Escolas têm 3500 portáteis Magalhães que nunca foram levantados pelos pais

Ministério diz que pais inscreveram-se mas depois não foram buscar os computadores. Estes vão ser cedidos às escolas.

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O e.escolinhas previa a distribuição de computadores Magalhães por todos os alunos do 1º ciclo Cláudia Andrade/Arquivo

Dois anos após a suspensão do programa e.escolinhas, criado para distribuir portáteis pelos alunos do 1º ciclo, ainda existem 3435 Magalhães nas escolas, segundo dados avançados à Lusa pelo Ministério da Educação e Ciência (MEC).

“Esses computadores novos correspondiam a inscrições que não se traduziram na aquisição efectiva por parte dos pais e encarregados de educação”, explicou o MEC.

De acordo com o ministério, “grande parte” destes portáteis serão cedidos aos agrupamentos de escolas para actividades pedagógicas em sala de aula.

O problema é que é também pouco habitual ver docentes ou alunos a utilizar os computadores que existem nos estabelecimentos de ensino. Segundo vários responsáveis escolares contactados pela Lusa, os Magalhães há muito que desapareceram das mochilas dos estudantes e são raras as vezes em que os professores decidem usá-los na sala de aula.

No Agrupamento de Escolas General Serpa Pinto, há 50 portáteis mas “raramente são requisitados porque não existe wireless nas escolas”, lamentou Olga Lemos, adjunta da direcção do agrupamento de Cinfães, que tem 34 turmas do 1º ciclo.

Uma situação que também se verifica nas escolas com internet: no Agrupamento de Escolas de Benfica, por exemplo, os alunos do 1º ciclo raramente usam os Magalhães, garantiu Manuel Esperança, responsável pelo agrupamento lisboeta e presidente do Conselho de Escolas.

Já os cerca de 20 portáteis do Agrupamento de Escolas Dr. Costa Matos, em Gaia, nunca foram usados. Segundo o responsável pelas escolas, Filinto Lima, os computadores ainda estão embalados à espera que lhes seja definido um destino.

“Os pais requisitaram os Magalhães mas depois nunca os vieram levantar e eles foram ficando nas escolas”, disse Filinto Lima, que é também vice-presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP).

O Ministério da Educação diz que os portáteis estão a ser redistribuídos pelas escolas que necessitam e que os portáteis vão permitir dar “maior liberdade para a realização de actividades pedagógicas com recurso às TIC (disciplina de Tecnologias de Informação e Comunicação), permitindo a criação de oficinas e espaços próprios de apoio às actividades letivas e às AEC”.

Em resposta à Lusa, o MEC lembrou ainda que esta redistribuição de portáteis “vai além do que era permitido com a cedência anterior”, ou seja, “um computador por cada turma do 1º ciclo do ensino básico”.

O MEC diz que nas escolas onde o número de computadores novos existentes é demasiado elevado, será feita a “sua recolha para nova redistribuição e/ou cedência às escolas portuguesas no estrangeiro”.

O e.escolinhas previa a distribuição de computadores Magalhães por todos os alunos do 1º ciclo. O programa começou em 2009 e permitia aos alunos ter um portátil por apenas 50 euros, sendo gratuitos para os estudantes do primeiro escalão da Acção Social Escolar.

A distribuição de Magalhães foi suspensa em 2011, mas continuam a ser vendidos em sites de material usado: só no último mês foram colocados mais de mil anúncios de portáteis e peças de Magalhães num dos maiores sites de venda online, segundo uma pesquisa feita pela Lusa.