PM britânico defende em Davos regresso das empresas à Europa

David Cameron quer uma maior aposta na exploração do gás de xisto.

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Cameron quer que Bruxelas aplique um modelo regulador simples REUTERS/Ruben Sprich

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, defendeu esta sexta-feira em Davos uma globalização invertida que permita às empresas, que abandonaram a Europa com destino à Ásia, regressar para fortalecer o tecido empresarial, fomentar a recuperação e criar emprego.

Se nas últimas décadas os empresários europeus e norte-americanos transferiram os centros de produção para o longínquo Oriente, agora chegou o momento de regressarem ao Ocidente, ainda que isto só ocorra caso os governos, e sobretudo Bruxelas, sejam capazes de aplicar um modelo regulador simples e que não afogue os empreendedores, que de outra forma procurarão oportunidades noutros continentes.

Os governos nacionais, mas sobretudo a Comissão Europeia, devem flexibilizar os mercados, eliminando barreiras e reduzindo os impostos das empresas e dos empreendedores.

Entre outras hipóteses, Cameron referiu a possibilidade dos custos da energia serem menores do que foram tradicionalmente na Europa, em comparação com os Estados Unidos e os países emergentes.

Cameron mostrou-se entusiasmado com o "fracking" (uma técnica de extracção de gás de xisto), apesar dos receios que esta desperta em determinados sectores.

O "fracking" é uma técnica que "se correr bem" pode baixar consideravelmente os custos da energia e fazer com que esta seja mais barata do que a importada, permitindo produzir gás e petróleo na Europa a um custo razoável e sem perigo para o meio ambiente, como já ocorre nos Estados Unidos, afirmou Cameron.

Do mesmo modo que chegam investimentos a partir da China e da Ásia à Europa e em especial ao Reino Unido, um dos países que mais fundos recebe, pode-se trazer trabalho do Oriente para Ocidente caso se paguem salários dignos e se garanta um bem-estar razoável, afirmou Cameron.

Isto já é uma realidade tanto no Reino Unido como nos Estados Unidos, onde um terço das empresas que se foram embora regressaram ou estão em vias do fazer, sublinhou.

Os custos naqueles países, sublinhou o primeiro-ministro britânico, já não são tão económicos como antes e as empresas preferem localizar as empresas mais perto dos consumidores e oferecer um serviço mais personalizado.

Este "regresso a casa" não se faz na perspectiva de tirar concorrência aos países do Oriente, já que "os nossos ganhos não são as suas perdas", mas a partir da convicção de que se pode e deve recuperar tecido industrial e criar postos de trabalho.

Em relação à conjuntura económica do Reino Unido, Cameron sublinhou que se está no bom caminho, tendo em conta que os rendimentos das famílias cresceram mais que a inflação e portanto o nível de vida é agora melhor do que há uns anos, apesar de admitir que a recuperação total "levará tempo".

Cameron manteve a postura defendida sobre a livre circulação de pessoas no Reino Unido e defendeu as  medidas recentemente adoptadas para limitar o regime de benefícios sociais dos quais podiam disfrutar até agora os cidadãos procedentes de outros países comunitários, que tantas críticas levantaram.

Se a emigração for proveniente de países com níveis de PIB similares não há problema porque se tratam de fluxos razoáveis, mas se o PIB é muito díspar estes movimentos de populações são insustentáveis, esclareceu.

Em 2004, recordou, o governo britânico decidiu abrir o mercado de trabalho a oito países da União Europeia (UE) e devido a esta postura 1,5 milhões de trabalhadores deslocaram-se para o Reino Unido.

Nem todos iam à procura de trabalho, afirmou Cameron, adiantando que muitos iam só à procura de retirar benefícios de um estado de bem-estar, que se deteriorou por isso mesmo. Esta é a razão de ser dos controlos transitórios que se aplicam no Reino Unido, afirmou, concluindo que se trata de medidas "de puro sentido comum conservador".

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