Patrocinadores dos Jogos de Sochi acusados de ignorarem violência sobre gays na Rússia

Protestos em várias cidades do mundo em véspera de abertura dos Olímpicos de Inverno para denunciar falta de acção contra lei discriminatória.

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Manifestação em Melbourne, na Austrália Paul CROCK/AFP

A tocha olímpica chegou finalmente a Sochi esta quarta-feira, mas em várias cidades do mundo, e na Internet também, outra chama se acendeu, para pressionar os patrocinadores dos Jogos Olímpicos de Inverno que decorrem a partir de amanhã na estância balnear preferida dos russos e do Presidente Vladimir Putin a que saiam do silêncio e condenem a lei e as atitudes contra os homossexuais vigentes na Rússia.

A iniciativa da organização All Out promoveu manifestações em 19 cidades, incluindo Nova Iorque, Melbourne, Paris, e São Petersburgo – mas não Sochi, que foi transformada numa verdadeira fortaleza à beira do Mar Negro. Chegou o momento de obrigar os patrocinadores a utilizarem seu poder económico para chamarem a atenção para as leis discriminatórias”, escreveu a organização, que se uniu a cerca de outras 40 para denunciar a situação.

A Coca-Cola, a McDonald’s e a Samsung, que pagam cerca de 100 milhões cada uma pelos direitos de patrocínio dos Jogos, a troco de capitalizarem sobre a atmosfera positiva durante a competição, estão entre os alvos da campanha, e não só com manifestações de rua, também com iniciativas online, no Twitter e no Facebook. “Estas marcas gastaram milhões para se alinharem com os Jogos Olímpicos, mas recusam-se a apoiar os princípios fundadores do olimpismo”, nomeadamente a igualdade, afirmou Andre Banks, um dos fundadores da All Out, citado pela Reuters.

Os patrocinadores dizem que se opõem à discriminação, mas que a responsabilidade de garantir que não há preconceitos nos Jogos Olímpicos é do Comité Olímpico Internacional – que deve garantir a realização do princípio 6 da Carta Olímpica, onde está garantida a igualdade para todos, pressupondo que não haja homofobia nos Jogos Olímpicos.

O que está em causa é uma lei russa que entrou em vigor em Junho de 2013 que pune com uma multa que pode ir até 10.600 euros e até mesmo penas de prisão quem faça “propaganda” da homossexualidade junto de menores. Este conceito de “propaganda” da homossexualidade é bastante vago e nele pode caber quase tudo o que os preconceitos da sociedade russa desejarem.

A Amnistia Internacional denunciou esta lei por “estabelecer uma discriminação face às pessoas LGBT”, e por “alimentar os discursos homofóbicos” e “encorajar a estigmatização, sustentando a ideia de que as crianças devem ser protegidas contra a homossexualidade.” A lei, no entanto, goza de grande apoio na Rússia – à volta de 88% – um país onde a homossexualidade foi considerada um crime até 1993 e como uma doença mental até 1999.

Recentemente, começaram a surgir vídeos online de agressões graves a homossexuais, feitas por bandos organizados, de ideologia identificada como neo-nazi, diz a Human Rights Watch, e que se auto-denominam Occupy Pedophilia. Esta organização de defesa dos direitos humanos divulgou um vídeo online com extractos destas práticas.

A 14 de Janeiro, 27 laureados com o Prémio Nobel escreveram ao Presidente Vladimir Putin para protestar contra esta lei, que tem suscitado muitas críticas a nível internacional. Barack Obama afirmou até, numa ida ao talk-show de Jay Leno não ter “paciência para os países que tentam intimidar ou aborrecer os gays, lésbicas ou transexuais”.

O repúdio norte-americano ficou expresso no facto de a delegação norte-americana ter vários atletas homossexuais. Aliás, devia ser liderada pela antiga campeã de ténis e lésbica assumida Billie Jean King – mas ela anunciou esta quarta-feira à Associated Press que não poderá ir, devido ao estado de saúde da sua mãe, Betty Moffitt, de 91 anos.

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