Rússia responsabiliza Washington pelo fracasso das negociações de paz sírias

Conversações vão continuar em Genebra, apesar do impasse da segunda ronda.

Foto
Lakhdar Brahimi: como é que se sai deste impasse? PHILIPPE DESMAZES/AFP

O chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, disse que o fracasso das conversações de paz sobre a Síria é da responsabilidade dos Estados Unidos. Washington, disse o ministro, quis usar as negociações para "forçar uma mudança de regime” em Damasco.

“Temos a sensação de que aqueles que apoiam a oposição... têm apenas uma coisa em mente: a mudança do regime”, disse Lavrov, que falou aos jornalistas em Moscovo. Por isso, as conversações “andaram sempre em círculo”.

A segunda ronda das conversações terminou esta sexta-feira na cidade suíça de Genebra sem que tenha havido qualquer avanço sobre qualquer dos temas sobre a mesa. “Infelizmente, a discussão não produziu qualquer progresso”, disse o vice-ministro sírio dos Negócios Estrangeiros, Faisal Moqdad. O porta-voz da oposição, Louai Safi, disse que as negociações “estão num impasse”.

Foi a primeira vez que os inimigos sírios – o Governo do Presidente Bashar al-Assad e a oposição que há três anos tenta derrubá-lo pela via armada – estiveram juntos numa iniciativa para pôr fim à guerra civil. Porém, as duas delegações só estiveram juntas uma vez e, ainda assim, não conversaram directamente, fizeram-no através de intermediários. As conversações obedeceram a um protocolo rígido e complicado (e demorado), com o enviado das Nações Unidas e da Liga Árabe, o mediador Lakhdar Brahimi, a reunir-se separadamente com as duas partes. 

Do lado do Governo sírio, o vice-ministro Moqdad repetiu que a prioridade de Assad e de toda a sua equipa é a luta contra o terrorismo. “Definitivamente, os que não querem combater o terrorismo não fazem parte do povo sírio. E os que pegam em armas contra o seu povo e o seu Governo são terroristas”, disse o ministro.

“Como podemos falar em parar a violência se o regime continua a praticar a violência contra os civis? Precisamos de uma nova equipa [nas negociações], patriotas que pensem na Sìria e não na familia que está no poder”, disse Safi. A oposição apresentara na quarta-feira um novo plano de paz que a delegação de Damasco não quis sequer ler.

Desta segunda ronda de conversações, saiu uma meia-trégua aplicada a uma parcela da cidade de Homs, a Cidade Velha. Ali, e há vários meses, estavam cercados entre 2500 e 3000 sírios, sobretudo velhos, mulheres e crianças. Doentes e famintos, foram retirados aos poucos quase 1400 pessoas e o Crescente Vermelho conseguiu fazer entrar alimentos e alguns medicamentos no bairro.

Mas a trégua nunca foi devidamente cumprida – a equipa do Crescente Vermelho chegou a ser bombardeada – e esta sexta-feira as forças governamentais iniciaram mais uma ofensiva contra Homs, cidade considerada um refúgio da oposição.

É para este contexto que os dois lados olham quando avaliam o futuro da iniciativa de paz em curso em Genebra. E concluem que não vale a pena continuá-la – foi o que expressaram aos jornalistas da Reuteres e da AFP. Porém, nem o lado de Assad nem a oposição se retiram, não querendo ser acusados pelo fracasso.

O anúncio de que os representantes de Bashar al-Assad vão permanecer em Genebra foi feito em Moscovo, pelo vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Gennady Gatilov. "Brahimi disse-nos que as conversações vão continuar e que haverá uma terceira ronda, mas ainda não marcou a data”, disse à Reuters, por seu lado, um negociador da oposição, Ahmad Jakal.

Não estava previsto que Brahimi falasse aos jornalistas esta sexta-feira. Segundo fontes da Al Jazira, o mediador está em contactos com as entidades que representa e com os Governos dos países envolvidos na iniciativa de paz, a Rússia e os Estados Unidos, para saber qual o próximo passo. Quer uma resposta para a pergunta que todos fazem: como se sai deste impasse?

 

Sugerir correcção
Comentar