Bruxelas mantém projecção de retoma da economia europeia a partir de 2014

Vários países viram as suas previsões agravadas face ao relatório da Primavera.

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O aumento da capacidade de produção é o principal objectivo dos investimentos Daniel Rocha

As previsões de Outono da Comissão Europeia, divulgadas nesta terça-feira, “confirmam” as projecções da Primavera, no sentido de um regresso ao crescimento da economia europeia em 2014, de 1,4% na União Europeia (UE) e de 1,1% na zona euro.

No entanto, as previsões de Bruxelas apontam também para que a taxa de desemprego na Europa atinja este ano níveis recorde (12,2% na zona euro e 11,1% no conjunto da União) e o cenário não melhore em 2014 (o mesmo valor de 12,2% para os países do euro e um ligeiro recuo na média dos 28, para 11,0%), razão pela qual a Comissão considera ser “demasiado cedo para declarar vitória” sobre a crise.

Além do mais, adverte o executivo comunitário, a retoma gradual da economia europeia – que Bruxelas sustenta estar já em marcha desde o segundo trimestre deste ano, embora 2013 vá fechar com um recuo de 0,4% na economia da zona euro e um crescimento nulo (0,0%) na UE – está condicionada por riscos externos, em particular um cenário de fraco crescimento das economias emergentes.

A Comissão acredita, todavia, que depois de uma expansão, “fraca e ainda vulnerável”, da actividade económica da Europa na recta final de 2013, a economia europeia conhecerá um crescimento gradual mais robusto em 2014 e 2015, assente num aumento da procura doméstica.

As previsões de Outono da Comissão Barroso apontam para um crescimento de 1,1% do produto interno bruto (PIB) da zona euro em 2014 e de 1,7% em 2015, e de 1,4% na UE no próximo ano, seguido de um avanço de 1,9% no ano seguinte, basicamente de acordo com as suas previsões da Primavera (divulgadas há seis meses, em Maio), quando antecipava para 2014 um crescimento de 1,2% na zona euro e de 1,4% no conjunto da União.

Já quanto ao desemprego, o cenário é desencorajador, com a Comissão a prever que a taxa se fixe nos 12,2% na zona euro este ano e em 2014 e nos 11,1% na UE em 2013 e nos 11,0% em 2014 (estimativas praticamente idênticas às de há seis meses), assistindo-se a um declínio – e ainda assim muito modesto – apenas em 2015, para valores na ordem dos 11,8% de desemprego no espaço monetário único e de 10,7% na UE, mas persistindo grandes diferenças entre os Estados-membros.

Relativamente à inflação, Bruxelas projecta para este ano taxas de 1,5% na zona euro (valor que se manterá em 2014) e de 1,7% na UE (com um ligeiro recuo para 1,6% no próximo ano) – valores ligeiramente abaixo das previsões da Primavera, de 1,6 e 1,8%, respectivamente.

Num primeiro comentário a estas projecções, o comissário europeu dos Assuntos Económicos, Olli Rehn, defendeu que “há sinais crescentes de que a economia europeia atingiu um ponto de viragem” e que “a consolidação orçamental e as reformas estruturais levadas a cabo na Europa criaram as bases para a retoma”.

“Mas é demasiado cedo para declarar vitória: o desemprego permanece em níveis inaceitavelmente elevados, e é por isso que temos de continuar a trabalhar para modernizar a economia europeia, com vista à criação de emprego e a um crescimento sustentável”, declarou Rehn.

Diferentes velocidades
Quanto aos países, a Comissão Europeia, CE, aponta para crescimento moderado em Espanha, reduz as previsões para a Irlanda e agrava a estimativa de contracção da economia italiana.

A Comissão considera que a economia espanhola está a registar “perspectivas de uma recuperação moderada” num cenário em que os ajustes nos desequilíbrios vão continuar, ainda que de forma mais moderada. Sinais que levam as autoridades europeias a serem mais pessimistas que Madrid nas perspectivas sobre crescimento económico, défice e desemprego.

