África ocidental em alerta para impedir propagação do vírus ébola

Na Guiné Conacri já morreram 63 pessoas infectadas com o ébola. Campanhas de informação procuram prevenir a transmissão da doença e do pânico entre as populações.

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A Direcção-geral da Saúde aconselha os portugueses a evitarem deslocações para “as zonas no epicentro do surto” DESIREY MINKOH/AFP

Vários países da África ocidental, como a Libéria, Serra Leoa, Mauritânia e Mali estão em alerta máximo e a tomar medidas sanitárias no sentido de impedir uma eventual propagação regional do vírus ébola, que já matou de mais de 60 pessoas na Guiné Conacri. A doença viral, para a qual não existe vacina, nunca se tinha manifestado naquele país, mas desde Fevereiro os casos desta febre hemorrágica têm-se multiplicado, com pelo menos 86 casos de infecção identificados.

Todos os casos confirmados até agora localizam-se na região de floresta tropical no sudeste da Guiné Conacri, que foi praticamente isolado do resto do país: os transportes para as zonas de infecção foram reduzidos, os mercados encerrados, os residentes aconselhados a manter-se em casa e em quatro distritos foram emitidas ordens de quarentena, num esforço de contenção do progresso da doença.

Pelo menos oito das vítimas foram profissionais de saúde envolvidos no tratamento de doentes infectados com o vírus, assinalou a Organização Mundial de Saúde. O ébola afecta múltiplos órgãos e produz sintomas como febre, vómitos e diarreia. A condição dos doentes infectados deteriora-se rapidamente, com hemorragias internas e externas que em quase 90% dos casos levam à morte.

Casos suspeitos foram já sinalizados fora da Guiné Conacri, tanto na Libéria como na Serra Leoa, onde indivíduos com sintomas de febre hemorrágica consistente com a infecção com ébola acabaram por morrer depois de transpor a fronteira. Na Libéria, cinco mortes estão a ser atribuídas ao vírus e pelo menos três outros doentes internados poderão estar infectados. Na Serra leoa, as autoridades estão a investigar as causas da morte de um rapaz de 14 anos, que exibia sintomas depois de ter estado no funeral de uma vítima do vírus na Guiné Conacri.

Outros países como a Mauritânia, o Mali e a Costa do Marfim reforçaram a vigilância das fronteiras, e tomaram outras medidas, recomendando por exemplo que as pessoas adiem viagens para a Guiné Conacri, desinfectem as mãos com frequência e evitem o consumo de certo tipo de alimentos. “O risco de contaminação internacional deve ser tido em consideração”, frisou um porta-voz da Unicef, que já despachou cerca de cinco toneladas de ajuda para as áreas afectadas.

Na Guiné Conacri, a venda e o consumo de morcegos-da-fruta foi proibida pelo ministério da Saúde. O animal, que é uma especialidade gastronómica em vários países de África, é considerado um possível reservatório natural do ébola – o ministro René Lamah disse que os morcegos teriam sido os “principais agentes” da contaminação no sul do país.

Especialistas em doenças tropicais e organizações como por exemplo os Médicos Sem Fronteiras, que enviaram equipas para a região, têm insistido que apesar de extremamente perigoso, o vírus ébola também é relativamente raro: desde que foi identificado no Congo e no Sudão, em 1976, foram diagnosticados 2200 casos, dos quais 1614 se revelaram fatais. As últimas epidemias ocorreram no Uganda (2011) e na República Democrática do Congo (2012)

Campanhas de informação estão a ser desenvolvidas nos vários países para minimizar as hipóteses de contágio e também impedir que se gere o pânico entre as populações. O ébola, que tem pelo menos cinco variantes conhecidas, transmite-se através do sangue e fluidos corporais como a saliva ou o suor.

Portugal reforça atenção

O surto de infecções com ébola na África ocidental está a ser monitorizado pela Direcção-geral da Saúde (DGS), que alertou os serviços competentes – hospitais, consultas de medicina do viajante e a Linha Saúde 24 – para “estarem atentos a viajantes com sintomas suspeitos, para que sejam isolados, colocados de quarentena e se façam análises”.

A DGS recomenda que sejam evitadas deslocações para “as zonas no epicentro do surto” e informa que os viajantes devem “manter os contactos mínimos” e proteger-se da “exposição a materiais orgânicos, fluidos e sangue”. O risco de contágio de cidadãos de fora de África é muito baixo, mas os países europeus – entre os quais Portugal – estão atentos e a seguir a evolução da situação no terreno. “Os cidadãos europeus não estão em risco de ficar infectados, a menos que estejam em contacto directo com fluidos corporais de pessoas ou animais, vivos ou mortos. Evitar o contacto reduz eficazmente o risco [de contágio]”, informa o Centro Europeu para o Controlo de Doenças.

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