Críticos recomendam a Cormac McCarthy que se fique pelos romances

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A maioria dos críticos detestou O Conselheiro e recomendou a McCarthy que se limite ao que sabe fazer bem - escrever romances

O Conselheiro, o filme de Ridley Scott com argumento original do romancista Cormac McCarthy, chega no dia 21 às salas portuguesas com um lastro de críticas negativas e decepcionantes resultados de bilheteira. Depois de ter visto vários dos seus romances serem transpostos para o cinema com reconhecido sucesso – Este País Não É para Velhos (2007), dos irmãos Coen, é o exemplo mais óbvio, mas também A Estrada (2009), de John Hillcoat, teve boa recepção –, Cormac McCarthy decidiu escrever ele próprio um guião original e convenceu Hollywood a produzi-lo. A maioria dos críticos detestou o filme e recomendou a McCarthy que se limite ao que sabe fazer bem - escrever romances –, mas também houve quem elogiasse a ousadia de O Conselheiro.

História de um advogado ambicioso que, em vésperas de se casar, fica a saber que um negócio de tráfico de droga que deu para o torto o coloca em risco imediato, bem como à sua noiva, o filme parecia ter bons argumentos para ser um êxito: o prestígio do próprio McCarthy (Harold Bloom considerou-o um dos quatro melhores romancistas americanos da actualidade), a vasta experiência de Ridley Scott, e ainda um elenco de luxo: Michael Fassbender, Penélope Cruz, Cameron Diaz, Brad Pitt e Javier Bardem, cujo papel em Este País Não É para Velhos fora unanimemente elogiado. Mas nem a cena em que Cameron Diaz tem um orgasmo contra o pára-brisas de um Ferrari amarelo parece estar a conseguir salvar o filme de se transformar num notório fracasso comercial.

E a crítica aponta as baterias directamente ao ficcionista: “Toda a gente no filme é prisioneira do inábil marionetista de O Conselheiro, Cormac McCarthy, que estaria impaciente para escrever directamente para o grande ecrã, mas que teria feito melhor em reprimir esse desejo”, escreveu Kenneth Turan no Los Angeles Times. Na influente revista Variety, Peter Debruge não é mais amável: “Seja qual for o seu talento como romancista, McCarthy não faz manifestamente a menor ideia de como o drama e o suspense funcionam no ecrã, e concentra todos os seus esforços em criar diálogos barrocos e impenetráveis entre personagens estereotipadas e mal definidas”.

Mas na mesma publicação, o crítico de cinema Scott Foundas defende O Conselheiro e lembra que outro filme de Ridley Scott, Blade Runner (1982), hoje uma obra de culto, também demorou a impor-se. Para Foundas, este novo filme de Scott é “ousado e emocionante de um modo muito raro no cinema americano mainstream” e o facto de estar a ser rejeitado pelo público e pela crítica mostra apenas “a pouca apetência que há hoje nas salas multiplex para filmes realmente arrojados”.

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