Morsi desafia tribunal: "Eu sou o Presidente da República"

General foi assassinado no Cairo. Atentados multiplicaram-se nos últimos meses, na sequência do derrube do Presidente islamista e da repressão dos seus apoiantes.

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Morsi na audiência AFP
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Medidas de segurança junto ao local do julgamento de Morsi, esta terça-feira MAHMOUD KHALED/AFP

O Presidente derrubado do Egipto , Mohamed Morsi, adoptou um tom desafiador, esta terça-feira, no início de um julgamento em que responde por fuga da prisão e morte de guardas prisionais, em 2011. “Eu sou o Presidente da República, como posso ser mantido numa lixeira, durante semanas?”, gritou.

Derrubado em Julho de 2013 por um golpe militar, após protestos gigantescos contra a sua presidência, Morsi foi mantido, tal como outros acusados, dentro de uma caixa de vidro à prova de som, o que foi justificado com a necessidade de não perturbar a audiência.

Quando foi permitido aos jornalistas ouvirem o som do interior da caixa de vidro , Morsi e os outros arguidos começaram a gritar: “Abaixo o poder militar”. O juiz mandou cortar o som. Mas tarde, segundo o relato da BBC, Morsi começou a gritar que é o Presidente legítimo e perguntou ao juiz: “Quem é você, quem é você?”

Os arguidos fizeram também o "Rabaa" –  quatro dedos erguidos e o polegar fechado sobre a palma da mão, gesto adoptado pela Irmandade Muçulmana que simboliza a revolta contra o golpe de 3 de Julho de 2013 e a sangrenta repressão militar de islamistas que se seguiu.

Quando, em Novembro, foi pela primeira vez levado a tribunal, Morsi gritou também slogans contra as actuais autoridades e recusou reconhecer o tribunal.

O Presidente derrubado, que foi transportado de helicóptero desde a prisão de Alexandria onde se encontra para a Academia de Polícia do Cairo, local do julgamento, sob forte medidas de segurança, responde por fuga da prisão e pela morte de guardas prisionais, há três anos, nos últimos dias do regime de Hosni Mubarak. Enfrenta a pena de morte.

É ainda acusado em três outros processos: por incitamento de apoiantes à violência e ao assassínio, durante protestos em Dezembro de 2012; por conspiração com organizações estrangeiras – o Hamas palestiniano e o  Hezbollah libanês  – para actos de terrorismo; e por insultos ao poder judicial.

General assassinado

Também esta terça-feira, foi assassinado a tiro por desconhecidos, no Cairo um general da polícia egípcia, conselheiro do ministro do Interior. Mohamed Said foi alvejado à saída de casa por dois atacantes que se deslocavam de mota e morreu já no hospital, de ferimentos na cabeça e no peito, disseram à AFP fontes dos serviços de segurança que pediram o anonimato.

 Said dirigia um departamento que trabalha directamente com o ministro do Interior, Mohamed Ibrahim. O governante escapou em Setembro de 2013 a um atentado.

O atentado acontece um dia depois de as Forças Armadas terem formalizado o seu apoio à candidatura do seu chefe, o marechal Abdel Fattah al-Sissi, à Presidência do Egipto. A candidatura deve ser anunciada em breve.

Os atentados no Egipto multiplicaram-se nos últimos meses – após o derrube de Morsi pelo Exército, em Julho, e da repressão dos seus apoiantes pelas forças militares e de segurança. Mais de 1400 pessoas foram mortas nos últimos sete meses, maioritariamente apoiantes do primeiro Presidente eleito do Egipto.

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