Erdogan ameaça expulsar embaixadores estrangeiros

A quatro meses das eleições municipais, escândalo de corrupção abala Governo turco.

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Erdogan acusa a oposição de conspirar para o prejudicar Umit Bektas/Reuters

Pressionado por um escândalo de corrupção que envolve os filhos de dois ministros que são seus aliados próximos, o primeiro-ministro turco avisou este sábado que poderá expulsar alguns embaixadores estrangeiros, envolvidos em “acções de provocação”.

“Certos embaixadores estão empenhados em acções de provocação", afirmou Recep Tayyip Erdogan. “Apelo-vos, façam o vosso trabalho, se deixam a vossa área de responsabilidade podem entrar na área de jurisdição do nosso Governo”, acrescentou, numa intervenção perante apoiantes na província de Samsun, no Mar Negro. “Não somos obrigados a manter-vos no nosso país.”

Erdogan não nomeou ninguém mas estaria a pensar no embaixador norte-americano, Francis Ricciardone, que já desmentiu qualquer papel na investigação sobre os casos de corrupção.

Alguns media pró-governamentais noticiaram que o enviado de Washington pedira ao banco público Halbank para cortar todos os laços com o Irão por causa das sanções internacionais contra o país. Foram esses mesmos laços que acabaram sob suspeita. No maior de dois processos paralelos, todos os detidos são suspeitos de corrupção, fraude e branqueamento de capitais em vendas de ouro e transacções financeiras entre a Turquia e o Irão.

Foi essa a investigação que já levou à acusação e detenção dos filhos de dois ministros e que não pára de se alargar. Ao todo, 24 pessoas já foram acusadas. Para além dos filhos dos ministros do Interior, Muammer Güler, e da Economia, Zafer Caglayan, colocados sob detenção sábado de manhã, estão detidos o presidente do conselho de administração do banco público Halk Bankasi, Suleyman Aslan, e o empresário Reza Zerrab.

Um segundo grupo de suspeitos num outro processo foi deixado em liberdade enquanto as investigações avançam. Aqui inclui-se, por exemplo, o presidente do município de Fatih, da grande Istambul, Mustafa Demir, que é membro do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), de Erdogan, suspeito de corrupção em dois casos que envolvem o mercado de imobiliário.

Como fez no Verão, durantes os protestos nacionais sem precedentes desencadeados pela intenção de destruir um parque no centro de Istambul, Erdogan insiste na teoria da conspiração e acusa o “Estado profundo” (que o AKP acredita incluir parte da oposição kemalista, as Forças Armadas e o poder judicial) de estar na origem de uma “operação suja” com o objectivo de o denegrir.

O presidente do principal partido da oposição, o Partido Republicano do Povo (CHP), Kemal Kiliçdaroglu, exigiu na sexta-feira a demissão do primeiro-ministro, que descreveu como “ditador”. “A Turquia precisa de uma classe política e de uma sociedade limpas.”

 
 
 

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