NSA está a trabalhar em computador capaz de decifrar maior parte dos códigos de segurança

Físicos e informáticos consideram pouco provável que a agência esteja a ponto de criar um tal computador sem que a comunidade científica disso tenha conhecimento.

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NSA também aposta no computador quântico Kai Pfaffenbach/Reuters

A Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos (NSA) está a tentar criar um “computador quântico”, revelou o jornal Washington Post, com base em documentos divulgados pelo ex-analista informático Edward Snowden.

Estes computadores — que ainda não existem e ninguém sabe quando poderão existir —, seriam capazes de decifrar a maior parte dos sistemas de encriptação e códigos de segurança existentes, revelou o Washington Post, com base em documentos divulgados pelo ex-analista informático Edward Snowden.

O princípio básico da computação quântica é a superposição quântica, que diz que um objecto existe parcialmente em todos os estados teoricamente possíveis ao mesmo tempo antes de ser medido. Só quando há uma intervenção exterior é que o sistema se mostra num único estado — na alegoria clássica, quando alguém abre a caixa para ver se o gato de Shrödinger está morto ou vivo. Enquanto um computador normal usa bits binários — 0 ou 1 —, um computador quântico utilizará qubits, que serão simultaneamente 0 e 1, e por isso transportarão muito mais informação e fazem cálculos muito mais rápidos.

Segundo o Washington Post, esperar-se-ia que um computador quântico pudesse descodificar as chaves das mais poderosas ferramentas de encriptação actuais, inclusivamente da denominada RSA (por causa das iniciais dos seus criadores), que torna as comunicações impossíveis de ler a quem não tenha uma password. Esta chave RSA, que se baseia em cálculos com números primos, é usada normalmente nos browsers para proteger as transacções financeiras e também para encriptar os emails.

O computador, que poderá levar anos a desenvolver, permitiria à NSA, segundo os documentos, decifrar códigos informáticos que protegem segredos bancários, médicos e informações governamentais e empresariais.
O jornal norte-americano escreve que o projecto de desenvolvimento do computador quântico faz parte de um programa de investigação designado “Penetrating Hard Targets ” (Entrar em Alvos Difíceis).

Grandes empresas de informática, como a IBM, e laboratórios apoiados pela União Europeia e pela Suíça têm em curso há anos projectos de desenvolvimento de computadores quânticos, tentam há muito desenvolver um computador quântico para aumentar a velocidade e segurança dos processadores. Mas a tecnologia ainda não avançou o suficiente — embora algumas empresas, como a canadiana D-Wave Systems, digam que estão já a produzir computadores quânticos, e tenham vendido já algumas versões à Google e à NASA, diz o Washington Post.

Físicos e informáticos consultados pelo jornal Washington Post consideram pouco provável que a NSA esteja a ponto de criar um tal computador sem que a comunidade científica disso tenha conhecimento.“Parece pouco provável que a NSA esteja tão à frente das empresas civis sem que ninguém saiba”, disse ao Post Scott Aaronson, do Instituto de Tecnologia doe Massachusetts (MIT). A NSA não respondeu a um pedido de comentário da AFP sobre o assunto.

Há uma década, especialistas garantiam que o computador quântico poderia chegar num espaço de dez a 100 anos. Há cinco consideravam que, para ser construído, seriam precisos pelo menos outros dez, recorda o jornal.

No ano passado, Jeff Forshaw, da Universidade de Manchester, disse ao jornal britânico The Guardian que é difícil fazer previsões. “Provavelmente é cedo de mais para começar a especular quando é que teremos o primeiro computador quântico completo, mas progressos recentes dão-nos razões para estarmos optimistas.”

Agora, em declarações ao Post, sobre o computador em que a NSA estará a trabalhar, Forshaw manteve-se céptico. “Acho pouco provável que dentro de cinco anos possa existir o tipo de computador que a NSA deseja. E se não houver nenhum avanço significativo entretanto, talvez demore ainda muito mais tempo.”

A notícia surge numa altura em que aumentam as vozes em defesa de Edward Snowden. Na quinta-feira, os jornais New York Times e Guardian apelaram ao Governo dos Estados Unidos para que trate Snowden como informador e se lhe conceda alguma forma de clemência.

“Considerando a enorme valia da informação que divulgou, e os abusos que revelou, o Sr. Snowden merece melhor do que uma vida de exílio permanente, medo e fuga. Pode ter cometido um crime para o fazer, mas prestou um grande serviço ao seu país”, escreveu o diário norte-americano.

Snowden, que em vésperas de Natal deu uma entrevista ao Washington Post, está refugiado na Rússia, depois de ter desviado cerca de 1,7 milhões de documentos altamente secretos sobre o programa de vigilância da administração norte-americana e de divulgar parte da informação neles contida a alguns jornais de referência.

Esses documentos revelaram a intercepção secreta de tráfego telefónico e de Internet a nível global. Foi divulgada a vigilância de cidadãos em larga escala — com dados como hora, duração e tema das comunicações, embora não o conteúdo — e também de líderes estrangeiros, como a chanceler alemã Angela Merkel e a Presidente brasileira Dilma Rousseff.
 
 
 
 

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