Papa Francisco desafia Davos a procurar formas mais justas de distribuir a riqueza

O líder da Igreja Católica enviou uma mensagem aos participantes na Forum Económico Mundial em que defende que a humanidade seja servida pela riqueza e não governada por ela.

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É preciso “assegurar que a humanidade é servida pela riqueza e não governada por ela”, pediu o Papa REUTERS/Alessandro Bianch

Falhada a tentativa de Klaus Schwab para levar o Papa Francisco, em pessoa, a Davos, o organizador do Forum Económico Mundial conseguiu, pelo menos, que o líder da Igreja Católica enviasse uma mensagem ao encontro da nata da finança e da política que todos os anos se realiza na estância suíça de Inverno. E o Papa não desiludiu os que vêem nele o portador de uma ideia de ruptura, ao defender que é preciso “assegurar que a humanidade é servida pela riqueza e não governada por ela”.

A mensagem do Papa Francisco foi lida por pelo cardeal Peter Turkson, presidente do Conselho Pontifical para a Paz e a Justiça, na noite de terça-feira. Estava-se no arranque de mais uma edição do Forum de Davos, onde um dos temas em discussão é precisamente o aprofundamento das desigualdades no mundo, na sequência da crise económico e financeira.

Num apelo directo aos líderes de negócio mundiais, o chefe da Igreja Católica defende que o esbatimento das desigualdades “exige algo mais do que crescimento económico, embora o pressuponha”. E acrescenta que são precisas “decisões, mecanismos e processos dirigidos a uma melhor distribuição da riqueza, criação de fontes de emprego e uma promoção dos mais pobres que vá além de uma mentalidade caritativa”.

No estudo que o Forum elaborou para a edição deste ano, avisa-se que o aprofundamento das desigualdades no mundo pode conduzir a rupturas sociais e lança-se um alerta para os problemas da chamada lost generation, a dos jovens que se vêem sem futuro.

O problema do desemprego foi abordado no forum por Axel Weber, antigo líder do Bundesbank e actual presidente-executivo do banco suíço UBS. Weber defendeu que a zona euro entrou em ritmo de recuperação, mas ainda muito lento - "de 1% ou menos" -, que é ainda insuficiente para gerar emprego a um nível satisfatório. E alertou que a força da retoma enfrenta riscos que não devem ser desconsiderados.

Weber chama a atenção para as próximas eleições europeias, que podem reforçar as fileiras dos eurocépticos nas bancadas do Parlamento Europeu e dificultar as condições de governação no espaço da moeda única. "Vejam como o Tea Party afectou a administração norte-americana", lembrou.

Outro problema são os testes que vão ser feitos à saúde financeiras dos grandes bancos europeus e à qualidade dos seus activos, para que a união bancária possa seguir em frente. "Este processo pode fazer regressar dúvidas sobre os bancos e, se elas reemergirem, então regressarão também as preocupações sobre as dívidas soberanas, porque são as dívidas soberanas que irão colocar os bancos em complicações, não os mercados".

A intervenção do ministro das Finanças da Índia foi também seguida com muita atenção, porque trouxe ao debate uma linha de preocupação que é extensível a vários países emergentes. É a da mudança de rumo da política da Reserva Federal norte-americana, que tem conduzido a um regresso dos investidores financeiros às praças dos Estados Unidos.

O responsável, Palaniappan Chidambaram, afirmou, no entanto, que o seu país estava claramente "preocupado" em Maio, mas fez entretanto o trabalho de casa e está agora mais preparado para enfrentar o processo. Consolidação fiscal, captação de investimento produtivo estrangeiro e novas medidas de estabilização dos mercados de capitais foram a receita.
 
 
 
 
 
 
 
 

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