Manifestantes antigovernamentais apertam o cerco à primeira-ministra da Tailândia

Confrontos com a polícia provocaram cinco mortos e dezenas de feridos nesta terça-feira. Yingluck Shinawatra foi acusada de negligência num caso de corrupção.

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Manifestantes cercaram o edifício onde Shinawatra instalou o seu gabinete de crise AFP/PORNCHAI KITTIWONGSAKUL

O edifício do Secretariado da Defesa Nacional, onde a primeira-ministra da Tailândia, Yingluck Shinawatra, instalou temporariamente o seu gabinete, foi cercado pelos manifestantes, que exigem a demissão do seu Governo. Os protestos regressaram à rua na manhã desta quarta-feira, depois de mais um dia de violentos confrontos com a polícia ter terminado com cinco mortos e dezenas de feridos.

A oposição ao regime de Shinawatra não dá sinais de cedência: os manifestantes bloquearam os acessos ao complexo governamental que alberga os ministérios no centro de Banguecoque, forçando o executivo a reunir-se provisoriamente nas instalações da Defesa nos subúrbios da capital. Aumentando a pressão, milhares de pessoas concentraram-se esta manhã à volta do edifício, com um cordão de cerca de mil agentes da polícia de choque a assegurar a protecção do “gabinete de crise” da primeira-ministra. Não é, todavia, claro que Yingluck Shinawatra se encontre no local.

Apesar da tensão, o protesto foi pacífico, com os militares a negociarem com o líder dos manifestantes, Suthep Thaugsuban, contra quem foi emitido um mandado de detenção nunca executado. “Aqui estaremos todos os dias, enquanto Yingluck insistir em vir trabalhar”, prometeu o antigo vice primeiro-ministro e líder do Partido Democrático, citado pela AFP. De acordo com o Bangkok Post, Thaugsuban, que formou um comité popular pela reforma democrática, pediu aos seus apoiantes para “escalar o protesto contra o Governo” e para “perseguir Yingluck dia e noite, até que ela perceba que não tem mais para onde ir neste país”.

Suthep Thaugsuban responsabilizou pessoalmente a primeira-ministra pela ordem dada na véspera às forças de segurança, que recorreram à força para desmobilizar os acampamentos dos manifestantes à porta do complexo governamental de Banguecoque. Perante a recusa destes em abandonar as ruas, a operação tornou-se violenta: tiros foram disparados de um lado e doutro, cinco pessoas morreram, incluindo um polícia atingido a tiro na cabeça, e mais de 70 feridos foram assistidos no hospital.

O chefe do Conselho de Segurança Nacional, Paradorn Pattanatabut, disse que não estava prevista nenhuma outra intervenção das autoridades. “As forças policiais suspenderam os seus esforços para recuperar os edifícios [públicos] ocupados pelos manifestantes”, informou.

Entretanto, a justiça tailandesa inviabilizou o uso da força contra manifestantes pacíficos. Numa pronúncia sobre a legalidade da declaração de um estado de emergência de 60 dias pelo Governo, na sequência de um recurso interposto pela oposição, um tribunal cível de Banguecoque considerou a medida legítima, mas apontou uma série de restrições à aplicação da lei, nomeadamente as provisões relativas ao exercício da força.

A contestação ao Governo começou em Novembro, com a oposição a exigir a demissão da primeira-ministra, acusada de ser um fantoche do irmão e antigo líder do Governo, Thaksin Shinawatra, deposto num golpe de Estado em 2006 e auto-exilado no Dubai para evitar uma condenação por corrupção.

Após meses de impasse, e numa tentativa de pôr termo à crise política, a primeira-ministra dissolveu o Parlamento e convocou eleições antecipadas. O acto eleitoral foi boicotado pelos partidos de oposição e a votação foi abalada pelos protestos: o resultado não foi ainda ratificado pelo Tribunal Constitucional, que no entanto rejeitou uma petição para que o escrutínio fosse anulado.

Yingluck Shinawatra manteve-se, assim, à frente de um executivo provisório, com poderes diminuídos e legitimidade política enfraquecida até uma decisão final sobre as eleições. Os problemas para a primeira-ministra – que voltou a fazer um apelo à calma no país após a violência de terça-feira – adensaram-se depois de uma comissão anticorrupção ter formalizado uma acusação por negligência contra si, no âmbito de um programa de ajudas financeiras aos produtores de arroz. Esse procedimento poderá conduzir à perda de mandato e destituição.

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