Quando as universidades disputam os alunos

Cerca de 30 instituições apresentaram trunfos numa escola privada do Porto para conquistar os estudantes do secundário.

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Fotografias: Fernando Veludo/nFACTOS
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Os cortes no Orçamento do Estado para o ensino superior são uma espécie de tema tabu nos cerca de 30 stands que nesta sexta-feira se instalaram no Colégio Luso-Internacional do Porto (CLIP). A missão dos que ali estão, e que representam universidades públicas e privadas portuguesas e estrangeiras, é seduzirem alunos desta escola privada sediada no Porto.

As universidades já não esperam que os alunos lhes batam à porta? É verdade. As universidades estão com a corda ao pescoço a precisar desesperadamente de alunos? “A presença em eventos deste género não é de agora”, contorna a representante da Universidade Católica, Patrícia Fontes: “Faz parte das nossas funções falar com potenciais alunos e mostrar-lhes a nossa oferta. Essa falta de verbas existe, mas felizmente continuamos com muita procura nos nossos cursos.”

Com um posto nesta “feira” pelo primeira vez, o Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP) diz que o  objectivo destas presenças é “entusiasmar para a engenharia”. “Não tem a ver com cortes ou falta de alunos, tem havido um grande esforço da instituição para demonstrar a nossa qualidade e estes eventos servem também para isso”, garante a representante do ISEP, Alexandra Trincão.

O evento anual, organizado pelo CLIP pela oitava vez, tem visto crescer o leque de universidades, tanto privadas como públicas, tanto portuguesas como estrangeiras. E se é verdade que a iniciativa partiu da escola, é também verdade que o interesse das universidades é cada vez maior.

A ideia da docente e coordenadora do projecto, Isabel Morgado, que há anos trocou uma carreira universitária para abraçar o ensino secundário, é abrir horizontes. “Surgiu para que os nossos alunos possam decidir cada vez mais conscientemente e para terem conhecimento de toda a oferta existente”, resume.

Fardados a rigor, os alunos participam nos workshops promovidos pelas universidades, nas palestras de esclarecimento e no “cantinho da conversa”, onde profissionais das mais diversas áreas partilham com os estudantes os “segredos” das suas profissões.  Nos stands, os alunos fazem perguntas: quais são as provas de acesso para os cursos em questão, que disciplinas fazem parte do programa, que saídas profissionais oferece cada curso.

Matthieu Poupard, director de recrutamento e marketing da Hult International Business School na Europa, está surpreendido com a “responsabilidade” demonstrada pelos alunos portugueses que o abordam . “Querem saber quais as saídas profissionais dos cursos e dizem-me que estão interessados em sair porque em Portugal tem poucas oportunidades”, comenta. “Imagino que sejam os pais que lhes incutem estas ideias, eles são muito novos...”.

Ainda no 10.º ano, Mariana Pereira, Ana Rodrigues e Ana Gomes estão mais do que decididas: Medicina será o curso delas. Uma escolha feita por vocação, mas com os dois olhos postos no futuro profissional: “[Medicina] dá algumas garantias. Mas aqui há poucas oportunidades, mesmo em Medicina, e por isso estou a pensar em fazer o curso lá fora, em Inglaterra”, diz Ana Gomes, 15 anos.

A opção é ponderada por muitos alunos. Em 2012, 15% dos estudantes do 12.º ano desta instituição privada decidiram estudar fora do país. Um número que vai subir no presente ano. Vicky Montiel, Renata Moreira e Francisco Fontes são três dos estudantes que já decidiram sair de Portugal no fim do ano lectivo. Vão pela experiência, mas também pela consciência das dificuldades económicas em que o país mergulhou.

A ideia de sair não alicia muito David Chaves, 18 anos: “Ainda estou indeciso na escolha do curso: Gestão Hoteleira, Gestão ou Desporto. Pondero ir para fora, mas prefiro ficar. Se temos boas universidades cá por que hei-de sair?”, pergunta.

No stand da Hult International Business School, Matthieu Poupard explica que o recrutamento em escolas secundárias é uma prática comum para esta instituição. De Portugal têm levado quatro ou cinco estudantes por ano. Mas a opção é para poucos, admite: “Vimos aqui pela mesma razão que as outras universidades vêm: porque o CLIP é o tipo de instituição que nos interessa. Os nossos preços não podem ser suportados por todos, mas se um aluno frequenta esta escola provavelmente pode pagar os nossos cursos.”

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