Dona da Sagres avança com despedimentos nas Caldas da Rainha

Trabalhadores da antiga Sodicel, que faz a distribuição de bebidas, serão despedidos ou transferidos para Leiria ou Malveira.

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Empresa tem apostado no controlo da distribuição NFactos/LUIS EFIGÉNIO

A Central de Cervejas vai encerrar em Fevereiro o centro logístico que passou a deter nas Caldas da Rainha desde que em Novembro de 2012 adquiriu a actividade de distribuição de bebidas da Sodicel. Esta empresa de Leiria tem 230 trabalhadores, dos quais 48 nas Caldas da Rainha, devendo ser despedidos pelo menos 18.

Os restantes serão transferidos para Leiria ou Malveira, ficando apenas 12 na cidade por se tratarem de comerciais que não necessitam de ir ao escritório todos os dias.

A Sodicel foi criada em 1959 e era até ao ano passado uma das maiores distribuidoras de bebidas do país, com uma carteira de clientes de 10 mil estabelecimentos de restauração e bebidas. Paralelamente dedica-se também ao imobiliário e construção civil, mas só a parte da distribuição de bebidas foi adquirida pela Central de Cervejas, assumindo os trabalhadores e activos da empresa.

A marca Sodicel manteve-se, mas a operação passou a ser desenvolvida pela RND – Rede Nacional de Distribuição, que pertence à Central de Cervejas. Em Novembro passado, os trabalhadores da empresa leiriense foram convidados para uma festa onde lhes foi apresentada a marca Novadis, nome pelo qual passaria a ser conhecida a RND.

Apesar da dinâmica positiva então transmitida aos trabalhadores, agora integrados no seio do grupo Central de Cervejas (dona de marcas como a Sagres e que pertence à multinacional holandesa Heineken), um mês depois, os que estavam afectos às Caldas da Rainha receberam as primeiras cartas de despedimento ou convites para serem transferidos.

Nuno Pinto de Magalhães, director de comunicação da Central de Cervejas, diz que a decisão de encerrar este posto de distribuição se deve a uma redefinição da rede logística da RND que em breve vai também substituir-se a outros operadores independentes de distribuição e cobrir os distritos de Lisboa e Setúbal. Desde modo, a armazenagem das bebidas será centralizada em Leiria, Santarém e Malveira.

A empresa tem adoptado um estratégia contrária ao outsourcing, aumentando a sua fileira de produção através do negócio da distribuição de bebidas que ela própria produz.

O mesmo responsável explicou ainda que as instalações na zona industrial das Caldas da Rainha pertencem à antiga Sodicel, cujo proprietário o arrendou à Central de Cervejas por um preço que classificou de “muito alto”, sem contudo precisar. Como o contrato de arrendamento expira em Fevereiro, a empresa optou por não o renovar.

Questionado sobre se esta mesma decisão tinha sido tomada na Holanda ou em Portugal, Nuno Pinto de Magalhães respondeu que “estas decisões são assumidas pela gestão da Sociedade Central de Cervejas, empresa portuguesa, com sede social em Portugal, cuja comissão executiva é maioritariamente constituída por portugueses”. O CEO da Central de Cervejas é o holandês Ronald den Elzen.

A Sodicel trabalhou desde 1959 com a Central de Cervejas, distribuindo a cerveja Sagres e água do Luso, e mais tarde a Coca-Cola e cerveja Heineken, tendo começado a actividade no distrito de Leiria, estendendo-a depois aos de Castelo Branco, Santarém e Lisboa.

Quando trespassou a sua actividade ao também seu principal fornecedor e cliente, tinha um passivo bancário de 9,6 milhões e apresentou um Plano Especial de Revitalização (PER) no qual, tal como o PÚBLICO já noticiou, acusava a Central de Cervejas de abuso de posição dominante. Segundo o documento então apresentado ao Tribunal Judicial de Leiria, a Sodicel fora praticamente forçada a alienar essa actividade em virtude da pressão exercida pela dona da cerveja Sagres. A Central de Cervejas refutou essa ideia e garantiu que se rege “pelo cumprimento escrupuloso de todas as normas legais em vigor”.
 
 
 
 

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