Braço-de-ferro entre BPI e Santander

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Segundo o PÚBLICO apurou o Banco de Portugal desconhecia em detalhe a posição global do BPI nas mãos do Santander DR

Quinze anos depois de falhada a tentativa de parceria entre o Banco Português de Investimento (BPI) e o grupo espanhol Santander (Totta/CPP), envolvendo o controlo do BCI, os dois bancos estão de novo às avessas.

Os espanhóis abriram as hostilidades, controlando já mais de oito por cento do banco liderado por Santos Silva. O Santander afirma que a sua posição tem carácter meramente financeiro. O Português de Investimento diz que o Santander "não esclarece devidamente o mercado". A guerra está para ficar.

Quarta-feira Santos Silva, contactou o presidente do Totta, Horta Osório, que em Portugal representa os interesses do Santander, chamando-lhe a atenção para a necessidade do seu grupo vir o público clarificar a posição detida no BPI, nomeadamente pelo facto de constarem valores no mercado que não correspondiam à verdade, pois os números que surgiam eram menores do que a realidade.

Mas Horta Osório recusou, por entender não ser necessário. Na sequência, Santos Silva chamou a si a iniciativa de fazer sair uma nota de esclarecimento, aí discriminando os vários lotes de acções na posse de empresas controladas pelo Grupo Totta, ou por fundos geridos pelas instituição.

"Achámos fundamental informar o mercado pois os valores da posição do Santander no BPI que circulavam não estavam correctos e o mercado não podia estar a ser enganado", disse ao PÚBLICO Fernando Ulrich, vice-presidente do BPI. Segundo explicou o mesmo responsável "sugerimos, então, ao Totta que esclarecesse o mercado, mas o banco não quis fazê-lo. Perante este facto, o BPI optou por tomar a iniciativa". Porque razão Horta Osório não aceitou a sugestão de Artur Santos Silva? "Não sei, tem que perguntar ao Totta?"

Seria ainda na quarta-feira que Santos Silva voltou a falar com Osório, agora, para lhe dar conta do teor do comunicado que o BPI ia divulgar.

Nos seus esclarecimentos, o BPI dá conta, de forma pormenorizada, da posição detida pelo Santander no BPI - 11,975 por cento do capital, incluindo 3,652 por cento de que o Totta é titular no quadro de um contrato de "reporte" (empréstimo transitório) celebrado com a Sonae. O Santander tem já nas suas mãos através de empresas por si controladas 5,4 por cento do BPI - Banco Totta 14865134 acções, CPP 14865134, Totta Seguros 10588629, e BSNP, 733580. Indirectamente, através de três fundos de pensões de empresas do grupo e de um fundo de investimento, o banco espanhol comprou mais cerca de três por cento. Os vários lotes (excluindo as acções da Sonae) controlados directa e indirectamente pelo Totta totalizam 8,3 por cento do Português de Investimento, cujo capital é de 760 milhões de euros.

Segundo o PÚBLICO apurou o Banco de Portugal desconhecia em detalhe a posição global do BPI nas mãos do Santander, bem como os direitos de voto que representa, encontrando-se agora a analisar a situação. Contactada para comentar a entrada do Santander no BPI, a autoridade de supervisão apenas disse:"O Banco de Portugal não comenta situações concretas que caem no âmbito das suas competências de supervisão prudencial das Instituições de Crédito." Bento dos Santos, administrador do Totta, afirma: "O Banco de Portugal está informado de todas as participações do BTA no BPI."

O Totta - que nos últimos tempos tem estado a recrutar colaboradores do BPI - tem desvalorizado a sua entrada no banco portuense, alegando tratar-se "de uma posição financeira e não estratégica". Um argumento que tem gerado perplexidade entre os operadores, que alertam para o facto da participação do Santander/Totta no BPI ser demasiado "agressiva", para um activo financeiro com relativo interesse e que não justifica que lhe seja afectada uma verba tão elevada. Por outro lado, estranham a decisão de distribuir os seus investimentos no BPI por várias empresas do grupo. Em Portugal, o grupo espanhol não possui participações financeiras de relevo noutras empresas, a não ser a da Pararede, mas que foi herdada de um negócio.

Bento do Santos esclarece que o Santander em Portugal está apenas disponível para investir em posições financeiras em instituições dentro do "core business", ou seja, banca ou seguros. Foi o que aconteceu no BPI, onde afirma estar em causa "uma posição estável" de 5,4 por cento, mas não estratégica.

Para além das dúvidas que prevalecem quanto à verdadeira posição do Santander no BPI, outras existem, mas sobre as suas intenções futuras. Com direitos de voto correspondentes a 8,3 por cento do BPI (incluindo a posição de Belmiro de Azevedo a percentagem sobe para 11,975 por cento), o grupo espanhol passa a poder intervir, caso o entenda, nos destinos de uma instituição concorrente, mesmo que não chegue a nomear um administrador (o que aparentemente está bloqueado pelos estatutos) - recentemente o Banco Privado viu negada pelo Banco de Portugal a sua intenção de adquirir uma posição minoritária no capital da Finantia, pois, entre outras coisas, tratavam-se de entidades concorrentes.

A grande questão que hoje se coloca ao BPI é a de saber qual é verdadeira posição do Santander, pois o grupo espanhol poderá ter já adquirido mais acções através de outras sociedades desconhecidas, nomeadamente "off-shores" que reportam directamente às autoridades de supervisão espanholas. Em 1999, os espanhóis celebraram com António Champalimaud um negócio envolvendo a compra da Mundial Confiança, passando por cima do Instituto de Seguros de Portugal (ISP), órgão que tutelava a "holding" seguradora e a quem cabia dar autorização prévia à operação. Nos anos oitenta, o BPI e o Santander eram ambos accionistas do BCI, com posições idênticas. A partir de certa altura, sem avisar os restantes parceiros, o grupo espanhol foi adquirindo acções, "furando" o pacto social, o que lhe deu o controlo da instituição.

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