Governo do Egipto desiste de ilegalizar Irmandade Muçulmana

Primeiro-ministro afirma em entrevista que "é errado tomar decisões em momentos de turbulência".

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Protestos dos apoiantes de Morsi na semana passada no Cairo Muhammad Hamed/Reuters

O Governo do Egipto voltou atrás no seu plano para ilegalizar a Irmandade Muçulmana, uma ideia avançada pelo primeiro-ministro interino Hazem el-Beblawi no rescaldo da repressão violenta dos protestos de apoiantes do Presidente deposto, Mohamed Morsi, no Cairo.

“A dissolução do partido ou do grupo não é a solução [para a crise política do país]. É errado tomar decisões em momentos de turbulência”, reconsiderou o primeiro-ministro, numa entrevista concedida aos meios estatais na terça-feira à noite, e citada pela agência de notícias MENA.

“O que é melhor para todos é monitorizar os partidos e os grupos dentro do quadro da acção política, e não levá-los a actuar em segredo”, disse El-Beblawi.

O aparente volte-face do Governo relativamente ao “estatuto” da Irmandade Muçulmana – e ao seu braço político do partido Justiça e Liberdade – levou a especulações de que os novos líderes egípcios teriam desistido da repressão dos islamistas e estariam a dispostos a reconsiderar a sua participação nas negociações políticas.

A proposta de ilegalização da Irmandade Muçulmana, que o Exército classifica como uma rede de “terroristas maliciosos”, foi entregue há apenas duas semanas ao ministro dos Assuntos Sociais, que tem a responsabilidade pelo licenciamento de organizações não-governamentais.

O Governo também sugerira ao comité de juristas que foi encarregado de supervisionar a revisão das emendas à Constituição do país – suspensa após a deposição de Mohamed Morsi pelos militares, a 3 de Julho – a inclusão de um artigo a proibir a formação de partidos com base confessional.

Fundado em 1928, o movimento da Irmandade Muçulmana foi ilegalizado em 1954 pelos líderes militares do Egipto, mas não deixou de operar na clandestinidade, tendo montado uma rede de apoio dos seus apoiantes islamistas. Em 2011, após a queda do ditador Hosni Mubarak, os irmãos finalmente lograram registar o partido Justiça e Liberdade, que foi a força política mais votada nas cinco eleições realizadas no Egipto desde então.

A contestação ao Presidente islamista Mohamed Morsi, ao fim de um ano de Governo, motivou o Exército a tomar mais uma vez as rédeas do poder no Egipto, com o chefe das Forças Armadas, general Abdel-Fattah al-Sissi, a decretar a dissolução do Governo e a nomear um executivo de transição até à convocação de eleições legislativas e presidenciais.

Morsi foi detido pelo Exército, que subsequentemente capturou o líder da Irmandade Muçulmana, Mohamed Badie, os seus dois adjuntos, Khairat al-Shater e Rashad Bayoumi, e vários outros dirigentes do movimento. Estão acusados por crimes de terrorismo e “incitamento à morte de manifestantes”.
 
 
 
 

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