Contra a ditadura egípcia? Abstenção

Se na Europa a abstenção pode significar desencanto ou alheamento, no Egipto da nova ditadura militar significa uma arma activa. O regime que depôs Morsi, que por sua vez fora eleito depois da deposição (por pressão popular) de Mubarak, queria a todo o custo, através do voto, entronizar com expressiva maioria o seu chefe, Abdul Fattah al-Sissi. E esperava fazê-lo com 80% dos votos a seu favor. Os egípcios, porém, não se dispõem a fazer-lhe a vontade: no primeiro dos dois dias de votação, só 15% foram às urnas – o que levou o regime a tentar tudo: declarou feriado na terça-feira, deixou as urnas abertas até à noite e, com último recurso, estendeu as eleições por toda a quarta-feira. Três dias de voto, quando inicialmente eram dois. Muito longe da almejada glória, Al-Sissi pode vir a descarregar a sua fúria no povo e até falsear os resultados, mas não escapa ao vexame: esta abstenção já o pôs a ridículo, perante os seus e perante o mundo.

Sugerir correcção
Comentar