depardieu), Michael Haneke (Flashmob), Jia Zhangke (Mountains May Depart), Emir Kusturica (On the Milky Road, com Monica Bellucci), Abbas Kiarostami (ainda sem título e rodado na China), Philippe Garrel (L’ombre des femmes), Pedro Almodóvar (Silencio) ou Brillante Mendoza (The Embroiderer). A maioria deles deverão vir a lume a tempo de Cannes (Maio) ou Veneza (Setembro). Berlim, já na semana que vem, abre hostilidades com os novos de Werner Herzog (Queen of the Desert, com Nicole Kidman), Pablo Larraín (El Club) e Terrence Malick (Knight of Cups, com Christian Bale e Natalie Portman).
Se estes serão alguns dos filmes que marcarão o ano de 2015, em Portugal veremos ainda algumas obras importantes de 2014. De Cannes, ainda aguardam estreia Leviatã do russo Andrei Zvyagintsev, Timbuktu do maliano Abderrahmane Sissako, As Maravilhas da italiana Alice Rohrwacher ou As Nuvens de Sils Maria de Olivier Assayas, todos agendados para Março/Abril. De Veneza, ainda vamos ter (sem data) o Leão de Ouro A Pigeon Sat on a Branch Reflecting on Existence do sueco Roy Andersson ou The Look of Silence de Joshua Oppenheimer (a “sequela”/”complemento” de O Acto de Matar).

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