Depois de em Maio, nas previsões económicas da Primavera, a CE ter até agravado as previsões para Espanha, agora melhora as perspectivas tanto para este ano (com uma contracção de 1,3% do PIB, ou menos duas décimas que há cinco meses), como para os próximos dois anos.
Assim, para 2014 a CE prevê um crescimento do PIB de meio ponto percentual que alcançará 1,7% em 2015, impulsionado em parte pelo menor recuo do consumo interno e pelo forte crescimento das exportações (mais 5,2% em 2014 e mais 5,7% no ano seguinte).
Esta previsão é duas décimas mais pessimista do que a do Governo espanhol, que no quadro macroeconómico do Orçamento do Estado para 2014 antecipa um crescimento do PIB de 0,7%, valor que o executivo insiste estar “em linha com o consenso dos especialistas”.

O desemprego deverá ficar praticamente inalterado em 2014, em torno aos 26,4% (apenas menos uma décima que este ano) e em 2015 ainda afectará 25,3% dos trabalhadores (mesmo num cenário de crescimento económico de 1,7%).

Também Itália viu as suas previsões para 2013 revistas em baixa, estimando uma contracção do PIB de 1,8%, contra os 1,3% avançados nas previsões da Primavera.

As previsões apontam também para uma maior contraçcão da economia italiana em 2012 (cujos valores ainda não estão apurados), de -2,4% para -2,5%.

Para 2014 e 2015, Bruxelas mantém a expectativa de comportamento positivo da economia de Itália, estimando um crescimento de 0,7% e 1,2% do PIB, respectivamente.

Relativamente ao desemprego, a Comissão Europeia agrava as previsões do comportamento da taxa de desemprego em 2013 para 12,2% (dos 11,8% estimados em Maio), num valor comparável com a taxa de 10,7% observada em 2012.

Para 2014, Bruxelas agrava também as suas previsões, fazendo subir a taxa de desemprego em Itália até aos 12,4% (face aos 12,2% estimados na Primavera).

Turismo relança Grécia
Já no caso da Grécia, o turismo está a contribuir para a recuperação da economia, que parece ter tocado fundo este ano e que em 2014 regressará ao crescimento, depois de vários anos de recessão.

A CE antecipa um crescimento do PIB de 0,6% em 2014 e de 2,7% em 2015, depois dos recuos recorde de 7,1% em 2011, de 6,4% em 2012 e de 4% este ano.

O forte aumento das exportações previsto para os próximos dois anos – crescimentos de 2,5% e de 4,6% – ajudam este cenário económico num quadro em que o sector do turismo deu os primeiros sinais da crescente competitividade da economia grega.

No que toca ao défice, as previsões para a Grécia mostram as contas públicas a melhorarem dos valores negativos de 13,5% do PIB este ano para apenas 2% do PIB em 2014 e 1,1% em 2015.

As previsões para os próximos dois anos neste capítulo são assim de défices abaixo da média da zona euro que será, respectivamente, de 2,5% e de 2,4% do PIB.

Muito negativa continua a ser a dívida pública total, que continua a registar recordes, passando dos 156,9% do PIB em 2012 para os 176,2% do PIB este ano (mais um ponto percentual do que se previa em Maio) e para os 175,9% em 2014, caindo em 2015 para os 170,9% do PIB.

O relatório antecipa também melhorias no problema do desemprego, que descerá em 2014 e 2015 abaixo do nível de Espanha, tirando a Grécia pela primeira vez do topo do ranking mais dramático da crise europeia.

As previsões apontam, assim, para que o desemprego caia dos 27% este ano para 26% em 2014 e para 24% em 2015, valor este que não se registava desde 2012.

Também a Irlanda viu as suas previsões agravadas, antecipando-se um crescimento menor no próximo ano, de 1,7%, e algumas pressões adicionais que podem representar riscos para a recuperação do país.

