Presidente colombiano suspende negociações com as FARC após sequestro de general

Militar foi sequestrado numa zona de forte presença da guerrilha. Delegados do Governo deveriam partir nesta segunda-feira para Cuba para nova ronda de diálogo.

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Juan Manuel Santos afirma que as negociações não serão retomadas até à libertação do general Alzate Javier Casella/Presidência da Colômbia/Reuters

O Presidente colombiano suspendeu unilateralmente as negociações de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), prestes a completarem dois anos, depois de um general ter sido sequestrado durante uma deslocação a uma zona onde a guerrilha mantém forte presença, no Norte do país.

Juan Manuel Santos, reeleito em Junho com a promessa de concluir o processo de paz com a guerrilha marxista, anunciou domingo à noite que os delegados do Governo colombiano, que deviam partir nesta segunda-feira para Havana para uma nova ronda de negociações, receberam ordens para não viajarem. “As negociações estão suspensas enquanto o assunto não for esclarecido e estas pessoas libertadas”, afirmou o Presidente, depois de um encontro com o ministro da Defesa e as chefias militares.

Segundo a imprensa colombiana, o general Rubén Darío Alzate viajava de barco numa zona de selva da província de Chocó quando decidiu parar em Las Mercedes, uma aldeia nas margens do rio a cerca de 15 quilómetros da capital provincial, Quibdó. Não se sabe exactamente qual o propósito da paragem, que terá sido desaconselhada por quem o acompanhava, e, ao entrar na aldeia, foi surpreendido por guerrilheiros da Frente 34, um dos agrupamentos da guerrilha presentes na zona, adiantam fontes militares citadas pelo jornal El Espectador.

Rapidamente identificado, apesar de não estar de uniforme, Alzate foi capturado, juntamente com uma advogada ao serviço do Exército e um capitão. O Ministério da Defesa diz que todos os indícios apontam para a responsabilidade da Frente 34 no sequestro.

Ainda antes da reunião no palácio presidencial, Santos tinha pedido explicações sobre o facto de o general se encontrar numa zona com elevada presença da guerrilha, “rompendo todos os protocolos de segurança e vestido à civil”. Alzate comanda uma força de 2500 soldados que combatem as FARC e um outro grupo rebelde – o Exército de Libertação Nacional – na selva de Chocó, mas o Ministério da Defesa adianta que o militar teria ido inspeccionar obras de um projecto que o Exército desenvolve na região, revela o jornal espanhol El País.

As negociações de paz, realizadas em Havana e mediadas pelo regime cubano, decorrem sem que nenhuma das partes se tenha comprometido com um cessar-fogo. Mas o diálogo só se tornou possível depois de a guerrilha ter declarado publicamente que abdicava da sua política de sequestros, uma das suas principais fontes de rendimento que a levou a capturar e a manter cativas centenas de pessoas, entre civis e militares.

As negociações decorrem por etapas e já conduziram a resultados visíveis – em Maio do ano passado as duas partes acordaram na necessidade de uma reforma agrária no país; três meses depois a guerrilha lamentou a “crueldade e a dor profunda provocada pela acção” dos seus militantes; há um ano o Governo aceitou que as FARC poderão transformar-se num partido político no caso de vir a ser assinado um acordo de paz.

Mas o arrastar do processo começa a impacientar os colombianos e, há apenas dois dias, as FARC reconheceram ter em seu poder dois soldados capturados uma semana antes na província de Arauca. A guerrilha alega, no entanto, não ter violado o compromisso assumido em 2012, dizendo que o fim dos sequestros se aplica apenas a civis e não a militares, que considera “prisioneiros de guerra”.

Criadas em 1964, as FARC são o mais antigo e ainda hoje o maior movimento de guerrilha na América Latina, sendo um dos principais intervenientes num conflito que em meio século matou mais de 220 mil pessoas na Colômbia.

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