Jimmy Savile, antiga estrela da BBC, não escolhia sexo nem idade das vítimas de abusos sexuais

Investigações confirmam que apresentador teve liberdade de movimentos em hospitais para abusos que se prolongaram por meio século.

Foto
Savile, em foto de 2002 ADRIAN DENNIS/AFP

As vítimas de abusos sexuais de Jimmy Savile, antigo apresentador da BBC TV, já falecido, incluíam homens, mulheres, rapazes e raparigas, com idades entre os cinco e os 75 anos, e prolongaram-se por meio século, revela uma investigação divulgada esta quinta-feira pela imprensa britânica.

O retrato de Savile como “predador sexual” é o que fica de investigações em 28 unidades públicas de saúde. É um quadro perturbador, facilitado pela livre acesso que o apresentador do programa Top of the Pops tinha a unidades de saúde, onde abusou de pacientes, funcionários e visitantes, em camas e corredores, designadamente nos hospitais de Leeds e Broadmoor – aqueles sobre os quais os relatórios são mais detalhados.

Uma das inquiridoras, Sue Proctor, disse que Savile, verdadeira celebridade nas décadas de 1970 e 1980, tinha um “interesse doentio por mortos”. Sobre este aspecto a investigação concluiu que não há forma de verificar confidências que o próprio fez a uma antiga enfermeira de que se fez fotografar com cadáveres e fez sexo com eles, na casa mortuária de Leeds. Mas foi apurado que tinha acesso também a essa área dos serviços hospitalares.

No Leeds General Infirmary, sobre a qual as informações são mais concretas, entre as cinco instituições de saúde a que o antigo apresentador tinha ligações mais próximas, os investigadores ouviram mais de 200 pessoas e recolheram os testemunhos de mais de seis dezenas de vítimas – 33 delas pacientes, 19 crianças. Os abusos iam de comentários lascivos, apalpões e diferentes formas de agressão a três casos confirmados de violação.

Num dos episódios, um rapaz de dez anos foi atacado sexualmente enquanto esperava para fazer um raio x a um braço partido. Noutro, uma rapariga de 16 anos disse à BBC Radio 4 ter sido vítima de abusos numa cave do hospital e contou que quando falou do assunto a enfermeiras elas se riram e que por isso não tocou no assunto com mais ninguém.

Só nove das vítimas assumidas de Leeds contaram a funcionários o que lhes tinha ocorrido. Os investigadores apuraram que aqueles a quem mencionaram o que lhes acontecera “não quiseram ouvir nem acreditar” e que as situações não chegaram ao conhecimento de altos responsáveis da instituição. A fama e o envolvimento de Savile em causas sociais parecem tê-lo posto a salvo de suspeitas.

O antigo apresentador começou a trabalhar no serviço de rádio do hospital. Depois, tornou-se visita regular, angariador de fundos e voluntário, ganhando grande liberdade de movimentos. O primeiro caso em que é mencionado ocorreu em 1962, quando tinha 36 anos. O último em 2009, aos 82. Saville morreu aos 84, em Outubro de 2011, um ano antes de os abusos sobre crianças terem sido denunciados num documentário da ITV. No ano passado, dezenas de vítimas anunciaram que iam pedir indemnizações aos herdeiros e à BBC.

No inquérito ao Broadmoor Psychiatric Hospital foram recolhidas denúncias de 11 pessoas, seis delas pacientes, dois funcionários e três menores. Dois dos casos envolveram indivíduos do sexo masculino. Os investigadores consideram que os números estarão subestimados.

Naquela instituição de saúde, até finais dos anos 1980, as mulheres internadas tinham de se despir em frente do pessoal para trocarem de roupa ou tomarem banho. O apresentador de rádio e televisão assistia a momentos desses e, segundo o relatório, observava-as também quando tomavam banho.

O secretário da Saúde, Jeremy Hunt, manifestou um “profundo sentimento de repulsa” pelas situações  agora reveladas, que “abalam” o país. O Departamento de Saúde pediu desculpas pelos “procedimentos totalmente inadequados” que permitiram o acesso de Savile às instalações hospitalares.

Sugerir correcção
Comentar