França exige aos EUA que "cessem imediatamente" espionagem na Europa

Presidente francês diz que Paris "não aceitará este tipo de comportamento entre aliados". Secretário de Estado norte-americano promete investigar e responder quando "descobrir exactamente qual é a situação".

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François Hollande disse que o país "não aceitará" as actividades dos serviços secretos norte-americanos BERTRAND LANGLOIS/AFP

O Presidente francês, François Hollande, exigiu aos Estados Unidos que "cessem imediatamente" as actividades de espionagem na União Europeia e afirmou que Paris "não aceitará este tipo de comportamento entre aliados".

"Há elementos suficientes para que possamos exigir explicações", declarou Hollande, à margem da inauguração de um hospital em Lorient.

Também nesta segunda-feira, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, recusou-se a comentar as acusações de espionagem da NSA em instituições e países da União Europeia, mas afirmou que muitas nações "desenvolvem várias actividades para protegerem a sua segurança nacional", algo que considera ser "comum".

"Posso dizer que todos os países do mundo que estão envolvidos em questões internacionais, de segurança nacional, desenvolvem várias actividades para protegerem a sua segurança nacional, e todo o tipo de informação contribui para isso. Tudo o que sei é que isso é comum em várias nações", disse Kerry no final de uma reunião com a responsável pela política externa da União Europeia, Catherine Ashton, que decorreu na capital do Brunei.

Ashton questionou o seu homólogo norte-americano sobre as notícias avançadas no fim-de-semana pela revista alemã Der Spiegel e pelo jornal britânico The Guardian, feitas com base em informações divulgadas por Edward Snowden, o antigo analista e consultor de sistemas informáticos da CIA e da NSA que revelou o programa secreto de vigilância electrónica conhecido como PRISM, no início de Junho.

De acordo com as notícias, os serviços secretos dos Estados Unidos interceptaram os sistemas de telecomunicações e a rede informática das representações da União Europeia em Washington e em Bruxelas; a sede das Nações Unidas, em Nova Iorque; embaixadas de países aliados, como França, Itália e Grécia; e registam dados sobre milhões de chamadas telefónicas, mensagens de texto e de correio electrónico em vários países europeus, entre os quais a Alemanha.

O secretário de Estado norte-americano confirmou que este tema foi debatido na reunião com Catherine Ashton, mas limitou as suas declarações a uma apreciação sobre o comportamento genérico dos serviços de espionagem em todo o mundo: "Para além disso, não vou comentar nada até ter acesso a todos os factos e descobrir precisamente qual é a situação."

Mas John Kerry garantiu que os representantes da União Europeia não irão ficar sem resposta sobre as suas preocupações. "A senhora Ashton levantou a questão e nós combinámos ficar em contacto. Aceitei descobrir exactamente qual é a situação e irei voltar a falar com ela", disse o responsável, à margem de uma reunião com os ministros dos Negócios Estrangeiros da Associação das Nações do Sudeste Asiático, que está a decorrer em Bandar Seri Begawan.

A mais recente notícia sobre as actividades de espionagem norte-americana provocou uma onda de indignação entre os principais responsáveis europeus, com destaque para o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, e para a comissária europeia da Justiça, Viviane Reding – Schulz disse que, a confirmarem-se as informações, "as consequências [para as relações UE/EUA] serão tremendas"; e Reding afirmou que "não se pode negociar um grande mercado transatlântico enquanto houver a mínima suspeita de espionagem nos gabinetes" dos negociadores europeus.
 
 

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