O regresso deste velho conhecido chamado Rock In Rio

Até às 19h, 35 mil pessoas tinham entrado no Parque da Bela Vista. O cabeça de cartaz, Robbie Williams, chegará às 22h.

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Milhares na Cidade do Rock: a enchente do costume voltou a repetir-se no dia de abertura do festival Nuno Ferreira Santos
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Festa é festa e é para isso que muito do público vai Nuno Ferreira Santos
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Aurea no palco principal do Rock in Rio Nuno Ferreira Santos
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Aurea e Boss AC protagonizaram o dueto do dia Nuno Ferreira Santos
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Os dois terminaram ao som de “Happy”, de Pharrell Williams Nuno Ferreira Santos
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Um patrocinador anda a distribuir cabeleiras farfalhudas vermelhas pelo recinto Nuno Ferreira Santos
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A organização espera que possam passar pela Bela Vista mais de 300 mil pessoas nesta edição do festival Nuno Ferreira Santos

As portas abriram às 16h e, uma hora depois, 15 mil pessoas tinham já entrado no Parque da Bela Vista. No exterior, enquanto os habitantes do bairro, sentados em bancos, encostados às paredes ou caminhando vagarosamente, observavam e comentavam os que passavam do outro lado das grades separadoras, o público começava a aglomerar-se em maior número, num fluxo de gente que se tornava mais compacto à medida que se aproximavam as barreiras onde os seguranças revistavam os portadores de bilhete. Cá fora, a dois passos da entrada, tiravam-se auto-retratos (chamam-lhes selfies) e fotos de grupo com o pórtico de entrada como fundo. Lá dentro, era tempo de fazer o reconhecimento ao espaço.

Na Rock Street, erigida como representação pré-fabricada de uma rua irlandesa e que é centro comercial a céu aberto, as várias lojas enchem-se de gente enquanto uma banda toca versões de Rolling Stones (It's all over now) ou dos Beatles (Come together) num palco que diríamos pouco irlandês: colunas neoclássicas em aparatoso dourado Las Vegas. O público passa, observa um pouco, prossegue. Há que investigar o que a dita "Cidade do Rock" tem para oferecer. Novidades como um colchão insuflável gigantesco para onde se pode saltar de uma altura de três andares, aulas de fitness para pista de dança ou marcas do Rock In Rio como a roda gigante, de cujo ponto mais alto se poderá ver a multidão pintalgada de vermelho (um patrocinador anda a distribuir cabeleiras farfalhudas vermelhas, o que, parece-nos, fará do look Rock In Rio 2014 o "manjerico humano encarnado").

O cabeça-de-cartaz do primeiro dia, Robbie Williams, ainda está a algumas horas de distância, mas o Rock In Rio já fervilha como habitualmente. Na organização e disposição do espaço, não há diferenças assinaláveis em relação a edições anteriores. Quem esteva no Parque da Bela Vista no passado já conhece os cantos à casa e, portanto, basta-lhe ir entrando pouco a pouco no ambiente. Quem é novato, não demora a fazê-lo (afinal, mesmo se não esteve cá anteriormente, já ouviu falar, já viu na televisão, já sabe como é).

Entretanto, enquanto se fazem contas aos horários, enquanto se perdem horas com um sorriso no rosto na fila para o clássico dos clássicos do Rock In Rio, os sofás insufláveis vermelhos que agora têm direito a fábrica (e a produção, perante a procura, diríamos que se equipara à das fábricas de automóveis americanas no pré-Grande Depressão), vemos os Cais do Sodré Funk Connection a fazer a festa soul no Palco Vodafone.

O vento levanta-se, pouco generoso para com o conforto do público, mas nem público nem banda parecem muito preocupados. Enquanto a soul de James Brown se ouvir, enquanto o vocalista Fernando Nobre utilizar a pandeireta como batuta ("mãos em cima"; "para a esquerda", "para a direita"), esta será uma boa introdução à noite que se segue. "Eu nem vou perguntar quem foi votar hoje...", diz a determinado momento. Mas pergunta mesmo e o povo votante ergue as mãos: a sondagem Rock In Rio apontaria para 65 por centro de abstenção nas eleições de hoje. Mas não, o dia, aqui, não é para eleições.

O dia foi, por exemplo, para Aurea e Boss AC, que inauguraram em concerto partilhado o palco principal, o Mundo, alternando entre as Ok alright e as Scratch my back dela e os Princesa ou É sexta-feira dele (e tudo cantou enquanto o sol ainda brilhava sobre o recinto). No final, todos juntos: Happy, a canção que já deixou de ser de Pharrell Williams, que a "perdeu" para todo o mundo.

Aqueles que já se encontravam em bom número frente ao palco principal abanaram a anca, apontaram para o céu e sorriram e tiraram umas fotos quando alguém ficou retido a meio caminho na viagem de slide. Happy no Rock In Rio Lisboa. Não é surpresa. É o estado de espírito. Entretenimento seguro. Festa controlada.

Entretanto, enquanto Aurea e Boss AC tocavam, já os 15 mil espectadores iniciais se tinham multiplicado. Até às 19h, 35 mil pessoas tinham entrado no Parque da Bela Vista.

Depois de Paloma Faith virá Robbie Williams, depois dele Ivete Sangalo. O Rock In Rio, esse velho conhecido de dez anos, está cá outra vez. Como sempre.

 

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