Fundadores do movimento pró-democracia de Hong Kong pedem fim dos protestos

Trio de líderes pretende entregar-se às autoridades para evitar mais violência nas ruas. Estudantes não dão sinais de recuo.

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Os três fundadores do Hong Kong's Occupy Central Johannes EISELE/AFP

Nas últimas semanas eram já evidentes as divisões entre os manifestantes acerca das estratégias de protesto a seguir. A uni-los permanece apenas a oposição à reforma eleitoral que obriga a que as listas candidatas às eleições locais de 2017 tenham de passar pela aprovação de um comité de personalidades próximas do governo de Pequim.

As origens do movimento pró-democrático em Hong Kong são atribuídas ao grupo Occupy Central, que junta professores universitários e membros da igreja baptista, que organizou um referendo não oficial em Junho em que participaram 800 mil pessoas e que revelou uma oposição da maioria à reforma eleitoral imposta por Pequim. O que começou como um acto de desobediência civil ganhou força e impacto a partir do momento em que várias associações de estudantes liceais e universitários se juntaram aos protestos e ocuparam algumas áreas no coração de Hong Kong.

Com o passar das semanas, os protestos passaram a causar sérios transtornos à rotina da cidade – receando-se os prejuízos para aquela que é a terceira praça financeira mais importante do planeta – e o apoio popular foi-se esgotando. Ao mesmo tempo, os manifestantes não viram qualquer cedência por parte das autoridades, com quem chegaram a negociar por breves momentos.

A extinção dos protestos era, para grande parte dos analistas, um cenário já antecipado e que ganhou força esta terça-feira com o anúncio feito pelos três fundadores do movimento Occupy. “Agora que nos preparamos para nos entregar, apelamos, todos os três, aos estudantes para recuarem, para se enraizarem na comunidade e para transformarem” a natureza do movimento, disse Benny Tai.

Tai, professor de Direito na Universidade de Hong Kong, prestou homenagem aos activistas que há mais de dois meses estão na rua. Mas disse que a polícia está “fora de controlo” e que é tempo de os manifestantes “deixarem esses lugares perigosos”.

O dirigente do Occupy explicou que os três se vão entregar na quarta-feira, para mostrarem o seu compromisso com o Estado de Direito e a paz. “A rendição não é um sinal de cobardia. Render-se não é falhar, é a denúncia silenciosa de um Governo sem coração”, disse. Para além de Tai, são fundadores do Occupy Chan in-man, professor de sociologia na Universidade Chinesa, e o reverendo Chu Yiu-ming.

A declaração acontece um dia depois de graves confrontos entre polícias e manifestantes. Depois de um grupo de activistas ter tentado cercar os edifícios onde está sedeado o governo local, a polícia dispersou-os, utilizando bastões e gás lacrimogéneo. O chefe-executivo, Leung Chun-ying, veio depois garantir que a polícia não hesitará em tomar “acções resolutas”, indicando uma clara inflexão da táctica das autoridades que, até agora, afastaram sempre o recurso à força para reprimir os protestos.

Horas antes do anúncio dos líderes do Occupy, o activista estudantil Joshua Wong, que preside a associação Scholarism, apelou a um reagrupamento dos activistas no centro da cidade. Wong, 18 anos, iniciou esta terça-feira uma greve de fome pedindo ao Governo de Hong Kong para que retome o diálogo.

A decisão de Wong, que foi seguida por outros estudantes que se associaram à greve de fome, vem trazer incerteza quanto aos futuros desenvolvimentos dos protestos. Na zona de Admiralty, onde se situam os edifícios governamentais, continuam centenas de tendas, assim como em Causeway Bay, descrevia a BBC.

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