Brasileira morre após espancamento devido a rumor falso no Facebook

Mulher foi confundida com alegada sequestradora de crianças e agredida violentamente por populares.

Imagens divulgadas no Facebook e de Diane Ribeiro e o alerta para o crime
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Imagens divulgadas no Facebook e de Diane Ribeiro e o alerta para o crime DR
Fabiane com um dos seus filhos
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Fabiane com um dos seus filhos DR

No último sábado, uma mulher foi espancada num bairro de Guarujá, no estado brasileiro de São Paulo. A vítima, de 33 anos, passeava na rua quando foi abordada por moradores de Morrinhos, que a acusaram de sequestrar e matar crianças para as utilizar em rituais de magia negra. A denúncia tinha partido de uma página no Facebook, onde tinham sido divulgadas imagens de uma mulher como sendo a autora dos crimes. Dois dias depois, morria no hospital e era confirmado que a mulher agredida tinha sido vítima de um rumor falso na rede social.

Fabiane Maria de Jesus foi confundida com uma mulher cujas fotografias foram reveladas na página do Guarujá Alerta, uma espécie de jornal onde são divulgadas notícias relacionadas com a localidade brasileira. A suspeita chegou a ser identificada como Diana Pinheiro, que já tinha morado em Guarujá.

Após o incidente em Morrinhos, um bairro com cerca de 20 mil habitantes, o Guarujá Alerta publicou um post a garantir que nunca publicou fotografias ou notas a afirmar que era verdadeiro que uma mulher tivesse sequestrado crianças na região. À polícia o administrador do perfil do jornal confirmou que as imagens já tinham sido retiradas, bem como o alerta para o suposto crime de sequestro. O homem afirmou que estava agora a ser alvo de ameaças através do perfil e que receava pela própria vida.

A própria Diana Pinheiro enviou uma mensagem ao jornal a desmentir o seu envolvimento em qualquer caso de sequestro. Sublinhou que há um ano que não vivia em Guarujá e que já tinha falado com a polícia a explicar que tudo não passava de um boato falso.

Na última quarta-feira, o Ministério Público brasileiro publicou uma nota de esclarecimento a indicar que não tinha havido, até à altura, “nenhuma denúncia ou informação de sequestro junto à Polícia Civil ou à Promotoria de Justiça”.

O Ministério Público avançava ainda que as imagens divulgadas em Guarujá já tinham sido publicadas em três outras localidades e que estas tinham sido criadas em 2012, no Rio de Janeiro. As imagens foram criadas pela Polícia Civil com base em características físicas apresentadas por uma vítima de agressão e tentativa de sequestro de um menor, indica a edição online da Folha de São Paulo. A informação da polícia terá sido destorcida levando ao rumor de que uma mulher já tinha sequestrado várias crianças para rituais de magia negra.

A Polícia Militar informou, por sua vez, que não havia qualquer indício que Fabiane Maria de Jesus tivesse cometido algum crime.

Pelo menos três suspeitos de terem participado no espancamento de Fabiane foram detidos e a Polícia Civil procurava na quinta-feira duas outras pessoas que terão participado nas agressões.

Ao site noticioso R7, uma advogada especialista em direito digital afirmou que, com base na lei brasileira, quem tiver partilhado a fotografia ou nome da vítima relacionando-a com o sequestro de menores pode vir a ser responsabilizado perante a justiça. Cristina Sleiman explicou que o Guarujá Alerta só podia ser acusado se tivesse publicado uma foto ou nome de Fabiane.

A advogada argumenta que o crime começou entre populares, por terem sido os moradores a fazer justiça pelas próprias mãos, mesmo se se confirmasse que a vítima era de facto uma criminosa. Para Cristina Sleiman, a Internet só veio potenciar a agressão.

Desde a morte de Fabiane, doméstica e mãe de dois filhos, têm surgido protestos a exigir justiça para o caso. Algumas páginas no Facebook foram criadas a pedir que casos como este não se repitam, incluindo uma da sua família.

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