Em Maio, no boletim da Primavera, a CE antecipava um crescimento de 2,2% no próximo ano, tendo, agora, referido a existência de riscos adicionais que podem condicionar o comportamento económico.
Agora Bruxelas antecipa melhorias no consumo privado e um aumento das exportações (mais 2,5% em 2014 e mais 3,7% em 2015), o que contribui para a expansão do PIB.

As previsões dão conta de melhorias em vários indicadores, incluindo a taxa de desemprego, que deverá este ano terminar nos 13,3%, abaixo dos valores de 2010, melhorando para 12,3% em 2014 e para 11,7% no ano seguinte.

O défice das contas públicas, que este ano deverá ser de 7% do PIB, deverá melhorar dois pontos percentuais por ano nos próximos dois anos, para 5% em 2014 e para 3% em 2015, com reduções também na dívida pública (124,4% este ano, 120,8% em 2013 e 119,1% em 2015).

Alemanha segue firme e forte
Por seu lado, o PIB da Alemanha deverá aumentar 0,5% em 2013 e 1,7% em 2014. Com estas estimativas e em relação às previsões da Primavera, Bruxelas reviu em alta o crescimento da maior economia europeia em 2013, e em baixa o de 2014.

Em relação a 2014, Bruxelas sustenta que a economia alemã deverá crescer 1,7%, em vez de 1,8%, devido a uma moderação do aumento das exportações por causa de uma desaceleração das economias não pertencentes à União Europeia.

O crescimento da economia será sustentado pela procura interna, que será suportada por baixas taxas de juro, subida dos salários e um robusto aumento do emprego, adianta a CE. Para 2015, Bruxelas prevê uma taxa de 1,9% do PIB da Alemanha.

Em relação ao mercado laboral, a CE afirma que a taxa de desemprego está em níveis mínimos e que deverá manter a tendência para descer ainda mais em 2014 e 2015.

Já França vai falhar a redução do défice público para níveis abaixo dos 3% até 2015, segundo Bruxelas, que aponta para défices de 4,1% este ano, de 3,8% em 2014 e de 3,7% em 2015.

Em contrapartida, as previsões consideram que o PIB da França vai aumentar 0,2% este ano, depois de terem apontado na Primavera para uma diminuição de 0,1% do PIB em 2013.
Para 2014 e 2015, Bruxelas prevê um aumento do PIB de França de 0,9% e de 1,7%, respectivamente.

Em relação ao défice público, Bruxelas prevê que Paris fique acima dos objectivos fixados para a França pela Comissão, que deu um prazo até 2015 para Paris regressar a défices inferiores a 3% do PIB.

Em relação ao desemprego, a Comissão prevê uma taxa de 11% em 2013, de 11,2% em 2014 e de 11,3 em 2015.

A CE reviu ainda em alta as previsões de crescimento para a economia do Reino Unido em 2013, estimando um crescimento do PIB de 1,3%, contra os 0,6% avançados nas previsões de Primavera.

As previsões melhoram também as estimativas de crescimento para 2014, feitas em Maio, de 1,7% do PIB para 2,2% do PIB.
Para 2015, Bruxelas espera que o crescimento da economia do Reino Unido chegue aos 2,4%.

A Comissão Europeia justifica a melhoria das perspectivas feitas para a economia do Reino Unido com o melhor desempenho do consumo privado e a queda gradual da inflação.

“O investimento também deverá crescer mais acentuadamente na segunda metade do ano, com o acesso ao crédito a melhorar e a incerteza a regredir mais”, refere.

Relativamente ao desemprego, a Comissão Europeia melhora também as perspectivas avançadas em Maio, esperando uma taxa de desemprego em 2013 de 7,7%, face aos 8% anteriores, de 7,5% em 2014 (7,9% em Maio) e 7,3% em 2015.
 
 

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