Presidente da Ucrânia discutiu "parceria estratégica" com Putin antes de voltar a Kiev

Governo deu ultimato para manifestantes saíram das ruas, mas há novos protestos marcados para domingo.

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Manifestante com um velho capacete militar GENYA SAVILOV/AFP
Os edifícios governamentais estão bloqueados pelos manifestantes
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Os edifícios governamentais estão bloqueados pelos manifestantes VIKTOR DRACHEV/AFP
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Vêem-se manifestantes com ícones da Igreja Ortodoxa Stoyan Nenov/REUTERS
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Manifestants frente ao edifício sede do Governo VIKTOR DRACHEV/AFP
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Yanukovich foi à China em busca de investimentos WANG ZHAO/AFP
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O edifício da Câmara Municipal de Kiev está ocupado pelos manifestantes Stoyan Nenov/REUTERS

Viktor Ianukovich, o Presidente da Ucrânia, encontrou-se com Vladimir Putin antes de regressar à Ucrânia, da sua viagem à China, onde foi em busca de investimentos, e discutiu “questões de cooperação comercial e económica em diferentes sectores da economia” – provavelmente, será o esperado contraponto por dizer “não” a assinar o acordo comercial com a União Europeia.

Não transpirou ainda grande coisa do encontro em Sotchi, no Sul da Rússia, mas o comunicado colocado no site da presidência ucraniana é sugestivo: os dois chefes de Estado falaram "na preparação de um futuro acordo de parceria estratégica". A Ucrânia precisa de ajuda para cumprir em 2014 o pagamento de 17 mil milhões de dólares de empréstimos contraídos com a Rússia e também da conta do gás natural que lhe é fornecido por Moscovo. Este novo acordo pode ser uma forma de compensar estas dívidas e premiar o facto de Kiev ter voltado costas à União Europeia, com que negociava a entrada na Parceria Oriental.

O primeiro-ministro ucraniano Mikola Azarov adiantou que ele próprio visitará Moscovo para assinar um grande número de documentos – sem especificar quando, diz a Reuters. “Estamos a falar um grande acordo”, afirmou.

Em Kiev, a situação tem-se deteriorado, e o encontro em Sotchi dará mais argumentos aos que acusam o Presidente de ter trocado a modernização do país e o seu percurso europeu por dinheiro rápido e algum tempo de fornecimento de gás.

O Governo fez um ultimato aos manifestantes para deixarem as ruas – o primeiro-ministro Mikola Azarov chamou-lhes “nazis e criminosos” e o chefe da polícia de Kiev ameaçou “actuar de “forma decisiva e dura” se desafiarem a ordem judicial para acabarem com o bloqueio aos edifícios governamentais e a ocupação da sede da câmara municipal da capital.

Mas os manifestantes não dão sinal de quebrar, antes pelo contrário, mesmo com a neve a cair. Apelaram a uma nova grande manifestação no domingo, às 10h00 (hora de Portugal continental) na Praça da Independência.

Ontem, no entanto, Governo e oposição chegaram a acordo para autorizar uma investigação sobre a violenta repressão policial das manifestações de 30 de Novembro e 1 de Dezembro, em que 100 pessoas precisaram de tratamento hospitalar, sob a égide do Conselho da Europa. O primeiro-ministro e os três principais partidos da oposição aceitaram a proposta. "Todas as partes terão de aceitar as conclusões" da investigação, afirmou o secretário-geral do Conselho de Europa, uma organização pan-, Thorbjorn Jagland. A comissão de inquérito incluirá um membro designado pela oposição, outro pelo Governo e outro pela comunidade internacional.

A polícia ucraniana actuou com força excessiva sobre os manifestantes nos protestos dos últimos dias em Kiev, afirmou esta sexta-feira a Human Rights Watch (HRW). Pessoas que participavam pacificamente nas manifestações, assim como jornalistas, foram espancadas pela polícia, que utilizaram bastões e deram pontapés, de acordo com as testemunhas ouvidas pela HRW.

Nos últimos dias, os manifestantes receberam fortes apoios, entre eles dos ex-presidentes da República ucranianos – incluindo Leonid Kuchma, o mentor político de Ianukovich –, do patriarca da Igreja Ortodoxa ucraniana e também da União Europeia..

A ex-primeira-ministro Iulia Timochenko, entrentanto, anunciou que tinha parado a greve de fome, "a pedido do povo". Condenada a sete anos de prisão, num processo considerado político, Timochenko tinha entrado em greve de fome em protesto contra a decisão do Governo de não assinar o acordo com a União Europeia.
 

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